Artistas indígenas americanos redefinem suas próprias tradições

Três pessoas ao redor de uma mulher em uma praia (Cortesia: Jeremy Dennis)
A série Acesso à praia de Jeremy Dennis reflete a frustração da nação Shinnecock por lhe ter sido negado o acesso gratuito às suas praias ancestrais em Southampton, Nova York (Cortesia: Jeremy Dennis

As tradições artísticas dos povos indígenas dos Estados Unidos, como as das pessoas em todos os lugares, evoluíram em grande parte de raízes pragmáticas ou espirituais. Enquanto as artes tribais tradicionais — como fazer joias, cerâmica, tecidos ou totens — ainda são praticadas, artistas indígenas americanos também exploram novas mídias e criam diversos trabalhos que desafiam a percepção de algumas pessoas sobre sua cultura.

Muitos amantes da arte estão familiarizados com a cerâmica ornamental, cobertores com padrões intrincados e cestas entrelaçadas de origem ameríndia. Frequentadores de museus devem ter visto couraças feitas de madeira, osso e couro, decoradas com símbolos para conferir proteção adicional.

Nos Estados Unidos, existem cerca de 570 tribos reconhecidas pelo governo federal que falam línguas diferentes e têm culturas diferentes, e não é de surpreender que alguns artistas dessas tribos criem obras que vão além do tradicional. Aqui está uma breve exploração do trabalho de cinco artistas cujas criações expandem a compreensão dos espectadores sobre o gênero da arte indígena americana:

Edmonia Lewis (1844–1907)

Escultura de mulher em cadeira ornamentada (Museu Smithsoniano de Arte Americana)
A Morte de Cleópatra, de Edmonia Lewis (Museu Smithsoniano de Arte Americana)

A internacionalmente aclamada Edmonia Lewis, nascida em liberdade no interior de Nova York, foi a primeira escultora profissional negra/indígena (chippewa) nos Estados Unidos. Depois de completar sua formação artística nos EUA, Edmonia se mudou para Roma, onde se juntou a uma comunidade de artistas americanos.

As esculturas neoclássicas de Edmonia são descritas pelo Museu Nacional da História da Mulher como retratos das “histórias de mulheres e povos indígenas com reverência e beleza”. Suas obras mais conhecidas incluem A morte de Cleópatra (uma escultura monumental que levou quatro anos para ser concluída), Hagar (que representa uma figura bíblica, a serva da esposa de Abraão, Sarah) e uma série de esculturas inspiradas no poema de Henry Wadsworth Longfellow A Canção de Hiawatha.

Seu trabalho está exposto em vários museus dos EUA, incluindo o Museu Metropolitano de Arte de Nova York e o Museu Smithsoniano de Arte Americana.


Oscar Howe (1915–1983)

Pintura <i>Cervos lutando</i> de Oscar Howe (Cortesia: Museu Nacional do Índio Americano)
Pintura Cervos lutando, de 1967, de autoria de Oscar Howe (Cortesia: Museu Nacional do Índio Americano)

Howe, um artista da tribo yanktonai dakota da Dakota do Sul, retratou as tradições ameríndias com uma estética modernista. Nascido na Reserva Crow Creek, serviu nas Forças Armadas durante a Segunda Guerra Mundial antes de se formar na Universidade de Oklahoma. Seu estilo distinto de pintura é marcado por cores vivas, movimento dinâmico e linhas geométricas arrojadas. Ele foi uma força no movimento de belas artes ameríndias, desafiando os conceitos da arte indígena e abrindo caminho para artistas contemporâneos.

A arte de Howe retrata as realidades de sua cultura tribal, preservando e comunicando valores tradicionais. O crítico de arte Jonathon Keats, escrevendo para a Revista Forbes, observa que as “linhas retas de Howe simbolizavam a retidão, e os círculos representavam a unidade harmônica”.

As obras de Howe têm sido exibidas em todo o mundo e ele ganhou vários prêmios ao longo de sua carreira.


Jerome Tiger (1941–1967)

Duas pinturas de indígenas americanos de autoria de Jerome Tiger lado a lado (Cortesia: Molly Babcock-Marcus e Dana Tiger/JeromeTiger.com)
Pinturas Oferta à paz (à esquerda) e Lua sobre viagem de autoria de Jerome Tiger (Cortesia: Molly Babcock-Marcus e Dana Tiger/JeromeTiger.com)

Tiger, um artista prolífico e autodidata da tribo muskogee creek-seminole de Oklahoma, produziu centenas de pinturas no período de 1962 até sua morte em 1967. Sua carreira começou quando, a pedido de um amigo, enviou pinturas para o Museu de Arte Philbrook de Tulsa. “O reconhecimento de seu talento foi imediato”, diz a Sociedade Histórica de Oklahoma.

O trabalho de Tiger ganhou o primeiro prêmio na Exposição Nacional de Arte Indígena Americana, realizada em Oakland, Califórnia. Suas pinturas sobre temas ameríndios combinam “visão espiritual, compreensão humana e virtuosismo técnico”, diz o Centro Mid-America All-Indian (Todo indígena da região central dos EUA, em tradução livre) em Wichita, Kansas.

Seus trabalhos em óleo, aquarela, têmpera, caseína, lápis e caneta e tinta são exibidos em museus dos EUA, incluindo o Museu Nacional do Cowboy e do Patrimônio Ocidental, em Oklahoma City, e o Museu Nacional do Índio Americano, do Instituto Smithsoniano, em Washington. O programa Arte nas Embaixadas* do Departamento de Estado dos EUA exibe sua arte no exterior.


Jeremy Dennis (nascido 1990)

Mulher ameríndia em roupas tradicionais posando para foto em uma praia (Cortesia: Jeremy Dennis)
O projeto em retrato da tribo shinnecock de Jeremy Dennis combina retratos fotográficos tradicionais, Street View da Google e entrevistas em áudio (Cortesia: Jeremy Dennis)

Dennis é fotógrafo de arte contemporânea e membro da nação indígena Shinnecock em Southampton, Nova York. “Minha fotografia explora a identidade indígena, a assimilação cultural e as práticas tradicionais ancestrais da minha tribo”, diz ele.

Ele cria imagens cinematográficas (usando fotografia digital) que questiona e rompe estereótipos prejudiciais, como as representações de “nobre selvagem” vistas em filmes. É importante, diz Dennis, “oferecer uma representação complexa e convincente dos povos indígenas”.

Os indígenas americanos “permanecem ancorados à nossa terra por nossas histórias antigas”, diz Dennis. “A mitologia indígena que influencia minha fotografia me dá acesso às mentes de meus ancestrais, incluindo o valor que eles davam às nossas terras sagradas. Ao equipar e organizar modelos visando retratar esses mitos, eu me esforço para continuar a tradição de contar histórias de meus ancestrais e mostrar a santidade de nossa terra.” Seu trabalho está em exibição na exposição Ciclos da Natureza do Museu do Rio Hudson em Yonkers, Nova York.


Wendy Red Star (nascida em 1981)

Díptico com arte de Wendy Red Star (Cortesia: Wendy Red Star e Sargent's Daughters)
Uma imagem da série Feminista Apsáalooke de Wendy Red Star (à esquerda) e Amnía (Eco) (Cortesia: Wendy Red Star e Sargent’s Daughters)

Wendy Red Star é artista multimídia da tribo apsáalooke (corvo) nascida em Billings, Montana, e baseada em Portland, Oregon. Suas fotografias e colagens reformulam narrativas históricas a partir de uma perspectiva feminista e indígena.

Os autorretratos da série Feminista Apsáalooke de Wendy (2016) refletem a herança tribal corvo da artista e enfatizam a natureza matrilinear de sua tribo. O Amnía (Eco) de 2021 de Wendy obras de arquivo de tinta sobre papel montadas sobre um quadro explora a identidade “entrelaçando imagens de arquivo e contemporâneas com narrativas históricas”, de acordo com o site de Wendy.

Seu trabalho está representado nos acervos permanentes do Museu de Arte Moderna, do Museu Metropolitano de Arte e do Museu de Arte Americana Whitney, além de muitas outras instituições.

* site em inglês