Woman with flower wreath on her head standing before sunny field and mountains (Courtesy of Mukaddas Mijit)
Com seu projeto mais recente, “WEghur Stories”, Mukaddas Mijit — vista aqui perto de sua casa nos Alpes franceses em 2021 — dá continuidade a quase 20 anos compartilhando arte e cultura uigures com o mundo (Cortesia: Mukaddas Mijit)

Quando Mukaddas Mijit chegou pela primeira vez a Paris em 2003 para estudar Música, advinda de Xinjiang, China, poucas pessoas que ela conhecia sabiam sobre sua cultura ou tradição uigures. Ela queria mudar isso.

Desde então, Mukaddas tem usado seu talento como acadêmica, cineasta, artista e podcaster para apoiar a cultura uigur na Europa e compartilhar histórias e tradições uigures com pessoas ao redor do mundo.

Os uigures são um grupo étnico da Ásia Central com uma cultura e uma língua distintas que vivem predominantemente em Xinjiang, uma região autônoma na parte mais ao extremo noroeste da China (RPC).

Mukaddas, dançarina e música por formação, se esforçou para levar músicos uigures a festivais internacionais de música na França. Posteriormente, fez doutorado em Etnomusicologia na Universidade de Paris Nanterre, onde estudou encenação de dança e música tradicionais.

Sua pesquisa a levou de volta à Ásia Central várias vezes, mas ela acabou se estabelecendo na França, onde agora vive com seu marido.

Close do boné da etnia uigur usado por um homem em uma praça lotada enquanto é fotografado por outro homem (© Vincent Thian/AP Images)
A campanha do governo chinês para forçar a assimilação dos uigures à cultura chinesa han, como este homem em Pequim em 2012, visa privar os uigures de seu passado. Poucas tradições culturais uigures são preservadas para o turismo (© Vincent Thian/AP Images)

No ano passado, em parceria com a Embaixada dos Estados Unidos em Paris, Mukaddas também lançou um podcast em inglês chamado “WEghur Stories”. O podcast é coapresentado por John Bair, escritor e contador de histórias americano. Mukaddas espera que o podcast ajude as pessoas a se identificar com os uigures e a se conectar com eles por meio da arte.

A língua, a cultura e a religião dos uigures são mais semelhantes às dos uzbeques, cazaques e outros grupos étnicos da Ásia Central do que da maioria han da China.

Mukaddas disse que quer que as pessoas saibam sobre a história, a arte e as contribuições dos uigures para o mundo, não apenas sobre os abusos do governo chinês contra os uigures. As histórias que Mukaddas compartilha no podcast abrangem todas as esferas da vida, desde a música contemporânea à advocacia, ao cinema e à história da língua uigur.

Por meio dessas histórias, diz Mukaddas, ela quer mostrar que a arte uigur ainda está em evolução. “A cultura é uma coisa comovente. Ela evolui o tempo todo. Ela muda em um milhão de formas diferentes”, diz ela.

Grande edifício de concreto com caracteres chineses no topo (© Ng Han Guan/AP Images)
A RPC força os uigures a abandonar sua cultura e religião em campos de internamento como este, visto em 3 de dezembro de 2018 (© Ng Han Guan/AP Images)

O podcast “WEghur Stories” apresenta uma visão dinâmica da cultura uigur para um público mais amplo. No entanto, o que está acontecendo na terra natal dos uigures nunca deixa de estar subjacente ao conteúdo do podcast.

Desde 2017, a RPC prendeu mais de 1 milhão de uigures e outras minorias étnicas em campos de internamento. Sobreviventes relatam que os detidos dentro dos campos são torturados, esterilizados à força e obrigados a renunciar à sua religião e cultura.

“Colocar um milhão de pessoas em campos é tão inacreditável (…) as pessoas não conseguem se enxergar nisso, não conseguem encontrar nenhuma conexão com esses números e o sofrimento”, explicou Mukaddas. Ela disse que espera mostrar, com o podcast, que essas pessoas também têm “histórias incríveis”.

A atenção da mídia sobre os uigures se concentra em “campos de reeducação ou campos de concentração, genocídio (…) ou em crimes contra a humanidade”, diz Mukaddas. Embora reconhecendo a importância dessa conversa, ela acrescentou: “Eu queria criar um espaço onde pudéssemos falar sobre a experiência de pessoas reais fora de [nossa] terra natal.”

Pessoas passando por câmeras de vigilância suspensas no alto (© Mark Schiefelbein/AP Images)
O governo chinês transformou Xinjiang em uma prisão a céu aberto, com câmeras de vigilância monitorando as pessoas 24 horas por dia. As câmeras são especialmente prevalentes fora das mesquitas, como pode ser visto aqui em Kashgar, Xinjiang, em 2021 (© Mark Schiefelbein/AP Images)

“É muito, muito perturbador se sentir como uma vítima”, diz ela. Ela quer que seus podcasts conectem as pessoas com os uigures “como se fossem seus amigos ou família”.

Muitos artistas uigures se sentem desconfortáveis ​​ao falar em público sobre sua arte, já que seus amigos e familiares ainda vivem sob o controle da RPC, e alguns se preocupam com o alcance da RPC no exterior. Mukaddas, cuja família mora na Austrália, tem o cuidado de proteger seus convidados. Dentre aqueles que aparecem no podcast, alguns usam pseudônimos, uma prática comum na diáspora uigur.

Ainda assim, Mukaddas espera que seu trabalho esteja ajudando a expandir a conversa em torno dos uigures e mostrar que eles têm arbítrio sobre suas vidas.

Quero que as pessoas percebam que os uigures não estão “apenas sendo vítimas do mundo, mas também [podem] ser os criadores do mundo”, diz ela.

Para saber mais sobre a diáspora uigur e ouvir o podcast, acesse “WEghur Stories”*.

* site em inglês