Lee Ae-ran escapou da Coreia do Norte, onde viu a fome em primeira mão, em 1997. Ela e sua família passaram fome durante a década de 1990, período devastador em que centenas de milhares de norte-coreanos morreram de fome.
Quando ela e sua família conseguiram chegar à Coreia do Sul, Lee não foi capaz de se livrar do assunto comida. Ela estudou Alimentação e Nutrição e se tornou a primeira mulher desertora a obter um doutorado em seu campo. “Na Coreia do Norte, mesmo hoje em dia, independente do status social de alguém, ainda há grande dificuldade no que se refere a acesso à comida. A sensação de sobrevivência ainda está em risco para muitas pessoas no país”, diz ela.

Depois de se tornar a primeira desertora norte-coreana a concorrer a uma cadeira na Assembleia Nacional da Coreia do Sul, Lee abriu um restaurante em Seul. O local, chamado Neungra Bapsang, serve pratos inspirados na Coreia do Norte. Para ela, a comida é uma ponte que leva a uma maior compreensão. “Todos os funcionários do meu restaurante são desertores, a fim de que possam ter essa experiência de terem um emprego”, disse Lee. “Para eles, é muito difícil encontrar emprego.”
‘A unificação começa na mesa’

Lee não acredita que haja uma cozinha “norte-coreana” ou “sul-coreana”, mas sim um espectro de especialidades regionais.
O naengmyeon, macarrão de trigo-sarraceno de Pyongyang, é uma iguaria associada à capital da Coreia do Norte que viajou para o sul quando as famílias se separaram durante a Guerra da Coreia. Lee serve esse e outros pratos inspirados em sabores norte-coreanos. Com apenas ingredientes naturais, Lee busca oferecer um sabor fresco e leve.
Sua diplomacia alimentar tocou milhares de vidas. Às vezes, desertores chegam e pedem pratos que não estão no cardápio — uma pequena lembrança da terra natal.
“A unificação começa na mesa”, está escrito em uma placa na parede.
Todos os anos, ela fornece os biscoitos coreanos tradicionais yakgwa, de mel e gergelim, para as tropas sul-coreanas e americanas como um gesto de amizade.