A procuradora-geral, Loretta E. Lynch, faz pronunciamento em
coletiva de imprensa anunciando as acusações contra
nove dirigentes da Fifa e cinco executivos

Departamento de Justiça dos EUA

Brooklyn, Nova York, Estados Unidos ~ quarta-feira, 27 de maio de 2015

Hoje, eu venho acompanhada do procurador dos EUA em exercício no Distrito Leste de Nova York, [Kelly] Currie, do diretor do FBI, [James] Comey, e do chefe da Divisão de Investigação Criminal da Receita Federal dos EUA (IRS), [Richard] Weber. Estamos aqui para divulgar as acusações e prisões de indivíduos como parte de nossa longa investigação sobre suborno e corrupção no mundo do futebol organizado.

A muitos dos indivíduos e organizações que iremos descrever hoje era confiada a função de manter o futebol aberto e acessível a todos. Eles assumiram responsabilidades importantes em todos os níveis, desde construir campos de futebol para crianças de países em desenvolvimento até organizar a Copa do Mundo. Eles deveriam respeitar as regras para manter a honestidade do futebol e proteger a integridade do jogo. Em vez disso, corromperam os negócios do futebol mundial para servir a seus interesses e enriquecer a si mesmos. Este Departamento de Justiça está determinado a acabar com essas práticas; cortar a corrupção pela raiz; e levar os transgressores à justiça.

Os 14 réus acusados no indiciamento que estamos revelando hoje incluem altos dirigentes da Fifa, a organização internacional responsável por regular e promover o futebol; líderes de confederações regionais e outros órgãos filiados à Fifa; e executivos de marketing esportivo que, de acordo com o indiciamento, pagaram milhões de dólares em subornos e propinas em troca dos lucrativos direitos de marketing e transmissão de campeonatos internacionais de futebol. As 47 acusações contra esses indivíduos incluem extorsão, fraude eletrônica e conspirações para lavagem de dinheiro em um período de duas décadas.

A Fifa e as confederações ligadas a ela ganham dinheiro, em parte, vendendo direitos comerciais de seus campeonatos de futebol para empresas de marketing esportivo, muitas vezes por meio de contratos de vários anos que cobrem diversas edições dos campeonatos. As empresas de marketing esportivo, por sua vez, vendem os direitos de transmissão a redes de TV e rádio, grandes patrocinadores e outras entidades por significativas quantias de dinheiro.

Desde 1991, duas gerações de dirigentes do futebol, incluindo os então presidentes de duas confederações regionais ligadas à Fifa — a Confederação de Futebol da América do Norte, Central e Caribe, conhecida como Concacaf, que inclui os Estados Unidos, e a Confederação Sul-Americana de Futebol, ou Conmebol, que representa o futebol organizado na América do Sul — usaram seus cargos de confiança em suas respectivas organizações para pedir propinas a empresas de marketing esportivo em troca dos direitos comerciais sobre partidas de futebol. Eles fizeram isso repetidas vezes, ano após ano, campeonato após campeonato.

Por exemplo, os EUA foram escolhidos para receber a edição do centenário da Copa América em 2016 — a primeira vez que o torneio será sediado em cidades fora da América do Sul. Nossas investigações revelaram que o que deveria ser uma expressão do espírito esportivo internacional foi usado como um veículo em um esquema maior para encher os bolsos de executivos com subornos que totalizam US$ 110 milhões — quase um terço dos custos legítimos dos direitos envolvidos no torneio.

A atividade criminosa que nós identificamos não envolve apenas marketing esportivo. Por volta de 2004, começaram os lances pela oportunidade de sediar a Copa do Mundo de 2010, que acabou sendo concedida à África do Sul — a primeira vez que o torneio seria sediado no continente africano. Mas, mesmo para esse evento histórico, executivos da Fifa e outros corromperam o processo com subornos para influenciar os votos. O indiciamento também alega que a corrupção e o suborno se estenderam até a eleição presidencial da Fifa em 2011 e a acordos de patrocínio da seleção brasileira por uma grande empresa esportiva dos EUA.

Em resumo, esses indivíduos e organizações recorreram a subornos para decidir quem transmitiria os jogos; onde seriam realizados; e quem controlaria a organização que supervisiona o futebol no mundo. Embora pelo menos um executivo da Fifa tenha atuado como presidente da Concacaf sem salário, houve pouco altruísmo envolvido, já que ele sozinho é suspeito de ter recebido mais de US$ 10 milhões em subornos em um período de 19 anos e de ter acumulado uma fortuna pessoal com seus ganhos ilícitos. Em muitas ocasiões, os réus e seus parceiros na conspiração planejaram aspectos de seu esquema durante reuniões aqui nos Estados Unidos; usaram as instalações de bancos e transferências bancárias dos Estados Unidos para pagar subornos; e planejaram lucrar com seu esquema em grande parte por meio de esforços promocionais dirigidos diretamente ao crescente mercado de futebol dos EUA.

Além do indiciamento, estamos revelando hoje os instrumentos de acusação de quatro indivíduos e dois réus corporativos que já se declararam culpados de envolvimento em extorsão e outras condutas criminosas. Entre esses réus, estão uma companhia de marketing esportivo dos EUA, um executivo brasileiro de marketing esportivo e um cidadão americano que, além de ter sido secretário-geral da Concacaf e membro do comitê executivo da Fifa, beneficiou-se do esquema de suborno da Copa do Mundo de 2010. Ao todo, esses réus concordaram em entregar mais de US$ 150 milhões em lucros ilícitos que obtiveram com esses crimes.

Finalmente, estamos também anunciando que agentes iniciaram nesta manhã a execução de um mandado de busca na sede da Concacaf, em Miami, na Flórida. A Concacaf é claramente uma organização em crise, e já entramos em contato com seus representantes nesta manhã para assegurar que as pessoas íntegras que lá trabalham saibam que estamos dispostos a trabalhar com elas para reformular suas práticas depois das ações de hoje.

Hoje pela manhã, autoridades suíças em Zurique prenderam sete dos réus acusados no indiciamento, inclusive o atual presidente da Concacaf. Estamos também procurando outros acusados. Todos esses réus abusaram do sistema financeiro dos EUA e violaram a legislação americana, e nós queremos responsabilizá-los. Daqui para frente, estamos abertos à oportunidade de trabalhar com nossos parceiros ao redor do mundo para levar mais pessoas envolvidas nessa conspiração e outros indivíduos corruptos à justiça.

A ação de hoje é uma prova dos esforços incansáveis dos procuradores federais aqui no Distrito Leste de Nova York, assim como no Escritório de Nova York do FBI e no Escritório de Los Angeles da Divisão de Investigação Criminal da IRS. Quero agradecer a todos os policiais, promotores, agentes da lei e analistas que contribuíram com seu tempo e talento nesta grande investigação. Quero reconhecer o procurador dos EUA em exercício Kelly Currie pela sua liderança neste Gabinete da Procuradoria dos EUA. Quero expressar minha gratidão pela cooperação e assistência que recebemos de nossos parceiros internacionais — principalmente as autoridades suíças. E quero deixar claro que os réus presos em Zurique têm direito a um processo de extradição justo e imparcial e vão receber um julgamento justo se forem extraditados para este país.

Neste momento, eu gostaria de apresentar o procurador dos EUA em exercício Currie, que dará mais detalhes sobre o anúncio de hoje.