O beisebol desempenhou um papel importante na infância de Thomas Jimenez, que foi criado em Santa Fé, capital do Novo México.
Da terceira até a sétima série, Jimenez, que agora tem 33 anos e trabalha como profissional de saúde, jogou nas posições de interbases (jogador entre a segunda e a terceira bases) e jardineiro central (que defende a região central do campo externo), primeiro para o Santa Fe Timberwolves e depois para o Nava Thunderbirds. Os times eram formados por crianças locais de bairros proletários lideradas por treinadores voluntários, e os jogadores tinham em comum o amor pelo jogo. Os torcedores, formados por pais, amigos e familiares, eram especialmente dedicados. Apenas um treino conseguia reunir espectadores prontos para torcer e assistir a um pouco de beisebol.
“Era uma paixão nossa”, diz Jimenez, cuja família é de ascendência mexicana. “Isso é muito normal, penso eu.”
As experiências de Jimenez são típicas. A exposição especial ¡Pleibol! nos Bairros e nas Grandes Ligas* realizada no Museu Nacional de História Americana do Instituto Smithsoniano mostra como a paixão e o talento da comunidade latina pelo passatempo nacional dos Estados Unidos causaram impactos duradouros na sociedade e na cultura. A exposição apresenta inúmeros artefatos, gravações de músicas de estádios e histórias dos primeiros pioneiros que mudaram o jogo para sempre.
“Não dá realmente para pensar ou falar sobre beisebol sem mencionar os latinos”, diz Margaret Salazar-Porzio, curadora do Instituto Smithsoniano que começou a trabalhar na exposição em outubro de 2015. “Eles têm uma influência muito importante no jogo atualmente.”

Cerca de 30% de todos os jogadores da Liga Principal de Beisebol advêm de famílias com laços profundos com o México, a América Central, a América do Sul ou o Caribe de língua espanhola, diz ela. Para o museu, foi importante destacar craques hispânicos como Roberto Clemente, jogador sagaz que emergiu dos campos de beisebol de Porto Rico, território americano, para se tornar um dos maiores jogadores do esporte. Ele acabou falecendo em um acidente de avião meses depois de fazer sua rebatida de número 3 mil. O avião fretado tinha a missão de entregar suprimentos que Clemente reuniu pessoalmente para as vítimas de um terremoto devastador na Nicarágua.
No entanto, igualmente importantes foram as histórias de outras colaboradoras menos famosas como Marge Villa, que foi uma das 11 latinas convocadas para a Liga de Beisebol Profissional Somente para Meninas Americanas*, a primeira e única liga para mulheres. Foi fundada durante a Segunda Guerra Mundial, quando muitos homens serviam nas Forças Armadas.
A exposição do Instituto Smithsoniano mergulha nas histórias advindas de Kansas City, Kansas, nos anos logo após a guerra, quando latinos — homens que haviam lutado por seu país — não tinham permissão para jogar em ligas totalmente compostas por homens brancos. Em vez disso, formaram sua própria liga, e hoje essa liga continua viva, diz Margaret.
O amor desses latinos e latinas por beisebol é compartilhado por milhões de latino-americanos não profissionais que jogam bola. “Muitas das maneiras de criarmos [uma] comunidade, enquanto crianças que estão crescendo, envolvem o campo de beisebol”, diz Margaret, que cresceu sendo torcedora dos Los Angeles Dodgers, ou “Los Doyers”, como alguns falantes nativos de espanhol chamam afetivamente a equipe.

Na hora do jogo, há churrascos, piqueniques e encontros com amigos. Torcedores tocam sinos de vaca como fazem em Cuba e fazem batucada usando bombas, pequenos tambores de Porto Rico. “Qual é a primeira coisa que se come em um jogo?” Margaret pergunta dando risada. “Nachos!”
No campo, o jogo em si está mudando à medida que mais e mais latinos como Francisco Lindor e Javier Báez alcançam o status de megacraques e contribuem com novas perspectivas.
“Se você olhar para o jogo ao longo dos anos, verá que foi uma abordagem muito, quase séria”, diz Darian Martyniuk, torcedor do Chicago Cubs que leva americanos em viagens pela América Latina para assistir a jogos locais de beisebol. Os jogadores das gerações anteriores não demonstravam muita emoção quando faziam um home run (momento em que o rebatedor consegue mandar a bola para fora dos limites do campo) ou realizavam um lançamento extraordinário. Isso está mudando à medida que o esporte se diversifica. “Agora os jogadores comemoram essas vitórias. Eles dão saltos de alegria. E pontuam. E acrescentam muito sentimento ao jogo. E estão se esforçando, então por que não desfrutar das vitórias?”
Quanto a Jimenez, ele não joga beisebol há anos, mas isso não o impede de torcer por seu time favorito, os Yankees. “Houve um tempo em que nada poderia me impedir de jogar”, diz ele, se referindo ao passado. “Tantos momentos favoritos.”
O redator freelance Tim Neville escreveu este artigo.
* site em inglês