
Os principais atletas dos EUA estão se pronunciando sobre os desafios relativos à saúde mental, revelando que mesmo aqueles que têm sucesso nos níveis mais altos podem enfrentar crises de depressão ou ansiedade.
O nadador Michael Phelps, o atleta olímpico masculino de maior sucesso de todos os tempos, revelou sua luta contra a depressão e a ansiedade em 2018. Desde então, várias outras estrelas do esporte recentemente se afastaram de grandes competições, alegando riscos para seu bem-estar mental.
“Por ser um atleta, espera-se que você seja forte e capaz de superar qualquer coisa”, disse Phelps em 2018*. Agora com 36 anos, ele afirmou que escondeu as lutas que travou com sua saúde mental ao longo de uma carreira em que ganhou um recorde de 28 medalhas olímpicas, das quais todas, exceto três, foram de ouro. “Eu não tinha amor-próprio”, disse Phelps sobre seus piores momentos, “e, para ser sincero, simplesmente não queria estar vivo”.
Phelps iniciou tratamento e disse que descobriu que falar sobre seus sentimentos tornava a vida mais fácil.

Atletas que competem nos níveis mais altos equilibram pressões físicas e mentais extremas, disse Joey Ramaeker, diretor do programa de Psicologia Esportiva da Universidade Notre Dame, ao Indianapolis Star.
Suas lutas assumem diferentes formas. Simone Biles, uma das ginastas mais condecoradas de todos os tempos, desistiu de competir em alguns eventos nas Olimpíadas de Tóquio em julho*, citando preocupações com a saúde mental. “Tenho de fazer o que é certo para mim e focar na minha saúde mental, e não colocar em risco minha saúde e bem-estar”, disse Simone, que tem 24 anos de idade.
Embora raramente discutidas abertamente, doenças mentais são comuns. Quase 1 bilhão de pessoas em todo o mundo vivem com um transtorno mental e relativamente poucas têm acesso a tratamento, de acordo com a Organização Mundial da Saúde. Depressão e ansiedade custam à economia global cerca de US$ 1 trilhão por ano em perda de produtividade.
A Organização Mundial da Saúde designou o dia 10 de outubro como o Dia Mundial da Saúde Mental com o objetivo de aumentar a conscientização sobre os problemas associados à saúde mental e a necessidade de maior acesso a tratamento.
A estrela do atletismo paralímpica Deja Young disse que teve dificuldades para encontrar um meio-termo que a fizesse feliz face a todas as demandas de treinamento, estudo, competição e viagens. “Eu costumava pensar que não tinha permissão de ter problemas de saúde mental porque possuía tudo o que podia pedir”, escreveu ela*. Deja procurou ajuda em 2016 e, quatro meses após receber tratamento, conquistou duas medalhas de ouro nas Paralimpíadas de 2016. Deja, 25, anunciou recentemente que fará uma pausa nas competições* para se concentrar em sua felicidade. “Eu costumava acordar para apenas existir; hoje eu acordo com vontade de lutar.”

Deja Young, who was born with a brachial plexus injury that limits mobility in her right shoulder, said she felt selfish asking for help in maintaining mental health. (© Christian Petersen/Getty Images)
Ramaeker, psicólogo esportivo, disse que atletas que reconhecem seus problemas com saúde mental ajudam outros a enfrentar seus próprios desafios. “Só de poder ver alguém que é muito respeitado conseguir falar sobre essas coisas, acho que isso normaliza [se abrir sobre essa doença psiquiátrica]”, disse ele.
Naomi Osaka, vencedora de quatro grandes torneios de tênis, conhecidos como Grand Slams, recebeu inúmeras mensagens de apoio depois de se retirar do Aberto da França, após reconhecer publicamente crises de depressão.

“Ficou claro para mim que literalmente todo mundo sofre de problemas relacionados à saúde mental ou conhece alguém que sofre”, escreveu Naomi, 23, em um artigo publicado em 8 de julho na revista Time. Nascida no Japão, Naomi foi criada nos Estados Unidos e atualmente mora na Califórnia.
O astro do basquete profissional Kevin Love criou um fundo para apoiar o bem-estar mental depois de sofrer um ataque de pânico durante um jogo da Associação Nacional de Basquetebol (NBA). Vencedor de um campeonato da NBA em 2016 com o Cleveland Cavaliers, ele atribuiu o incidente a uma vida inteira sem falar abertamente sobre seus problemas interiores.

Kevin Love, 33, lembra a si mesmo diariamente: “Todo mundo está passando por algo que não podemos ver.”
Tanto Deja Young como Kevin Love atuaram como enviados na Divisão de Diplomacia Esportiva do Departamento de Estado dos EUA.
* site em inglês