Ilustração de um cidadão russo escondido atrás de uma máscara com as cores da bandeira da Ucrânia (Depto. de Estado/M. Gregory)
(Depto. de Estado/M. Gregory)

Por que a Federação Russa enviaria soldados disfarçados para liderar protestos em outro país? Ou ordenar que suas tropas ataquem parceiros da Rússia?

A Rússia há muito conduz essas operações de “bandeira falsa” com o intuito de retratar a si mesma ou seus parceiros como vítimas, fugir de responsabilidades, semear confusão e criar um pretexto para guerra.

Em 2008, a Rússia enviou soldados não identificados a fim de causar distúrbios na Geórgia. Quando o governo da Geórgia respondeu, a Rússia invadiu. E em 2014, forças especiais russas entraram na Ucrânia fingindo serem forças de autodefesa locais e apreenderam prédios do governo, levando à ocupação russa da Crimeia.

Homem mascarado usando camuflagem e portando binóculos (© Sergei Grits/AP Images)
Um militante pró-Rússia mascarado guarda a Prefeitura em Kostyantynivka, no leste da Ucrânia, em abril de 2014, depois que militantes tomaram o prédio (© Sergei Grits/AP Images)

Agora, autoridades dos EUA alertam que o Kremlin pode estar se voltando para sua velha cartilha.

“Temos informações que indicam que a Rússia já posicionou um grupo de agentes visando conduzir uma operação de bandeira falsa no leste da Ucrânia”, disse a secretária de Imprensa da Casa Branca, Jen Psaki, em 14 de janeiro. “Os agentes são treinados em guerra urbana e no uso de explosivos para realizar atos de sabotagem contra os próprios meios alternativos da Rússia.”

As preocupações de que a Rússia possa conduzir uma operação de bandeira falsa na Ucrânia surgem quando o presidente da Rússia, Vladimir Putin, reuniu mais de 100 mil soldados ao longo da fronteira da Ucrânia e promoveu narrativas falsas* de que a Ucrânia está tentando provocar um conflito.

Os Estados Unidos e seus aliados e parceiros responderam com apelos por uma resolução pacífica. O secretário de Estado, Antony Blinken, viajou para Kiev, Berlim e Genebra de 18 a 21 de janeiro a fim de promover uma abordagem unida para enfrentar a ameaça da Rússia à Ucrânia.

As operações de bandeira falsa da Rússia datam de décadas e assumem muitas formas. Em 1939, a União Soviética bombardeou suas próprias tropas* fora da vila soviética de Mainila, perto da Finlândia. Em seguida, culpou a Finlândia pelo ataque e invadiu seu vizinho, violando o pacto de não agressão dos dois países.

Prédio e carro pegando fogo após bombardeio, com enorme quantidade de escombros em uma rua (© Fox Photos/Getty Images)
Uma rua em Helsinque, Finlândia, vista em 28 de dezembro de 1939, após um bombardeio soviético (© Fox Photos/Getty Images)

Mais recentemente, hackers estatais russos se disfarçaram de agentes do regime do Irã ou do Estado Islâmico do Iraque e da Síria (EIIS) com o objetivo de fugir da responsabilidade. Em 2017, militares da Rússia lançaram um ataque de ransomware (vírus que trava um computador até que o proprietário pague um resgate) contra empresas ucranianas. Embora o ataque tenha sido disfarçado com o intuito de parecer obra de especuladores e não de atores estatais, uma investigação conjunta da Austrália, do Canadá, da Nova Zelândia, do Reino Unido e dos Estados Unidos considerou o Kremlin o responsável, segundo a revista Wired*.

Tuíte:
Oleg Nikolenko: A investigação ainda está em andamento, mas o Serviço de Segurança da Ucrânia obteve indicadores preliminares sugerindo que grupos de hackers associados aos serviços secretos russos podem estar por trás do ataque cibernético intenso de hoje em sites do governo https://ssu.gov.ua/novyny/sbu-rozsliduie-prychetnist-rosiiskykh-spetssluzhb-do-sohodnishnoi-kiberataky-na-orhany-derzhavnoi-vlady-ukrainy… @ServiceSsu @OlegNikolenko_ 

A Otan, em um relatório sobre a estratégia da Rússia no ciberespaço* (PDF, 4,1 MB) de junho de 2021, disse que as bandeiras falsas da Rússia complicam os esforços para identificar hackers e responsabilizá-los.

Autoridades ucranianas anunciaram em 14 de janeiro que hackers tinham como alvo sites do governo, incluindo o do Ministério das Relações Exteriores, e que a Rússia provavelmente é a responsável.

Durante sua viagem à Europa, Blinken se reuniu com o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, em Genebra, para pedir à Rússia que reduza as forças de combate e remova as tropas da fronteira com a Ucrânia.

Um caminho diplomático para diminuir as tensões é vital, disse Blinken a Lavrov em uma ligação em 18 de janeiro. Os Estados Unidos têm um compromisso inabalável com a soberania e a integridade territoriais da Ucrânia, disse ele.