Por várias gerações, o mar definiu a vida dos moradores da Ilha de Jean Charles, na Louisiana. A ilha de barreira, a uma hora e meia de Nova Orleans, abrigou peixes em abundância e hectares de nogueiras-pecã, e foi sustentada por sedimentos ricos dos rios da Louisiana.
Mas o mar está subindo muito rápido. A água salgada se infiltrou cobrindo mais de 90% da ilha desde 1955. A terra está afundando em toda Louisiana. A cada hora, o estado americano perde o equivalente a um campo de futebol de seu território. Políticas pobres de gestão da água desviaram rios e mataram plantas de pântano, contribuindo para boa parte dessa erosão. Mas os moradores estão enfrentando um desafio adicional: o aumento do nível do mar no mundo inteiro, como resultado das mudanças climáticas.
Encontrando maneiras de se adaptar
Em um programa inédito, o Departamento de Habitação e Desenvolvimento Urbano dos EUA separou US$ 48 milhões para construir uma nova comunidade em terrenos mais altos para as 60 ou mais pessoas que consideram a Ilha de Jean Charles seu lar. Autoridades federais esperam que, incorporando a participação da comunidade e tornando o programa voluntário, residentes com uma profunda ligação com a ilha podem fazer suas próprias escolhas sobre a possibilidade de ficar.

Conforme as mudanças climáticas causam o derretimento de mais geleiras e camadas de gelo polar da Terra — e faz com que a água dos oceanos se expanda — os níveis do mar devem subir até um metro ou mais no próximo século. A população das comunidades costeiras em todos os lugares enfrenta situações semelhantes. As mudanças climáticas podem forçar a evacuação de um número estimado de 50 milhões a 200 milhões de pessoas até 2050, de acordo com estimativas das Nações Unidas e da Organização Internacional para as Migrações.
“As mudanças estão em curso e são muito rápidas”, declarou a secretária do Interior dos EUA, Sally Jewell, em 28 de abril* durante uma visita a Ottawa, no Canadá.
Os Estados Unidos prometeram US$ 3 bilhões para o multilateral e multibilionário Fundo Climático Verde para apoiar aqueles que são mais vulneráveis às mudanças climáticas.
Nos Estados Unidos, os programas de adaptação muitas vezes concentram seus esforços na infraestrutura: construção de melhores estradas, pontes, barragens, sistemas de drenagem e muros de inundação para se preparar para as enchentes.
Mas para a Ilha de Jean Charles, era necessária uma estratégia diferente. As autoridades reconhecem a complexidade de pedir que comunidades inteiras ameaçadas pelas mudanças climáticas se desloquem. Trabalhadores do estado vão de porta em porta para falar com os moradores, muitos dos quais são membros da tribo ameríndia Biloxi-Chitimacha-Choctaw, e buscam orientação sobre o planejamento da nova comunidade.
Outros lugares nos Estados Unidos, desde a Flórida ao Alasca, estão vulneráveis à elevação do nível do mar.
“Vemos isso como um precedente para o resto do país e o resto do mundo”, disse Marion McFadden do Departamento de Habitação e Desenvolvimento Urbano dos EUA, em uma entrevista com o New York Times*.
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