Combatendo a escravidão global: uma nova abordagem

Quando Rani Hong tinha 7 anos de idade, ela foi sequestrada e escravizada na Índia, seu país de origem. Quando não era forçada a trabalhar, seus captores a mantinham em uma jaula.

Mulher falando ao microfone (© JC McIlwaine/ONU)
Rani Hong, sobrevivente do tráfico, presta seu testemunho na ONU em 2013. Ela também se manifestou em 2018 (© JC McIlwaine/ONU)

“Meus captores me violavam e me torturavam em nome do lucro”, disse Rani durante uma mesa-redonda em 24 de setembro sobre tráfico de pessoas durante a 73ª Assembleia Geral da ONU. “Eu estava na base da cadeia de fornecimento.”

Mais de 25 milhões de pessoas são submetidas a trabalho forçado ao redor do mundo; 16 milhões delas no setor privado, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT). A escravidão moderna afeta quase cada parte integrante das nossas vidas, desde artigos eletrônicos a vestuários e passando pela agricultura.

O tráfico de pessoas é prevalente em muitas cadeias de fornecimento e pode ser difícil de ser identificado e abordado. Com o intuito de combater isso, os governos de Estados Unidos, Austrália, Canadá, Nova Zelândia e Reino Unido anunciaram um conjunto de Princípios para Guiar Medidas Governamentais para Combater o Tráfico Humano em Cadeias de Fornecimento Globais*.

Pessoa com lenço de cabeça parada na frente de cerca coberta de folhas vermelhas (© Safin Hamed/AFP/Getty Images)
Mulher da comunidade yazidi do Iraque anteriormente escravizada pelo Estado Islâmico (© Safin Hamed/AFP/Getty Images)

“Essa iniciativa é uma tremenda oportunidade para ampliar nossa eficácia e reorientar nosso trabalho sobre as realidades hostis do tráfico que somente os sobreviventes podem entender completamente”, declarou John Sullivan, subsecretário de Estado dos EUA.

Os princípios fornecem um modelo para os governos seguirem a fim de prevenir e abordar o tráfico de pessoas nas cadeias de fornecimento analisando as práticas de compras e encorajando o setor privado a fazer o mesmo nas suas próprias cadeias de fornecimento. Também é importante salientar: compartilhar informações e harmonizar as políticas.

A iniciativa destaca os papéis cruciais exercidos tanto pelo governo como pela comunidade empresarial.

“Combater o tráfico com eficácia nas cadeias de fornecimento requer uma cooperação estratégica com a sociedade civil e, mais importante ainda, com a comunidade empresarial”, afirmou Sullivan. Ele disse que os novos princípios complementam “esforços promissores em andamento no setor privado para desencorajar o trabalho forçado”.

Auditório cheio de pessoas ouvindo palestrantes (Departamento de Estado)
O tráfico humano “é uma indústria gigantesca que gera cerca de US$ 150 bilhões em lucros anuais”, disse o subsecretário de Estado, John Sullivan, durante a 73ª Assembleia Geral da ONU (Departamento de Estado)

Uma empresa que está agindo é a Walmart Inc., a maior varejista do mundo. “Precisamos desbaratar o sistema dessas complexas redes de trabalho onde os traficantes têm podido prosperar e recrutar pessoas para sistemas através da desinformação e da coerção”, afirmou Anbinh Phan, diretora mundial de Assuntos Governamentais da Walmart, durante a mesa-redonda.

Sullivan também anunciou financiamentos adicionais a fim de apoiar o Programa para Acabar com a Escravidão Moderna, do Departamento de Estado dos EUA, que representa um total de US$ 75 milhões em investimentos no programa.

* site em inglês