A vida cotidiana nos EUA se muda para ambientes externos

Students playing musical instruments outside (Courtesy of Rock Island–Milan School District #41)
Alunos da quarta série de Rock Island, Illinois, ensaiam no laboratório de música ao ar livre da escola (Cortesia: Distrito Escolar no. 41 Rock Island–Milan)

Para contrabalançar as temperaturas de outono cada vez mais baixas em Rock Island, Illinois, os alunos de Música de Mara Goodvin tocaram uma melodia festiva, ao som de xilofones e tambores. As notas de carrilhões orquestrais — grandes tubos de metal com 2,50 metros de altura — ecoavam no ar, constantes e profundas.

Mara, que leciona para crianças na Escola de Ensino Fundamental Ridgewood, executava um ritmo e os alunos repetiam em seguida em seus instrumentos.

Mas essa aula não era realizada no interior de uma sala de aula ou de um fosso de orquestra. Em vez disso, foi no novo “laboratório de música” da escola, um lugar onde os alunos criam músicas usando instrumentos instalados permanentemente fora do prédio. E é a nova norma na Ridgewood.

“O que é realmente ótimo em ter todos esses instrumentos ao ar livre é que eles são realmente para todos”, diz Mara, que espera expandir o laboratório de música de cinco instrumentos hoje para 14 instrumentos no futuro. “As pessoas do bairro parecem muito animadas para explorar essa novidade. As pessoas vêm e tocam praticamente todos os dias.”

Trabalhador de restaurante ajusta aquecedor externo (© Alexi Rosenfeld/Getty Images)
Muitos restaurantes em cidades e vilarejos dos EUA têm criado áreas para refeições ao ar livre (© Alexi Rosenfeld/Getty Images)

A pandemia do coronavírus tem levado americanos a realizar atividades ao ar livre mais do que nunca. Restaurantes de Nova York a Seattle têm transformado vagas de estacionamento ao ar livre em áreas de jantar com mesas e aquecedores. Espetáculos de teatro e de comédia stand-up encontraram um lugar ao ar livre, enquanto igrejas realizavam as suas cerimônias a céu aberto. Balé, ginástica, caratê: tudo acontece ao ar livre. E a pergunta que as pessoas estão fazendo agora é: por que não estivemos mais ao livre antes?

Tudo a céu aberto

Os ambientes externos estão em voga nos Estados Unidos e os números mostram isso. Quase 161 milhões de americanos dizem que fizeram pelo menos uma atividade para se divertir ao ar livre em 2020. Isso representa 7,1 milhões a mais do que em 2019 e o maior número de pessoas de todos os tempos, de acordo com um relatório da Fundação Outdoor. As atividades mais populares incluíram corrida, com cerca de 64 milhões de participantes, e caminhadas, com 58 milhões. Crianças de 6 a 17 anos preferem andar de bicicleta, acampar e pescar, diz o relatório.

O basquete, o futebol e o beisebol também continuam muito populares, é claro. Mas normalmente se faz atividades como essas ao ar livre de qualquer maneira, certo? E quanto a outras atividades tradicionalmente feitas em espaços fechados? Elas estão passando a ser realizadas ao ar livre como as aulas de música na Escola de Ensino Fundamental Ridgewood?

Em suma, sim.

“O estúdio de ioga que frequento mudou para aulas ao ar livre e eu adoro isso”, diz Amanda Koumariotis em um grupo do Facebook (Basecamp: Outdoor Jobs & More) que se concentra no que está acontecendo no setor de atividades ao ar livre.

Outro membro do grupo, Martha Tuzson Stockton, disse que tem aulas de ukulele ao ar livre e muitas vezes encontra amigos para assistir a programas de televisão populares projetados na parede externa do celeiro de um vizinho.

“Os cinemas drive-in estão se tornando superpopulares novamente, se isso conta”, diz Stephanie Merritt Johnson, cofundadora da organização sem fins lucrativos B the Difference.

Mulher trabalhando em um laptop ao ar livre (© Sarah L. Voisin/The Washington Post/Getty Images)
Feben Asfaw, ao visitar de Denver, trabalha em um espaço de trabalho gratuito ao ar livre no distrito comercial de Washington (© Sarah L. Voisin/The Washington Post/Getty Images)

Um dos maiores impulsos para sair de casa não tem nada a ver com diversão, mas tudo a ver com trabalho. Empresas como a Apple e a Nike, bem como firmas menores e até proprietários de prédios de apartamentos, estão criando locais para seus funcionários e residentes trabalharem ao ar livre. Outras empresas, como a Industrious, criam espaços onde qualquer pessoa pode trabalhar — espaços de “coworking” — e muitos deles incluem locais acolhedores para trabalhar e se reunir além dos limites de um escritório.

“Estar ao ar livre é ótimo para o trabalho colaborativo”, diz Liz Simon, diretora de Operações da Industrious. As pessoas realizam reuniões enquanto caminham em bosques ou discutem ideias para projetos durante piqueniques em parques. “Ter diferentes tipos de escritórios, digamos, para diferentes tipos de trabalho é o novo futuro do escritório”, diz ela. “Há um benefício físico e mental em estar ao ar livre.”

Quanto ao laboratório de música de Mara, os benefícios de estar ao ar livre são claros. “É uma maneira maravilhosa de aprender”, diz ela.

Este artigo foi escrito pelo redator freelance Tim Neville.