Como o El Niño pode agravar a fome no mundo

Água de enchente cerca edifícios e veículos (© Ivan Alvarado/Reuters)
Um El Niño mais forte poderá agravar as condições meteorológicas extremas em locais como o oeste da América do Sul, onde chuvas fortes provocaram inundações em Santiago do Chile, em junho de 2023 (© Ivan Alvarado/Reuters)

Prevê-se que um padrão meteorológico conhecido como El Niño se fortaleça nas próximas semanas e meses, agravando potencialmente o clima extremo e a crise alimentar global.

Impulsionado por temperaturas da água acima da média no leste do Oceano Pacífico, um padrão El Niño pode causar efeitos variáveis no clima global. Enquanto alguns países podem receber chuvas e inundações acima da média, outros podem sofrer quebras da produção agrícola e secas.

Cary Fowler, enviado especial dos EUA para Segurança Alimentar Global, disse em 13 de julho que um padrão El Niño já se formou este ano. Ele descreveu os riscos do fortalecimento do padrão climático para o abastecimento de alimentos e as medidas que os EUA e seus parceiros estão tomando a fim de aliviar o fardo.

Previsão dos efeitos

Mapa-múndi mostra zonas e períodos chuvosos e secos durante o El Niño (Fonte: Instituto Internacional de Pesquisas sobre Clima e Sociedade, Universidade de Colúmbia)
As condições meteorológicas do El Niño alteram os padrões globais de precipitação. Embora as alterações variem, as grandes mudanças do El Niño permanecem bastante consistentes e resultam nas estações indicadas acima.

“Normalmente são observados declínios globais na produção de algumas das principais culturas de base: trigo, arroz, milho”, disse Fowler em uma coletiva sobre o El Niño e sua Influência na Insegurança Alimentar Global* no Centro de Imprensa Estrangeira em Washington.

Um El Niño pode afetar entre um quarto e um terço das terras do mundo e prejudicar a pesca, acrescentou Fowler, salientando que a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA prevê que os efeitos desse El Niño atinjam o pico no final de 2023 e durem até o início de 2024.

O aumento da pressão climática surge no meio de uma crise alimentar global em que mais de 800 milhões de pessoas em todo o mundo já não têm o suficiente para comer. A guerra brutal da Rússia tem limitado as exportações agrícolas da Ucrânia, um importante fornecedor de alimentos para o Oriente Próximo, a África e outras partes do mundo.

Plantas de arroz germinam em um solo rachado pela seca (© Mimi Saputra/SOPA Images/LightRocket/Getty Images)
O El Niño geralmente provoca clima seco em muitos países do Pacífico. Acima, culturas de arroz sofrem com a seca na Indonésia em julho de 2018 (© Mimi Saputra/SOPA Images/LightRocket/Getty Images)

Redução dos impactos

O governo dos EUA trabalha com países visando combater os impactos das inundações e das secas na agricultura. Através da Visão para Culturas e Solos Adaptados (Vacs, na sigla em inglês), os EUA, a União Africana, a Organização da ONU para Alimentação e Agricultura (FAO), entre outros, estão adaptando as culturas a fim de resistirem às mudanças climáticas e construírem um abastecimento de alimentos mais seguro para a África.

Os EUA já aprovaram um montante inicial de US$ 100 milhões para a Vacs mapear solos férteis e resistentes à seca, e identificar variedades de culturas que possam suportar melhor temperaturas mais elevadas, condições meteorológicas extremas e outros impactos climáticos.

Outras parcerias apoiadas pelos EUA visando promover a agricultura sustentável já:

  • Levaram o milho tolerante à seca* a cerca de 7 milhões de hectares na África Oriental e Meridional, reforçando a segurança alimentar de quase 7 milhões de famílias de agricultores.
  • Ajudaram nativos das Ilhas do Pacífico em Vanuatu, nas Ilhas Salomão, em Tonga e em Kiribati a desenvolver técnicas resistentes ao clima para a produção de culturas ou ter acesso a água potável.
  • Contribuíram com mais de US$ 18 milhões em apoio dos setores público e privado com o intuito de promover a pesca sustentável no Equador e no Peru, onde as águas quentes que impulsionam o El Niño também deslocam estoques de peixes.
Antony Blinken visita um mercado de peixe (Depto. de Estado/Ron Przysucha)
O secretário de Estado, Antony Blinken, visita o mercado de peixe de Chorrillos em Lima, Peru, em 7 de outubro de 2022 (Depto. de Estado/Ron Przysucha)

“Por meio desse investimento, os Estados Unidos estão defendendo uma abordagem que equilibra a conservação de ecossistemas marinhos com o crescimento econômico equitativo e os direitos dos pescadores artesanais”, disse o secretário de Estado, Antony Blinken, ao anunciar a parceria Por La Pesca, ou Pela Pesca, em Lima, Peru, em outubro de 2022.

* site em inglês