Há um século, Helen Keller se tornou a primeira pessoa surda-cega a se formar no ensino superior. Em 2013, Haben Girma, filha surda-cega de imigrantes da Etiópia e da Eritreia, se formou pela Faculdade de Direito de Harvard, demonstrando novamente que as deficiências não precisam limitar os horizontes de uma pessoa.

Fotografia em preto e branco de mulher usando beca e capelo (© AP Images)
Helen Keller se formou com louvor na Faculdade Radcliffe em 1904, tornando-se a primeira pessoa surda e cega a receber um diploma universitário (© AP Images)

Suas conquistas são também um testamento para as habilidades de seus professores — no caso de Helen, sua célebre tutora Anne Sullivan, e para Haben, os professores de educação especial nas escolas públicas regulares que frequentou em Oakland, na Califórnia.

 

Nem todas as crianças com deficiências múltiplas têm a oportunidade de aprender com educadores qualificados que conseguem destravar seu potencial.

A Escola para Cegos Perkins — na qual Anne se formou e onde Helen passou quatro anos — está se preparando para mudar isso através de uma iniciativa global para capacitar 1 milhão de educadores especiais até 2030.

A escola Perkins, com sede em Massachusetts, testou um curso de treinamento de três semanas de duração voltado para professores e pessoas que trabalham com reabilitação comunitária em Mumbai, na Índia, e está trabalhando com outros países para capacitar professores a se tornar instrutores.

O alcance do desafio é vasto em países em desenvolvimento com serviços de educação especial limitados para crianças surdas ou cegas, ou com outras deficiências graves, além de deficiência visual.

Criança conversando com uma mulher (© Brian Messenger/Escola para Cegos Perkins)
Nikolina Juric da Escola Perkins trabalha com uma criança em uma creche e programa de reabilitação em Zagreb, Croácia (© Brian Messenger/Escola para Cegos Perkins)

Seis milhões de estudantes precisam de mais ajuda

“Muitas vezes, os pais não veem o valor de educar a criança que não consegue ver ou não pode ouvir”, disse Gopal Mitra, especialista em deficiência da Unicef, à Voz da América. “O estigma e a discriminação que existem em torno das deficiências (…) têm um impacto abrangente”.

A Escola Perkins há muito tempo treina professores que se dedicam a alunos surdos e cegos para outros países, e especialistas da Perkins trabalham com os governos a fim de desenvolver programas apropriados para estudantes desde a infância até a idade adulta. “Temos as ferramentas para ajudá-los”, diz Michael Delaney, diretor-executivo da Academia Internacional Perkins.

A nova Academia Internacional Perkins visa expandir drasticamente os postos de educadores especiais. A Perkins estima que 6 milhões de crianças cegas ou deficientes visuais com outras deficiências são atendidas inadequadamente nos dias de hoje.

Criança estudando (© Brian Messenger/Escola para Cegos Perkins)
Uma criança de 6 anos aprende o alfabeto e números em uma aula para estudantes cegos e surdos em Iganga, Uganda (© Brian Messenger/Escola para Cegos Perkins)

Em Mumbai, em dezembro passado, a Perkins testou um curso que combinava palestras, vídeos e apresentações de slides com exercícios em grupo. Duas dúzias de professores de educação especial e trabalhadores de reabilitação comunitária de toda a Índia receberam o curso. Os participantes disseram à Anuradha Mungi, instrutora da Perkins, que nunca antes receberam conselhos tão práticos.

A Perkins também testou uma versão on-line do curso na Argentina, mas Marianne Riggio, diretora do Programa de Liderança Educacional da Perkins, diz: “Nós esperamos realizar o máximo de treinamento presencial possível a fim de construir grupos de capacitadores ao redor o mundo.”

A Perkins está buscando apoio governamental e filantrópico para ajudar a atingir seu objetivo.