A Rússia continua sua meta de apagar a cultura e a identidade da Ucrânia

O Kremlin está tentando apagar a cultura, a história e a identidade da Ucrânia em cidades onde suas forças avançaram por meio de bombardeios e ataques direcionados.

O presidente russo, Vladimir Putin, e altos funcionários russos continuam a espalhar desinformação, alegando que a Ucrânia faz parte da Rússia e procuram remover à força todos os símbolos da cultura ucraniana.

“Vladimir Putin está travando uma guerra de agressão que destruiu partes do patrimônio cultural único da Ucrânia em um esforço para reescrever a história”, disse Lisa Carty, representante dos EUA no Conselho Econômico e Social das Nações Unidas, em 15 de julho.

Dezenas de locais danificados

Pintura inclinada, corredor cheio de escombros e paredes danificadas (© AP Images)
Um corredor em um museu dedicado ao paisagista russo Arkhip Kuindzhi foi destruído após bombardeio em uma área controlada pelas forças russas em Mariupol, Ucrânia, 28 de abril (© AP Images)

As Nações Unidas, os Estados Unidos e outros parceiros e agências internacionais estão monitorando os danos causados pela guerra a patrimônios na Ucrânia. Funcionários da Unesco visitaram a Ucrânia* em julho e confirmaram que 164 locais culturais foram danificados desde a invasão de fevereiro, incluindo:

  • 72 locais religiosos
  • 12 museus
  • 32 prédios históricos
  • 24 estabelecimentos culturais
  • 17 monumentos
  • 7 bibliotecas

O bombardeio danificou 2.129 instituições de ensino, com 216 delas destruídas, segundo a Unesco.

“Sejamos claros: a destruição do patrimônio cultural durante o conflito armado põe em risco a identidade, a história e a dignidade do povo ucraniano”, disse Lisa.

Monumento em forma de menorá danificado cercado por escombros (© Sergey Bobok/AFP/Getty Images)
O bombardeio russo em março danificou um monumento em forma de menorá que marca o local de um assassinato em massa de judeus pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. O monumento está localizado na entrada do complexo do Memorial do Holocausto Drobitsky Yar, nos arredores de Kharkiv, Ucrânia (© Sergey Bobok/AFP/Getty Images)

Kateryna Chueva, vice-ministra de Cultura e Política de Informação da Ucrânia, disse às Nações Unidas** em julho que 423 sítios culturais foram danificados. A destruição de sítios culturais é um crime de guerra potencial e viola a Convenção de Haia de 1954, que exige que os Estados respeitem propriedades culturais durante o conflito.

Um relatório do Observatório de Conflitos***, usando imagens de satélite e dados públicos, identificou 458 casos potenciais de danos a sítios culturais. Dentre os principais locais que sofreram danos estão:

  • Museu Histórico e de História Local de Ivankiv.
  • Museu de Arte Kuindzhi em Mariupol.
  • Memorial do Holocausto Drobitsky Yar em Kharkiv.
  • Teatro Regional Acadêmico de Drama de Donetsk, em Mariupol.
  • Escola de Arte G12 em Mariupol.
  • Museu de Arte Regional de Chernihiv.
  • Museu de Arte de Kharkiv.
  • Museu Memorial de Literatura Nacional Hryhoriy Skovoroda em Skovorodynivka.

Museus ucranianos saqueados

Desde a invasão de 24 de fevereiro, tropas russas têm saqueado museus em Mariupol, levando 2 mil obras de arte e roubando valiosos objetos de ouro de um museu em Melitopol. Agentes de segurança russos do FSB invadiram a biblioteca*** da Igreja Petro Mohyla de Mariupol em junho, confiscaram os livros e queimaram todo o acervo no pátio.

Em Borodyanka, o busto do reverenciado poeta e patriota ucraniano Taras Shevchenko é um exemplo altamente visível de danos em sítios culturais — e da hostilidade russa. O bombardeio danificou o pilar que sustentava a estátua, mas as balas atingiram a testa do grande poeta.

“O simbolismo do ataque russo ao monumento era óbvio”, escreveu Stephen M. Norris, professor de História da Universidade de Miami de Ohio. “Taras Shevchenko não é apenas o fundador da moderna língua literária ucraniana, ele também é o símbolo mais importante da nacionalidade ucraniana moderna***.”

A campanha de bombardeio da Rússia também danificou a área perto de Babyn Yar, onde 100 mil judeus e outros ucranianos foram executados pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.

Profissionais de arte e cultura de todo o mundo estão correndo para salvar os locais mais preciosos da Ucrânia da guerra não provocada de Putin. Desde 2002, o governo dos EUA forneceu mais de US$ 1,7 milhão para apoiar 18 projetos de preservação cultural na Ucrânia. O apoio é fornecido pelo Fundo de Embaixadores para a Preservação Cultural, programa do Departamento de Estado dos EUA.

O Fundo Mundial para Monumentos​, organização sem fins lucrativos com sede em Nova York, lançou uma nova iniciativa para preservar locais vulneráveis***. A organização está trabalhando com os Estados Unidos e outros parceiros a fim de proteger locais como a Casa Negra em Lviv, a Catedral de Santa Sofia de Kiev e a Igreja da Santíssima Trindade em Zhovkva.

Pintura de santo em parede queimada e repleta de furos de balas (© Felipe Dana/AP Images)
Um ataque russo em março danificou esta igreja em Kharkiv, Ucrânia (Felipe Dana/AP Images)

“As igrejas são um dos valores históricos mais importantes que a Ucrânia tem”, disse Maxim Kamynin, arquiteto de Kiev. “Alguns prédios têm mais de mil anos; um patrimônio incrível que devemos preservar e transmitir às gerações futuras.”

Normas russas impostas

Nas cidades do sul da Ucrânia, Putin está impondo padrões culturais, econômicos e de cidadania russos aos cidadãos ucranianos, violando sua soberania.

Em Melitopol, as autoridades russas:

  • Substituiu a moeda ucraniana, hryvnia, pelo rublo.
  • Deu certidões de casamento russas para casais recém-casados.
  • Hasteou uma bandeira russa na praça central da cidade.

Em Mariupol, autoridades russas removeram livros escolares publicados na língua ucraniana e os substituíram por outros em língua russa, de acordo com Olena Halushka, membro do Conselho do Centro de Ação Anticorrupção e cofundadora do Centro Internacional para a Vitória Ucraniana. Ela tuitou: “Tentativa de lavagem cerebral de crianças em pleno andamento.”

Tuíte:
Olena Halushka
os russos trouxeram 5 mil livros escolares de língua, literatura e história russas para #Mariupol. Livros ucranianos foram removidos. Enquanto isso, na região de Kherson, são distribuídos cadernos [impresso na capa] “O Exército da Rússia” contendo o texto de seu hino. Tentativa de lavagem cerebral de crianças em pleno andamento. @OlenaHalushka

Bandeiras russas também foram instaladas ao longo das estradas que levam a Mariupol. Uma placa da cidade foi pintada com as cores da bandeira russa.

Em Kherson e Zaporizhzhia, professores russos estão chegando para enfatizar a língua e a história russas. Putin também anunciou uma política que fornece cidadania russa rápida para ucranianos nessas cidades.

“Parte da guerra de Putin é uma tentativa de apagar a identidade ucraniana”, disse o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, em um tuíte de 23 de maio.*** “A guerra do Kremlin na Ucrânia não pode apagar o que torna o país e seu povo tão únicos.”

* site em inglês e francês
** site em inglês com links para páginas em vários idiomas
*** site em inglês