
Opal Lee, natural do Texas, viu muita história em seus 96 anos. Ela viveu durante a Grande Depressão, a Segunda Guerra Mundial e o Movimento pelos Direitos Civis dos EUA. Neste século, ela votou no primeiro presidente afro-americano dos Estados Unidos.
A própria Opal também fez história. Em 2016, aos 89 anos, a professora aposentada e ativista comunitária de longa data assumiu a causa de tornar o Juneteenth, ou 19 de junho, um feriado federal. E conseguiu.
O feriado federal comemora o dia 19 de junho de 1865, quando os soldados da União chegaram a Galveston, Texas, a fim de fazer cumprir a Proclamação da Emancipação, assinada anteriormente pelo presidente Abraham Lincoln, que libertou pessoas escravizadas. (Após o fim da Guerra Civil dos EUA, o Texas foi o último ex-estado Confederado a reconhecer a emancipação.)
Hoje, o Juneteenth é um dia para reconhecer as contribuições dos negros americanos e sua resiliência.
Anos de serviço após trauma vivido
Em 1939, quando Opal tinha 12 anos, manifestantes brancos invadiram a casa de sua família, localizada em um bairro branco em Forth Worth, Texas. A polícia chegou, mas não conseguiu controlar a multidão, que invadiu a casa e queimou os móveis. A destruição forçou a família de Opal a se mudar para vários quarteirões de distância.
Depois de terminar o ensino médio, Opal se casou e teve quatro filhos, obtendo posteriormente um diploma de bacharelado e mestrado. Tornou-se educadora e conselheira de educação domiciliar, trabalhando até 1977, aos 50 anos de idade.

Desde então, Opal tem se dedicado à sua comunidade, atuando como voluntária para ajudar a abrigar os necessitados e operando um banco de alimentos, uma propriedade rural e uma horta comunitária. Mas não foi o suficiente. Então Opal adotou uma nova missão — garantir que o dia de junho, um feriado há muito adotado pelos negros americanos, fosse reconhecido como um feriado federal e celebrado por todos os Estados Unidos.
Realizando um sonho
Opal iniciou uma campanha de caminhada em 2016, que a levou de Fort Worth a outras cidades rumo a seu destino: a cidade de Washington. Durante várias semanas, ela apareceu em cidades onde havia sido convidada para discursar. Posteriormente, ela sempre caminhava os primeiros 4 km em direção ao próximo ponto de parada. A distância tinha relação com os dois anos e meio que escravizados do Texas levaram para entender que eram livres.
“Eu achava que certamente alguém veria uma velhinha de tênis tentando chegar ao Congresso e notaria”, disse ela à rede de televisão CNN.
A CNN e outros meios de comunicação prestaram atenção.
Após sua estreia em 2016, a campanha de caminhada de Opal se tornou um evento anual — até junho de 2021, quando a legislação para tornar o dia de junho um feriado federal foi aprovada pelo Congresso e sancionada* pelo presidente Biden. Opal, então conhecida como a “avó do Juneteenth”, foi convidada para a cerimônia de assinatura da Casa Branca, onde foi aplaudida de pé.

Borris Miles, senador do estado do Texas, descreve Opal Lee como uma “lenda viva”, mas mesmo aos 96 anos ela não parou depois dessa conquista. Ela publicou Juneteenth: A Children’s Story (19 de junho: um conto infantil, em tradução livre) nos últimos anos e planeja continuar educando outras pessoas sobre o Juneteenth e os efeitos do racismo.
Hoje, ela está arrecadando fundos para o Museu Nacional Juneteenth* em Fort Worth, com inauguração prevista para 2024. E ela tem planos de atuar no enfrentamento do desemprego, da falta de moradia, de problemas sanitários e das mudanças climáticas.
“Todo mundo tem um papel a desempenhar”, diz ela.
* site em inglês