Uma revolução científica silenciosa está nos deixando mais próximos de alimentar o mundo.
Cientistas e empreendedores estão mudando a maneira como produzimos os alimentos, tornando a agricultura pronta para uma nova revolução verde. Atualmente, os agricultores americanos podem saber em minutos a profundidade e o espaçamento ideais para o plantio de sementes, graças a dados da “agricultura de precisão” enviados de sensores em satélites e aeronaves para computadores em tratores.

Outras inovações incluem sistemas avançados de irrigação, drones para o manejo de água e doenças*, sementes resistentes a seca e pragas e estufas e fazendas de peixe em arranha-céus. Algumas das pesquisas e tecnologias agrícolas mais promissoras estão em exposição no Pavilhão dos EUA** na Expo Milão 2015.
Do laboratório para a mesa
Embora algumas tecnologias agrícolas avançadas ainda não sejam amplamente utilizadas, “a ciência e a tecnologia terão grande impacto na redução da fome e da desnutrição no mundo todo”, segundo Mark Rosegrant, do Instituto Internacional de Pesquisa em Políticas Alimentares (IFPRI), com sede em Washington.
As inovações agrícolas poderão aumentar o rendimento das colheitas globais em até dois terços e ajudar a reduzir os preços dos alimentos pela metade até 2050, segundo relatório de 2014 divulgado pelo instituto*. Isso pode ajudar o mundo a produzir alimentos em quantidade suficiente para alimentar a população mundial de 9 bilhões de habitantes prevista para 2050, apesar dos efeitos negativos do aquecimento global na agricultura.
Mas o aumento da produção de alimentos exigirá nada menos do que uma revolução verde nas regiões onde é maior o potencial para aumentar o rendimento das colheitas, dizem os especialistas, principalmente na África. Embora mais da metade das terras agricultáveis não utilizadas do mundo estejam no continente, os agricultores africanos produzem sete vezes menos por hectare do que os agricultores dos países desenvolvidos.

Sementes de alta tecnologia para propriedades de baixa tecnologia
A transferência de tecnologia do mundo desenvolvido para as nações em desenvolvimento não será fácil. Por exemplo, a agricultura de precisão demanda equipamentos caros de alta tecnologia bem como infraestrutura avançada de telecomunicação, fazendo assim mais sentido econômico em grandes propriedades agrícolas comerciais — e a maioria das propriedades agrícolas dos países em desenvolvimento são pequenas.
Mas os agricultores do mundo em desenvolvimento podem adotar algumas inovações agrícolas quando elas se tornam mais simples, menos dispendiosas e mais fáceis de usar, segundo Josette Lewis, diretora associada do Centro Mundial de Alimentos da Universidade da Califórnia, em Davis. Entre os exemplos estão sensores básicos para medir a umidade e o teor de nutrientes do solo, bem como kits de baixo custo para irrigação por gotejamento. Mais eficientes do que os pulverizadores, os sistemas de irrigação por gotejamento levam a água diretamente à raiz das plantas com tubos porosos ou perfurados instalados na superfície ou abaixo da superfície do solo.

O governo Obama lançou a iniciativa Alimentar o Futuro*, parceria que reúne 19 países na África, América Latina e Ásia, a fim de aumentar a produtividade de pequenos agricultores e os rendimentos dos agricultores através da pesquisa e tecnologia.
Os governos de países em desenvolvimento podem ajudar a disseminar novas práticas agrícolas e pressionar por tecnologias de alto potencial adotando regulamentações favoráveis aos negócios e políticas de investimento estrangeiro, diz Josette.
Em alguns casos, abordagens inovadoras de baixa tecnologia têm mais chance de encontrar aplicações abrangentes. Por exemplo, a empresa israelense Tal-Ya fabrica bandejas que coletam o orvalho e o canalizam para as plantas, tecnologia simples bem adaptada a regiões semiáridas e secas. Esse dispositivo já foi adotado por agricultores de EUA, China, Chile, Geórgia, Sri Lanka e Austrália, segundo o site da empresa.
As tecnologias com maior potencial de uso nos países em desenvolvimento incluem plantio direto (isto é, o cultivo sem necessidade de lavrar ou arar o solo), uso mais eficiente dos fertilizantes, plantação de culturas resistentes ao calor e proteção das culturas contra ervas daninhas, insetos e doenças, segundo o relatório do IFPRI.
Variedades inovadoras de sementes poderão contribuir para aumentar de maneira expressiva a produtividade das colheitas e a renda dos agricultores no mundo em desenvolvimento, segundo Rosegrant, porque são relativamente fáceis de serem transportadas e distribuídas.
Dois milhões de agricultores africanos já usam milho resistente à seca desenvolvido pelos EUA e 4 milhões de agricultores asiáticos plantam sementes de arroz resistentes a inundações desenvolvidas com a ajuda de pesquisadores americanos.
Salvando colheitas
Pesquisadores e inovadores em tecnologia também estão ocupados tentando encontrar maneiras para reduzir a quantidade de alimentos perdidos depois da colheita. Segundo algumas estimativas, até 60% das colheitas são perdidas devido a práticas agrícolas impróprias, em particular armazenamento, e infraestrutura inadequada para o transporte das culturas até os mercados.

Técnicas de armazenamento e refrigeração de pequena escala — como melhores silos de barro, silos de metal, tambores de metal/plástico e resfriamento por evaporação — podem ajudar a garantir a segurança, a qualidade e a capacidade de comercialização das colheitas em áreas sem acesso a armazenamento ou energia convencionais. Josette também cita a secagem de frutas e hortaliças nas propriedades agrícolas como outra maneira de preservar o valor de mercado dos produtos agrícolas.
“Essas soluções não são apenas importantes para garantir o frescor e a segurança da produção agrícola, mas também permitem aos agricultores comercializá-la quando o preço for justo”, diz Josette.
A internet e os aplicativos para dispositivos móveis podem ajudar os agricultores a conhecer melhores práticas e novas tecnologias, compartilhar conhecimento e se conectar com mercados.

Não se pode produzir alimentos com celulares, mas eles podem ajudar os agricultores a obter informações mais rápido do que com sistemas convencionais”, diz Rosegrant. Somente na África a internet poderá ajudar a aumentar a produtividade agrícola em US$ 3 bilhões por ano, segundo relatório de 2013 da McKinsey*.
Start-ups de tecnologia de Botsuana, Quênia e outras nações africanas já tentam alcançar agricultores de áreas remotas com aplicativos que fornecem diagnósticos veterinários, orientação para a plantação e mercados virtuais.
Mas é só até aí que podem ir as tecnologias e práticas agrícolas cada vez melhores. Para alcançar reduções significativas nas perdas pós-colheita, são necessárias grandes melhorias na infraestrutura de transporte e energia na África e no Sul da Ásia, segundo Rosegrant.
Será que existe um aplicativo para isso? Ainda não.
*site em inglês
**site em inglês e italiano