Governos opressivos estão comprando tecnologia chinesa que lhes permite rastrear e monitorar seus cidadãos, segundo um alto funcionário do Departamento de Estado.
“A China exporta know-how tecnológico que pode ajudar governos autoritários a rastrear, recompensar e punir cidadãos por meio de um sistema de vigilância digital”, declarou Kimberly Breier, secretária de Estado adjunta para Assuntos do Hemisfério Ocidental em discurso proferido no dia 26 de abril* no Conselho das Américas.
A China foi pioneira dessa tecnologia em regiões como o Tibete e Xinjiang a fim de espionar tibetanos, uigures, cazaques étnicos e membros de outros grupos minoritários.
Os acordos para a exportação desse equipamento de vigilância e rastreamento de alta tecnologia são muitas vezes parte da Iniciativa Um Cinturão, Uma Rota da China, de acordo com um relatório recente denominado “Avaliando a Iniciativa Um Cinturão, Uma Rota da China”, do Centro para uma Nova Segurança Americana.
O Zimbábue, por exemplo, como parte de seu acordo de comércio Um Cinturão, Uma Rota, “está importando o sistema de reconhecimento facial da China e provavelmente o aplicará de forma a reduzir o custo do autoritarismo”, informa o relatório.
A China exporta sua filosofia
O “‘modelo chinês’ de desenvolvimento econômico e controle da internet está se tornando mais atraente para líderes autoritários em todo o mundo”, disse Adrian Shahbaz, diretor de pesquisa de tecnologia e democracia da Freedom House, em uma pesquisa realizada em fevereiro* sobre os vínculos entre tecnologia e autoritarismo.

No relatório da Freedom House, chamado “Freedom on the Net 2018”* (Liberdade na Internet 2018, em tradução livre), 18 dos 65 países analisados compraram sistemas de empresas chinesas como Yitu, Hikvision e CloudWalk. Essas empresas combinam “avanços em inteligência artificial e reconhecimento facial para criar sistemas capazes de identificar ameaças à ‘ordem pública’”. Todas essas empresas desenvolveram sua tecnologia em Xinjiang, monitorando uigures.
“Pequim adotou medidas visando propagar seu modelo no exterior, conduzindo capacitação em larga escala para autoridades estrangeiras [e] fornecendo tecnologia a governos autoritários”, de acordo com o relatório da Freedom House.
Os regimes que compram os sistemas de monitoramento da China incluem a Venezuela, que também contratou a empresa de telecomunicações chinesa ZTE para criar um cartão de identidade nacional que se conecta a um banco de dados usado pelo governo com o objetivo de controlar e reprimir os venezuelanos, segundo Kimberly.
Um futuro sombrio
Em 2017, o presidente chinês, Xi Jinping, disse em um discurso ao 19º Congresso do Partido Comunista Chinês que “o caminho, a teoria, o sistema” do modelo de governo da China “oferece uma nova opção para outros países e nações”.
O relatório da Freedom House descreve isso de maneira diferente, dizendo que a China está “refazendo o mundo em sua imagem que combina tecnologia e distopia”.
* site em inglês