Culturas geneticamente modificadas podem desacelerar as mudanças climáticas. Veja como.

Homem colhendo mamão (© Aliança para a Ciência da Universidade Cornell)
Michael Kamiya colhe mamões geneticamente modificados na fazenda de sua família no Havaí (© Aliança para a Ciência da Universidade Cornell)

Esta é a primeira de uma série de duas partes sobre agricultura climaticamente inteligente. A seguir, um artigo sobre agricultura que se adapta aos efeitos das mudanças climáticas. 

Muitas atividades agrícolas — dirigir tratores, cultivar o solo, aplicar fertilizantes ou pesticidas — emitem gases de efeito estufa no meio ambiente. Mas especialistas estão descobrindo que as culturas geneticamente modificadas podem reduzir essas emissões.

A engenharia genética é quando cientistas usam a tecnologia de DNA recombinante para alterar a composição genética de um organismo. Em 2019, essa foi a tecnologia de cultivo mais rapidamente adotada na história da agricultura moderna. Durante aquele ano, o mais recente para o qual há dados disponíveis, agricultores de 29 países plantaram 190 milhões de hectares de culturas geneticamente modificadas, de acordo com o Serviço Internacional para Aquisição de Aplicações em Agrobiotecnologia (ISAAA)*.

Culturas geneticamente modificadas comuns são variedades de milho, soja, algodão e canola. Suas características podem enfrentar desafios agrícolas e, ao fazê-lo, ajudar a desacelerar as mudanças climáticas. As duas características mais notáveis ​​são a tolerância a herbicidas e a resistência a insetos.

Essas características permitiram aos agricultores reduzir a pulverização de pesticidas em 8,6% entre 1996 e 2018, de acordo com a Aliança para a Ciência da Universidade Cornell*.

Menos ervas daninhas, menos aragem

Culturas tolerantes a herbicidas não morrem e nem murcham quando são tratadas com herbicidas que matam vegetações indesejadas.

O plantio de culturas tolerantes a herbicidas “permite a produção ideal — a capacidade de gerenciar culturas para outras variáveis, sabendo que não serão dominadas por ervas daninhas”, disse David Baltensperger, chefe do Departamento de Ciências do Solo e Culturas da Universidade de Agricultura e Mecânica do Texas.

Além do mais, essas culturas tolerantes resultam em menos aplicações de herbicidas e menos aragem do solo.

Arar o solo acaba com os sistemas de raízes destrutivas das ervas daninhas. Mas também libera gases de efeito estufa do solo transformado para a atmosfera, assim como acontece com tratores usados ​​para arar. Culturas tolerantes a herbicidas exigem menos preparação do terreno, portanto, há menos gases de efeito estufa. E os agricultores podem reduzir a erosão do solo e obter melhores colheitas.

Cientistas introduziram culturas tolerantes a herbicidas nos Estados Unidos em 1996. Em 2020, 90% da área de milho em âmbito nacional usava esses tipos de sementes, de acordo com o ISAAA. Outros exemplos de culturas tolerantes a herbicidas nos EUA são algodão, canola e soja.

Menos pesticidas, emissões e resíduos

Enquanto isso, as culturas podem ser geneticamente modificadas a fim de resistir a insetos prejudiciais, incorporando uma proteína de bactérias matadoras de insetos. Elas são comumente chamadas de “culturas Bt”, porque proteínas de Bacillus thuringiensis (Bt), uma bactéria do solo, foram adicionadas a elas. Cerca de 405 milhões de hectares de terras agrícolas em todo o mundo cultivam culturas que incorporam Bt*, de acordo com a Aliança para a Ciência da Universidade Cornell.

Os agricultores que plantam culturas resistentes a insetos controlam as pragas sem pulverizar produtos químicos prejudiciais. Isso, por sua vez, reduz as emissões de gases de efeito estufa das máquinas que aplicam inseticidas.

Berinjelas no pé (© Aliança para a Ciência da Universidade Cornell)
A berinjela Bt, geneticamente modificada e resistente a insetos, cresce em Bangladesh (© Aliança para a Ciência da Universidade Cornell)

Os genes Bt estão disponíveis para a produção de milho e algodão nos Estados Unidos desde 1996. Em 2020, 82% dos campos de milho e 88% dos campos de algodão dos EUA foram plantados com essas safras tolerantes, resultando em menos aplicações de herbicidas e menos aragem, de acordo com o Departamento de Agricultura dos EUA*.

As culturas resistentes a insetos são plantadas em todo o mundo e amplamente utilizadas na Argentina, na Austrália, no Brasil, no Canadá e nos Estados Unidos.

As culturas Bt fornecem aos agricultores maior certeza de uma colheita nutritiva e de alta qualidade. (Quando as culturas não são resistentes a insetos, “há muitos alimentos desperdiçados por causa de insetos, porque eles danificam a safra e, consequentemente, ela não serve mais para o consumo humano”, disse Baltensperger.) O algodão Bt, cada vez mais cultivado em pequenas propriedades rurais em lugares como a Índia e a Austrália, pode reduzir pela metade o uso de sprays de inseticida enquanto aumenta significativamente a renda dos agricultores, de acordo com um relatório do ISAAA*.

Em Bangladesh, a berinjela Bt (ou Bt brinjal) transformou os sistemas alimentares dos agricultores*, permitindo-lhes ganhar mais e alimentar mais pessoas.

“Com as variedades tradicionais, eu perderia 40% da minha safra devido aos danos causados ​​por pragas”, disse o agricultor Md. Milon Mia à Aliança para a Ciência. “Com a berinjela Bt, não preciso usar pesticida e a cultura não sofre nenhum dano devido a pragas. Todos os meus vizinhos estão animados e dizem: ‘O que é isso? Por favor, nos dê uma berinjela, queremos provar!’”

A agricultura climaticamente inteligente está claramente virando moda.

* site em inglês