Peles de animais, outras partes de animais e garrafas em prateleiras (© Romeo Gacad/AFP/Getty Images)
A pele de um gato selvagem raro é exposta com outras partes de animais selvagens em uma loja de medicina tradicional em Mianmar (© Romeo Gacad/AFP/Getty Images)

O comércio ilegal de vida selvagem, que gera quase US$ 20 bilhões anualmente para organizações criminosas, está sob pressão dos Estados Unidos.

Desde 2015, a Força-Tarefa Presidencial contra o Tráfico de Vida Selvagem tem ativado uma estratégia de três frentes a fim de promover a aplicação da lei, construir uma cooperação internacional e reduzir a demanda por animais selvagens e suas partes do corpo para fins de comércio ilegal. O procurador-geral dos EUA e os secretários de Estado e do Interior copresidem a força-tarefa, que recorre a 17 agências federais visando implementar a Estratégia Nacional para Combater o Tráfico de Vida Selvagem.

No ano fiscal de 2019, o governo dos EUA planejou gastar US$ 114 milhões* visando combater o tráfico de vida selvagem no mundo inteiro, segundo a Análise Estratégica da Lei para Eliminar, Neutralizar e Interromper o Tráfico de Vida Selvagem 2020.

Peles de animais, outras partes de animais e garrafas em prateleiras (© Romeo Gacad/AFP/Getty Images)
A pele de um gato selvagem raro é exposta com outras partes de animais selvagens em uma loja de medicina tradicional em Mianmar (© Romeo Gacad/AFP/Getty Images)

“Trabalhamos com uma abordagem ampla e de todo o governo sobre opções estratégicas com o intuito de deter o tráfico de vida selvagem mundialmente”, disse Rowena Watson, do Bureau de Oceanos e Assuntos Científicos e Ambientais Internacionais do Departamento de Estado.

O problema

A perda de espécies icônicas de qualquer lugar no mundo afeta o turismo e retira recursos de países que precisam delas para seu próprio desenvolvimento sustentável, segundo Mary Rowen, assessora sênior de Vida Selvagem da Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional (Usaid). “Não queremos perdê-las por qualquer razão — perdas como essa afetam muitos [países]”, disse ela.

A demanda de espécies protegidas — dentre elas, pangolins, elefantes e rinocerontes — promove o comércio ilegal e lucrativo. A demanda está em alta na Ásia, particularmente na China, devido ao poder de compra de uma classe média em expansão. “A China está definitivamente no cerne do problema”, disse Rowena, que lidera uma equipe de conservação de vida selvagem no Departamento de Estado.

Crimes contra elefantes e rinocerontes na África prejudicam a população local de diversas maneiras. Geram corrupção e minam o Estado de Direito, e comprometem ganhos de conservação duramente conquistados. Tais crimes saqueiam das comunidades seus recursos naturais e meios de subsistência, disse Mary. Outras espécies caçadas para fins alimentícios — incluindo pangolins, primatas, ratos e morcegos — podem transmitir doenças passíveis de se espalhar para uma pessoa e, posteriormente, vilarejos ou outros países do mundo.

Chifres de rinocerontes, feitos da mesma proteína presente na unha humana, são triturados e usados na medicina tradicional asiática. E são também vendidos como itens para afirmar status — usados em joias, por exemplo. Em um ano recente, 508 rinocerontes tiveram partes do corpo saqueadas somente da África do Sul, segundo o Fundo Mundial para a Natureza.

Elefantes africanos são abatidos por causa de suas presas, que são usadas para criar objetos artísticos — desde esculturas complexas a pulseiras simples. Diariamente, aproximadamente 55 elefantes africanos são mortos a fim de extraírem seu marfim, de acordo com o Fundo Mundial para a Natureza. Às vezes, a pele coriácea dos elefantes é transformada em bijuterias e banquinhos.

Estima-se que 195 mil pangolins, encontrados na África e na Ásia, foram traficados em 2019 apenas por causa de suas escamas, relata o Fundo Mundial para a Natureza. A carne do pangolim é considerada uma iguaria na China e no Vietnã, e alega-se (sem provas) que as escamas dos mamíferos curam certas doenças e melhoram a lactação em mães que amamentam. De acordo com a organização C4ADS, 253 toneladas de escamas de pangolim foram confiscadas em todo o mundo entre 2015 e 2019. A maioria delas foi destinada à China. As escamas são frequentemente traficadas para a China da Nigéria, dos Camarões e da República Democrática do Congo.

Pangolim descansando a cabeça na mão de uma pessoa (© Denis Farrell/AP Images)
Depois de ser resgatado de caçadores ilegais, um pangolim se recupera no Hospital Veterinário de Vida Selvagem de Joanesburgo (© Denis Farrell/AP Images)

Soluções

Agências dos EUA, que fazem parte da Força-Tarefa Presidencial contra o Tráfico de Vida Selvagem, estão tomando medidas para acabar com o tráfico:

  • Fortalecimento da aplicação da lei: Agências governamentais trabalham para melhorar todo o sistema de resposta da justiça criminal, inclusive interdições, aplicação da lei e processos judiciais. O Departamento de Estado trata o tráfico de vida selvagem como uma grande empresa criminosa transnacional e uma ameaça à segurança nacional. Ajuda outros países a implementar leis para pôr fim a esse crime. A Usaid e o Departamento de Estado fornecem capacitação ao longo da cadeia de fiscalização, incluindo promotores a fim de ajudá-los a desenvolver casos. “A ideia de melhorar os processos judiciais é pegar pessoas em cargos elevados na cadeia alimentar”, disse Mary, da Usaid.
  • Construindo cooperação internacional: O Departamento de Estado usa a diplomacia visando assegurar compromissos nos mais altos escalões com o intuito de interditar mercados de vida selvagem que correm alto risco de extinção. E também pôr fim à corrupção e interromper o fluxo de dinheiro decorrente do tráfico. A Usaid trabalha com o setor de aviação com o intuito de reduzir o uso de transporte aéreo para o tráfico de animais e suas partes do corpo.
  • Reduzindo a demanda: Trabalhando através de suas embaixadas, os EUA fazem contato com pessoas do mundo inteiro, educando-as sobre os perigos impostos pelo comércio ilegal de vida selvagem, inclusive as ligações muito reais à disseminação de doenças. A Usaid usou uma pesquisa inicial na China e na Tailândia a fim de determinar quem compra quais produtos extraídos da vida selvagem, por que e sob quais circunstâncias. A Usaid, juntamente com outras agências, organizações não governamentais e profissionais de marketing, está gerando campanhas de comunicação que podem mudar o comportamento do consumidor*. Para isso, a agência toma como base lições aprendidas nesses países e estudos em andamento que apoia no Vietnã.

* site em inglês

Uma versão anterior desse artigo foi publicada em 15 de outubro de 2020.