Como o Kremlin espalha desinformação na África

Quando o Kremlin quer ganhar influência na África ou apoiar, sem escrutínio, um líder repressivo, muitas vezes trabalha com os principais oligarcas alinhados com o presidente russo, Vladimir Putin. Um favorito do Kremlin é Yevgeniy Prigozhin, conhecido como “chef de Putin” por causa de seus inúmeros contratos de catering (serviço de buffet) firmados com o Kremlin.

Prigozhin é mais bem conhecido por financiar a Agência de Pesquisa na Internet (IRA, na sigla em inglês), uma fábrica de trolls (grupo institucionalizado de trolls da internet que busca interferir nas opiniões políticas e na tomada de decisões)​ conhecida por espalhar desinformação ao redor do mundo. Um relatório do Departamento de Estado descreveu Prigozhin como “gerente e financiador” do Grupo Wagner, referindo-se à agência como intermediária (proxy) do Kremlin visando “realizar operações veladas e armadas no exterior”.

Yevgeniy Prigozhin em pé ao lado de uma porta entreaberta (© MIkhail Svetlov/Getty Images)
Oligarca russo Yevgeniy Prigozhin em 2016 (© Mikhail Svetlov/Getty Images)

O relatório do Departamento de Estado indica que Prigozhin tentou influenciar a política africana em favor da Rússia por meio de:

  • Empresas que exploram os recursos naturais da África.
  • Agentes políticos que minam os atores democráticos.
  • Empresas de fachada se passando por ONGs.
  • Manipulação de mídias sociais e campanhas de desinformação.

Dispersando desinformação

O governo dos EUA tem imposto sanções contra algumas das empresas de Prigozhin pelo que as chama de “influência política e econômica maligna em todo o mundo*”.

Exemplos dessa influência maligna incluem patrocinar missões falsas de monitoramento eleitoral* em Zimbábue, Madagascar, República Democrática do Congo (RDC), África do Sul e Moçambique, segundo o Departamento do Tesouro dos EUA.

Além dos Estados Unidos, a União Europeia e o Reino Unido também aplicaram sanções contra Prigozhin por espalhar desinformação e outras atividades que ameaçam a segurança dos países.

Empresas privadas como Facebook (agora conhecido como Meta) e Twitter também têm atuado contra as operações na internet por Prigozhin na África, incluindo:

  • O Facebook em 2020 removeu contas falsas vinculadas a Prigozhin que promoviam as políticas da Rússia* e visavam principalmente a República Centro-Africana e, em menor grau, Madagascar, Camarões, Guiné Equatorial, Moçambique e África do Sul.
  • Em 2021, o Twitter removeu contas vinculadas a Prigozhin que dependiam de uma mistura de contas reais e inautênticas cujo intuito era introduzir um ponto de vista pró-Rússia* na República Centro-Africana.
  • No início deste ano, o Facebook removeu contas vinculadas a Prigozhin em Nigéria, Camarões, Gâmbia, Zimbábue e RDC que tentavam induzir jornalistas locais* a escrever histórias favoráveis sobre a Rússia.

Voltando-se para o Grupo Wagner

Quatro homens em uniformes camuflados andando por uma pista (© Exército Francês/AP)
A Associated Press informou que esta fotografia sem data fornecida pelo Exército francês mostra as forças do Grupo Wagner no Mali (© Exército Francês/AP)

Em algumas partes da África, o governo russo recorreu ao Grupo Wagner, que Prigozhin ajuda a financiar, a fim de ajudar a alcançar os objetivos de política externa de Putin. O Grupo Wagner é frequentemente associado a uma enxurrada de desinformações direcionadas.

Apesar do nome, o Grupo Wagner não é uma organização unificada. Kevin Limonier, professor especializado em analisar o Grupo Wagner que ensina geopolítica na Universidade de Paris 8, chamou o grupo de “uma galáxia de organizações com nomes diferentes que são difíceis de rastrear*”.

Um relatório do Fundo Carnegie para a Paz Internacional de 2019 diz: “Wagner é um veículo que o Kremlin usa* para recrutar, treinar e enviar mercenários, seja para lutar em guerras ou para fornecer segurança e treinamento a regimes amigos.”

As forças do Grupo Wagner foram destacadas na Ucrânia, na Síria, na Líbia, na República Centro-Africana, em Moçambique e, mais recentemente, no Mali.

O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, reconheceu em maio que o Grupo Wagner estava no Mali, mas apenas para “fins comerciais*”. Em março, autoridades locais da cidade de Moura disseram ao Observatório dos Direitos Humanos que um grupo de forças de língua russa e malianas executou pelo menos 300 civis*. O Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais identificou as forças do Grupo Wagner como envolvidas e chamou o ataque de “a pior atrocidade* no conflito de uma década no Mali”.

Para outros exemplos e mais detalhes sobre a campanha de desinformação financiada pelo Kremlin, confira:

* site em inglês