
Em 18 de novembro, o jornal pró-Kremlin Izvestia alegou* que os Estados Unidos haviam usado o proeminente ativista LGBTI russo Nikolai Alekseyev para retratar autoridades russas como gays, com a intenção de desacreditar os russos aos olhos da opinião pública.
Como prova, o Izvestia cita suposta correspondência para Alekseyev de autoridades do Departamento de Estado dos EUA, entre elas Randy Berry, enviado especial dos EUA para Direitos LGBTI. As cartas orientam Alekseyev a adotar ações específicas, fazendo-o parecer um fantoche americano e dando a impressão de que as autoridades dos EUA estão se intrometendo em assuntos alheios
Mas as cartas citadas pelo Izvestia são claramente falsas. Supostamente publicadas em um site para hackers chamado CyberGuerilla.org, as cartas contêm inúmeros “erros gramaticais, de ortografia e pontuação… indo da falta de artigos a títulos e acrônimos incorretos”, segundo a publicação independente Meduza**.
A Embaixada dos EUA em Moscou postou uma versão comentada de uma das cartas em seu feed do Twitter**. A embaixada assinala os erros mais gritantes em vermelho e depois ironicamente oferece ajuda ao Izvestia. “Da próxima vez que forem usar cartas falsas, enviem primeiro para nós; será um prazer ajudar a corrigir todos os erros.”

Velhos hábitos custam a morrer
As falsificações já foram a base das “medidas ativas” da União Soviética — operações veladas ou enganosas que incluíam informações falsas ou disseminação deliberada de mentiras. Em 1989, o Departamento de Estado dos EUA fez um relatório informando que as falsificações soviéticas eram “destinadas a manipular a opinião pública” e “semear suspeitas quanto às políticas dos EUA”. Esse relatório* também caracterizou as falsificações como distorções grosseiras dos fatos com inconsistências linguísticas e textuais e erros de formatação.
Mais de duas décadas e meia depois, a mídia pró-Kremlin ainda utiliza falsificações para disseminar informações falsas. Uma narrativa falsa comum é que as pessoas que desafiam o domínio do Kremlin (como Alekseyev) são controladas pelos Estados Unidos.
“Hoje em dia, a produção de informações falsas [na mídia] na Rússia é praticamente uma indústria. Não se trata de imprecisões casuais ou percepções distorcidas, mas sim de um processo deliberado de criar falsificações, e não para de crescer”, disse Alexei Kovalyov para o Moscow Times*. Kovalyov administra um site dedicado a expor as imprecisões de reportagens pró-Kremlin.
Autoridades americanas intrometidas manipulando fantoches?
Há outros exemplos recentes de hoaxes que tentam desacreditar adversários do Kremlin como bonecos dos EUA. Em setembro de 2015, a Ren TV, ligada ao Kremlin, noticiou falsamente* que o embaixador dos EUA na Rússia, John Tefft, havia participado de uma manifestação da oposição em Marino, nos arredores de Moscou. Para respaldar suas alegações, a Ren TV tuitou*** uma fotografia que supostamente mostrava Tefft conversando com jornalistas durante o protesto.

Blogueiros e outros meios de comunicação rapidamente mostraram que a imagem de Tefft divulgada pela Ren TV havia sido manipulada. O porta-voz da Embaixada dos EUA, Will Stevens, confirmou essa informação, observando que a imagem adulterada usava uma foto de Tefft conversando com jornalistas em 28 de fevereiro no local em que o líder de oposição Boris Nemtsov foi assassinado.
“O embaixador Tefft passou o domingo [o dia de setembro que ele supostamente estaria em uma manifestação da oposição]… em casa desfrutando de um merecido descanso. Essas reportagens sobre sua participação em um evento em Marino são 100% falsas. Baseiam-se em uma foto claramente adulterada”, disse Stevens. A Embaixada dos EUA ridicularizou o tuíte falso da Ren TV em seu feed oficial do Twitter com imagens manipuladas por ela, como uma que mostrava Tefft no histórico pouso da Apollo 11 na Lua em 1969.

Em outro hoax, a Sputnik, veículo do Kremlin dedicado ao público estrangeiro, publicou um artigo* com base em uma carta falsa também atribuída ao CyberGuerilla.org. A carta, supostamente do senador americano Richard Durbin para o primeiro-ministro ucraniano, Arseny Yatsenyuk, instrui o primeiro-ministro sobre quais membros de seu governo demitir ou manter.
Ben Marter*, porta-voz de Durbin, disse ter ficado sabendo do hoax quando a mídia estatal russa o contatou para comentar o caso. Embora a carta pareça estar impressa no papel timbrado oficial do senador, o cargo de Durbin está errado — está como “líder adjunto da minoria” em vez de “líder democrata adjunto”. Uma análise do texto também revela omissões frequentes do artigo definido “the”, um erro gramatical comum atribuído a falantes não nativos do inglês.
“Essa carta é uma falsificação e foi obviamente escrita por alguém com parco entendimento do inglês”, disse Marter.
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* site em inglês
** site em inglês e russo
*** site em russo
**** site em inglês e russo com várias matérias traduzidas para o português