
Um grupo de mulheres afro-americanas que serviram no exterior desempenhou um papel vital no apoio a seus colegas soldados do Exército dos EUA durante a Primeira Guerra Mundial e muito além.

De acordo com o livro Loyalty in Time of Trial: The African American Experience During World War I (Lealdade em tempo de provação: a experiência afro-americana durante a Primeira Guerra Mundial, em tradução livre), 23 mulheres negras da Associação Cristã de Moços (ACM)* ajudaram os 200 mil soldados afro-americanos estacionados na França.
Addie W. Hunton, Kathryn M. Johnson e Helen Curtis são as únicas mulheres conhecidas por terem feito parte do grupo que ajudou esses soldados na França enquanto a guerra prosseguia.
Naquela época, as leis Jim Crow nos Estados Unidos segregavam negros de brancos na vida cotidiana, negando aos negros seus plenos direitos como cidadãos. As forças militares dos EUA estavam sujeitas a essas leis, mesmo no exterior. Muito mais tarde, em 1948, o presidente Harry S. Truman assinou um decreto para dessegregar as Forças Armadas dos EUA, que não foram totalmente integradas até 1954.
Na França, as mulheres administravam estações de licenças para afro-americanos (onde os formulários de licenças dos soldados eram processados) e cantinas onde os soldados se alimentavam e bebiam, diz Krewasky Salter, curador associado do Museu Nacional de História e Cultura Afro-Americana, em Washington. Ele organizou a exposição sobre elas chamada “We Return Fighting: The American American Experience in First World War*” (Retornamos lutando: a experiência afro-americana durante a Primeira Guerra Mundial, em tradução livre).
As mulheres também administravam casas de recepção onde os soldados se socializavam. As mulheres acolhiam as tropas dando-lhes refeições caseiras, dando atenção a elas, organizando entretenimento saudável e cuidando das casas, diz Salter.
“As mulheres afro-americanas representaram um grande apoio à guerra porque muitas delas tinham irmãos, tios, pais e primos que foram recrutados e/ou se juntaram às Forças Armadas”, diz Salter. “Houve uma grande manifestação de suporte por parte de mulheres afro-americanas para apoiar a população de soldados afro-americanos.”
Os soldados ficaram na França por meses e anos após o término da Primeira Guerra Mundial, que terminou no final de 1918, diz Ryan Reft, historiador do período contemporâneo dos Estados Unidos e que trabalha na divisão de manuscritos da Biblioteca do Congresso.
As mulheres afro-americanas juntamente com a ACM teriam prestado os mesmos serviços, porque as tropas não combatentes — a maioria afro-americana — trabalhavam essencialmente nos mesmos empregos que tiveram durante a guerra, disse Reft.
Addie W. Hunton e Kathryn M. Johnson retornaram aos EUA após a guerra e foram coautoras do livro Two Colored Women With the American Expeditionary Forces (Duas mulheres negras com as Forças Expedicionárias Americanas, em tradução livre). Elas descreveram a experiência que tiveram na França como “a maior oportunidade de serviço que já conhecemos”.

“O contato com cem mil homens, muitos dos quais era nosso privilégio ajudar de cem maneiras diferentes; homens que buscavam conexões e desanimavam; outros, que clamavam em voz alta por ajuda, que eles poderiam adquirir apenas os rudimentos de uma educação e assim estabelecer uma conexão com os corações ansiosos [das pessoas] que haviam deixado para trás; e ainda outros que tinham uma compreensão profunda e uma amplitude de visão, que foram ao mesmo tempo uma ajuda e uma inspiração”, escreveram as mulheres em 1920.
* site em inglês