Paciente com poliomielite no pulmão de ferro, ladeado por profissionais médicos (© AP Images)
Nesta foto de 1955, Ira Holland, 16 anos, que foi atingido pela poliomielite quando viajava, está sendo preparado para uma viagem de ambulância de Boston a um hospital mais próximo de sua casa em Nova York (© AP Images)

Durante a década de 1950, os Estados Unidos viviam todos os dias com medo da poliomielite. A histeria era generalizada porque não havia cura ou prevenção.

Seria necessário quase todos os aspectos da sociedade americana — pais, filhos, médicos, celebridades, mídia, organizações sem fins lucrativos e líderes políticos — para acabar com a pólio que ocorre naturalmente nos Estados Unidos. Porém, as inovações e as lições aprendidas permitiriam aos Centros de Controle e Prevenção de Doenças* (CCPD) enfrentar a luta em todo o mundo.

A pólio, abreviação de poliomielite, ataca o sistema nervoso central e pode levar a uma incapacidade permanente ou à morte. A infecção é mais comum entre bebês e crianças.

Temendo pelas crianças

Sala de aula quase vazia (© Bettmann/Getty Images)
Uma sala de aula da sexta série em Milwaukee, no primeiro dia de aula em 1944, mal está ocupada por causa de uma quarentena da poliomielite (© Bettmann/Getty Images)

Nos anos 1950, surtos de pólio no verão atingiram dezenas de milhares de crianças. A pólio causou o fechamento de praias e piscinas, cinemas e campos de beisebol. Os pais exortaram seus filhos a evitar grandes multidões. A poliomielite atingiu seu ápice nos Estados Unidos com uma epidemia em 1952 que infectou 57.628 pessoas, paralisou 21.269 e matou 3.175.

 Gráfico com texto e imagens mostrando datas significativas relacionadas à poliomielite nos EUA (Depto. de Estado/H. Efrem)
(Depto. de Estado/H. Efrem)

“Eu me lembro de ir à escola quando menino, em Nova York, e na volta, ver o menino na cadeira de rodas, o menino de aparelho ortodôntico e notar a ocasional carteira vazia sabendo que o menino não voltaria”, diz David M. Oshinsky, autor de Poliomielite: Uma História Americana* e diretor de Humanidades Médicas da Faculdade de Medicina da Universidade de Nova York.

Um presidente assume o comando

Embora a pólio fosse rara em adultos jovens e idosos, décadas antes da epidemia de 1952, o presidente Franklin Delano Roosevelt* havia contraído a doença, que o atingiu em 1921, aos 39 anos, e o deixou incapaz de andar. Em 1938, como presidente, Roosevelt fundou a Fundação Nacional para a Paralisia Infantil (agora conhecida como “Marcha dos Dez Centavos*”) para derrotar a poliomielite.

 Franklin Roosevelt e Eleanor Roosevelt sentados, conversando com quatro crianças em cadeiras de rodas (© Bettmann/Getty Images)
O presidente e a sra. Franklin Roosevelt desfrutam de uma conversa com jovens pacientes de poliomielite da Fundação Warm Springs (© Bettmann/Getty Images)

Um exército de voluntários que colecionava moedas de dez centavos ajudou a fundação a pagar pela pesquisa de vacinas, pelo maior ensaio clínico da história americana e por cartazes que mostravam crianças afetadas. Outras campanhas da mídia incluíram celebridades como Elvis Presley e Marilyn Monroe.

Por sua vez, Roosevelt fez pronunciamentos de rádio para instar o público a ajudar a acabar com a pólio.

Abrindo caminho para uma vacina

A talentosa cientista Isabel Morgan* se juntou aos pesquisadores da poliomielite na Universidade Johns Hopkins na década de 1940 para desenvolver uma vacina. Embora tenha saído para criar sua família, suas contribuições e o trabalho realizado pelos CCPD permitiram ao médico Jonas Salk*, da Universidade de Pittsburgh, criar a primeira vacina contra a poliomielite em 1954.

Para testar a eficácia da vacina, voluntários da fundação de Roosevelt organizaram um ensaio clínico duplo-cego nos Estados Unidos que injetou a vacina ou placebos em cerca de 1 milhão de crianças em idade escolar. A vacina foi licenciada para uso nos Estados Unidos em 12 de abril de 1955.

Criança sendo vacinada com seringa enquanto mulher a abraça e outras crianças observam (© AP Images)
Em 25 de abril de 1955, Patsy Murr, estudante da primeira série em Lancaster, Pensilvânia, é vacinada contra a poliomielite pelo médico Norman E. Snyder enquanto seus colegas de classe observam com expressão de medo e curiosidade (© AP Images)

Logo depois, as campanhas de vacinação foram expandidas em todo o país, identificando medidas críticas de controle de qualidade para garantir a imunização segura de crianças e levando os CCPD a acrescentar a vigilância de doenças à sua missão.

Programa Domingos Sabin

Com o financiamento da fundação de Roosevelt, o médico Albert Sabin trabalhou com os CCPD para desenvolver uma vacina oral contra a poliomielite na década de 1960, que era barata e fácil de administrar.

Adultos americanos de certa idade se lembram do “Domingos Sabin”, programa voluntário de imunização em todo o país em que milhões de crianças faziam fila para engolir um cubo de açúcar contendo a vacina líquida da Sabin contra a poliomielite.

No total, esses esforços erradicaram a poliomielite natural nos Estados Unidos em 1979.

Salk e Sabin são lembrados como heróis americanos porque aliviaram o “tremendo medo” que os pais americanos tinham. “A poliomielite foi uma doença destruidora que agia sem distinção ao infectar e causar paralisia de ricos para pobres”, diz o médico Stephen Cochi, especialista em imunização dos CCPD.

À esquerda: Homem de jaleco examina conjunto de tubos de ensaio. À direita: Homem de jaleco sentado à mesa (© Bettmann/Getty Images)
À esquerda: O médico Jonas Salk, que desenvolveu a vacina contra a poliomielite, trabalha em seu laboratório na Universidade de Pittsburgh. À direita: O médico Albert Sabin, trabalhando em seu laboratório na Faculdade de Medicina da Universidade de Cincinnati, era mais conhecido por desenvolver a vacina oral contra a poliomielite (© Bettmann/Getty Images)

Mas os CCPD não haviam terminado seu trabalho.

A luta contra a pólio se torna global

Os EUA ajudaram a lançar a Iniciativa Global de Erradicação da Pólio* em 1988, depois que a Assembleia Mundial da Saúde apoiou por unanimidade uma resolução para eliminar a doença em todo o mundo.

Os outros quatro parceiros da iniciativa na luta são a Fundação Bill e Melinda Gates, a Rotary Internacional, a Unicef e a Organização Mundial da Saúde (OMS). Desde a década de 1990, o Congresso dos EUA alocou centenas de milhões de dólares para os CCPD se empenharem nos esforços globais de erradicação da poliomielite.

Criança em sala de aula lotada recebe medicação oral (© Muhammad Sajjad/AP Images)
Um profissional de saúde administra a vacinação contra poliomielite a uma estudante em Peshawar, Paquistão, em abril de 2019 (© Muhammad Sajjad/AP Images)

Em 2018, havia menos de 30 casos relatados de poliomielite natural** em apenas dois países — Afeganistão e Paquistão. A meta está chegando a zero.

* site em inglês
** site em inglês e outros cinco idiomas