Há um século, Helen Keller se tornou a primeira pessoa surda-cega a se formar no ensino superior. Em 2013, Haben Girma, filha surda-cega de imigrantes da Etiópia e da Eritreia, se formou pela Faculdade de Direito de Harvard, demonstrando novamente que as deficiências não precisam limitar os horizontes de uma pessoa.

Suas conquistas são também um testamento para as habilidades de seus professores — no caso de Helen, sua célebre tutora Anne Sullivan, e para Haben, os professores de educação especial nas escolas públicas regulares que frequentou em Oakland, na Califórnia.
Nem todas as crianças com deficiências múltiplas têm a oportunidade de aprender com educadores qualificados que conseguem destravar seu potencial.
A Escola para Cegos Perkins — na qual Anne se formou e onde Helen passou quatro anos — está se preparando para mudar isso através de uma iniciativa global para capacitar 1 milhão de educadores especiais até 2030.
A escola Perkins, com sede em Massachusetts, testou um curso de treinamento de três semanas de duração voltado para professores e pessoas que trabalham com reabilitação comunitária em Mumbai, na Índia, e está trabalhando com outros países para capacitar professores a se tornar instrutores.
O alcance do desafio é vasto em países em desenvolvimento com serviços de educação especial limitados para crianças surdas ou cegas, ou com outras deficiências graves, além de deficiência visual.

Seis milhões de estudantes precisam de mais ajuda
“Muitas vezes, os pais não veem o valor de educar a criança que não consegue ver ou não pode ouvir”, disse Gopal Mitra, especialista em deficiência da Unicef, à Voz da América. “O estigma e a discriminação que existem em torno das deficiências (…) têm um impacto abrangente”.
A Escola Perkins há muito tempo treina professores que se dedicam a alunos surdos e cegos para outros países, e especialistas da Perkins trabalham com os governos a fim de desenvolver programas apropriados para estudantes desde a infância até a idade adulta. “Temos as ferramentas para ajudá-los”, diz Michael Delaney, diretor-executivo da Academia Internacional Perkins.
A nova Academia Internacional Perkins visa expandir drasticamente os postos de educadores especiais. A Perkins estima que 6 milhões de crianças cegas ou deficientes visuais com outras deficiências são atendidas inadequadamente nos dias de hoje.

Em Mumbai, em dezembro passado, a Perkins testou um curso que combinava palestras, vídeos e apresentações de slides com exercícios em grupo. Duas dúzias de professores de educação especial e trabalhadores de reabilitação comunitária de toda a Índia receberam o curso. Os participantes disseram à Anuradha Mungi, instrutora da Perkins, que nunca antes receberam conselhos tão práticos.
A Perkins também testou uma versão on-line do curso na Argentina, mas Marianne Riggio, diretora do Programa de Liderança Educacional da Perkins, diz: “Nós esperamos realizar o máximo de treinamento presencial possível a fim de construir grupos de capacitadores ao redor o mundo.”
A Perkins está buscando apoio governamental e filantrópico para ajudar a atingir seu objetivo.