Cerca de 815 milhões de pessoas passam fome todos os dias. Desse total, mais do que o dobro pode ter comida no prato, mas não está ingerindo os alimentos certos. Dentre aqueles considerados malnutridos estão quem come muito pouco e aqueles que comem demais.
As consequências são terríveis para bebês e crianças pequenas. Quase metade de todas as mortes de crianças com menos de cinco anos de idade está relacionada à subnutrição, segundo a Organização Mundial da Saúde* (OMS).
E 155 milhões de outras crianças sofrem de raquitismo — ou seja, são pequenas demais para a idade — porque não ingeriram vegetais e minerais suficientes, prejudicando seu desenvolvimento físico e mental.
A má nutrição não se refere apenas “a ter muito pouco alimento para comer”, diz o economista britânico e especialista em nutrição Lawrence Haddad. “Trata-se também de não ter o tipo certo de alimento em quantidade suficiente e comer uma grande quantidade do tipo errado.”

Haddad, que passou duas décadas nos Estados Unidos como pesquisador de políticas alimentares e defensor da nutrição, e David Nabarro, médico britânico que liderou uma grande iniciativa de nutrição das Nações Unidas, são os vencedores do Prêmio Mundial da Alimentação* 2018, no valor de US$ 250 mil.
Os laureados, como são chamados, seguem os passos do falecido Norman Borlaug, agrônomo e ganhador do Prêmio Nobel da Paz, e líder da “Revolução Verde”, que ajudou a alimentar o mundo. Borlaug começou a conceder o prêmio em 1986 e o evento é realizado com o apoio de empresas e fundações.
Nabarro, 68, estudou em Oxford e liderou a iniciativa Promoção da Nutrição**, apoiada pela ONU. Ele começou seu trabalho como médico internacional com a Save the Children (Salvem as Crianças), ajudando crianças curdas no Iraque e depois no Nepal. No Departamento para o Desenvolvimento Internacional da Grã-Bretanha, ele ajudou a tornar a nutrição uma prioridade.
Depois de fazer doutorado em Stanford, Haddad, 59, foi diretor da divisão de nutrição do Instituto Internacional de Pesquisa sobre Políticas Alimentares, um centro de estudos de Washington. De volta ao Reino Unido, como chefe do Instituto de Estudos de Desenvolvimento, ele desenvolveu um Relatório Global de Nutrição*** que avalia os países no que se refere a quão bem eles lidam com o problema.
“O grande problema era que todos falavam sobre nutrição, mas ninguém se sentia responsável”, diz ele. “Não existe um Ministério da Nutrição. O tema se insere em uma brecha que resvala na agricultura, na saúde e — geralmente — no bem-estar das mulheres.”

Desde 2016, ele lidera a Aliança Global para uma Melhor Nutrição***, que promove parcerias público-privadas. “Fiquei frustrado com o fato de muitas pessoas no campo da nutrição considerarem as empresas como inimigas e outras [pessoas] que viam os negócios como a única solução.”
Haddad conhece a pobreza muito bem. Ele nasceu na África do Sul, neto de imigrantes libaneses. A família se mudou para Londres em 1961 a fim de escapar do alcance das leis do apartheid. “Dependemos da assistência social durante nove anos”, diz Haddad, que ainda se lembra do constrangimento de ter de apresentar um vale-refeição de cor diferente para o almoço grátis no refeitório da escola.
“Eu me lembro de ter pensado: ‘Se eles apenas mudassem a cor, isso não seria um grande problema’”, diz ele. “Isso me fez pensar muito sobre assistência social, dignidade e estigma” e a importância de ajudar as pessoas “sem fazê-las se sentir diminuídas”.
Os premiados foram anunciados em junho no Departamento de Agricultura dos EUA. A cerimônia de premiação acontece no dia 18 de outubro no Capitólio do estado de Iowa.
Conheça as conquistas dos vencedores do Prêmio Mundial da Alimentação de 2016 e 2017.
* site em inglês e outros cinco idiomas
** site em inglês, francês e espanhol
*** site em inglês