
Eles podem não ter visibilidade e dinheiro — ou seja, doações de campanha — de republicanos e democratas, mas a cada quatro anos, candidatos independentes e de outros partidos políticos concorrem à eleição para presidente. Embora menos notados, eles ainda são parte importante do sistema político americano.
O ex-senador Joseph Lieberman já viu de perto os desafios enfrentados pelos independentes e o impacto que esses desafios causam.
No ano 2000, Lieberman, enquanto senador democrata, se candidatou para vice-presidente formando chapa com Al Gore. Perderam, e alguns analistas atribuem o fracasso ao efeito “spoiler”* do candidato do Partido Verde, Ralph Nader. Será que Lieberman sente algum ressentimento em relação a Nader? “Claro, mas não muito”, diz Lieberman, que atualmente trabalha em uma firma de advocacia em Nova York. “Ele tinha o direito de concorrer [à Presidência].”
Curiosamente, apenas poucos anos após a derrota vice-presidencial, em 2006, Lieberman perdeu as primárias democráticas por sua cadeira no Senado, concorreu como independente e venceu na eleição geral. (Ele exerceu seu mandato como senador até 2013.)
Deixando sua marca
Eleitores raramente escolhem candidatos independentes ou de um terceiro partido, mas os candidatos de fora deixam sua marca acrescentando ideias à agenda.
“O papel mais importante de partidos terceiros é introduzir novas ideias e instituições na política. Eles inovam”, diz Allan Lichtman, professor de História na Universidade Americana em Washington.
O Partido Antimaçônico dos anos 1830, por exemplo, teve a ideia de realizar convenções de nomeação, que hoje são realizadas pelos principais partidos. O Partido Solo Livre começou uma pressão contra a escravidão em 1848. O Partido Socialista promoveu a seguridade social e os direitos trabalhistas, ideias que foram absorvidas pelo presidente democrata Franklin Delano Roosevelt. Os libertários promoveram ideias de privatização que o Partido Republicano adotou nos anos 1970, diz Lichtman.

Cientistas políticos dão crédito à candidatura presidencial de Ross Perot em 1992 por pressionar a questão de equilibrar o orçamento federal. O bilionário Perot levou suas práticas locais do Texas para a questão do orçamento federal e conquistou quase 19% dos votos.
Lara Brown, diretora da Escola de Pós-Graduação em Administração Política da Universidade George Washington, em Washington, diz que Perot é um bom exemplo de como um candidato independente ou de partidos terceiros pode causar um grande impacto em uma eleição. Na seguinte, suas ideias podem ser cooptadas pelos principais partidos. Os independentes “são como abelhas — picam uma vez e depois morrem”, diz ela.
Alguns candidatos de partidos terceiros são os nomeados de partidos como os Libertários, o Partido Verde e o Partido da Constituição que construíram apoio suficiente para aparecer nas urnas em todo o país. Outros são pessoas como Perot, que não possuem filiação partidária e se qualificam para entrar na disputa por preencherem os requisitos determinados por cada estado e por sua popularidade em relação ao eleitorado.
Entrando na disputa eleitoral
O processo para participar da disputa presidencial varia de acordo com o estado e depende se o candidato é o candidato de um partido com histórico de apoio suficiente para garantir uma vaga nas eleições. Para independentes como Perot, o processo envolve a coleta de milhões de assinaturas.

É difícil. As leis estaduais adotadas por um dos dois principais partidos, ou ambos, controlam o processo. “E eles não querem que seja fácil”, disse Lieberman, se referindo aos dois principais partidos.
Da mesma forma, ganhar uma vaga nos debates presidenciais — uma maneira importante de alcançar os eleitores — é um obstáculo. Os candidatos precisam obter 15% de apoio nas pesquisas para participar. O papel de Perot nos debates de 1992 é a última instância de um candidato que conseguiu entrar na corrida eleitoral.
“É um ciclo vicioso”, disse Brown. “Como eles não obtêm bons resultados nas pesquisas, não têm acesso ao debate e, consequentemente, encontram dificuldades para atrair apoio.”
Eles podem ganhar?
Se forem incluídos na disputa eleitoral, os candidatos de fora terão dificuldade em vencer. Mesmo Perot, que conquistou 19% dos votos populares, não ganhou um único voto no Colégio Eleitoral. Depois da votação dos americanos em novembro, os resultados são usados para distribuir apoio no Colégio Eleitoral, que escolhe formalmente o novo presidente. (A maioria dos estados usa uma fórmula com base na regra que dita que o “vencedor leva tudo” para seus votos no Colégio Eleitoral, portanto, um/a candidato/a só obtém votos no Colégio Eleitoral quando ele/a vence no estado.)
Ainda assim, candidatos independentes e de partidos terceiros são “a ponta de lança da mudança nos Estados Unidos”, diz Lichtman. Eles não saem de mãos vazias quando suas ideias são captadas pelo vencedor. “Temos o melhor dos dois mundos: um sistema estável de dois partidos; no entanto, candidatos independentes e de partidos terceiros injetam vida nesse sistema.”
* um candidato de outros partidos que “obtém votos” de um candidato principal