Por quase 50 anos, Ursula Bellugi liderou pesquisas no Instituto Salk de Estudos Biológicos*, em San Diego, no laboratório de neurociência cognitiva da organização.
Ursula foi pioneira no estudo dos fundamentos biológicos da linguagem. Quando ela morreu em La Jolla, Califórnia, perto de San Diego, no início deste ano, aos 91 anos, o Instituto Salk a descreveu como “a primeira a demonstrar que a Linguagem Americana de Sinais (LAS) é uma língua verdadeira”, com sua própria gramática e sintaxe.
Enquanto o mundo comemora o Dia Internacional das Linguagens de Sinais em 23 de setembro, o trabalho de Ursula, reconhecido globalmente, está de volta aos holofotes.

Muitas vezes colaborando com seu marido, o linguista Edward S. Klima (1931–2008), Ursula trabalhou para criar a neurobiologia da LSA. O casal fez avançar a compreensão que cientistas tinham sobre as origens da linguagem no cérebro — seja sinalizada, falada ou escrita.
Ursula diferenciou as mais de cem linguagens de sinais do mundo como línguas por direito próprio, em vez de traduções de discurso direto.
Ela disse uma vez sobre sua pesquisa: “Ninguém acreditava que havia algo como linguagem entre os surdos. Descobrimos e revelamos as linguagens particulares que os surdos inventaram por conta própria, e eram linguagens da mão e nos olhos.”
Além disso, Ursula provou que os sistemas linguísticos foram passados de uma geração de surdos para a próxima.
Origem
Depois de se formar, ela se casou com o compositor e maestro italiano Piero Bellugi, teve dois filhos e se divorciou em 1959 (mas manteve o sobrenome do primeiro marido). Em 1967, ela obteve um doutorado em Educação pela Universidade de Harvard, onde se tornou professora associada. Fascinada pelo desenvolvimento da linguagem em crianças, começou a estudar a linguagem de sinais e a trabalhar com surdos.
Durante o período em que foi professora titular na Harvard, ela se casou com Klima. Em 1968, mudaram-se para La Jolla, onde Ursula começou a trabalhar no Instituto Salk a convite de Jonas Salk. Ela é autora ou coautora de vários livros (incluindo The Signs of Language [Os sinais da linguagem, em tradução livre]) e recebeu vários prêmios reconhecendo suas realizações em Linguística e Neurobiologia.

Apagando o estigma
O trabalho de Ursula e Klima contribuiu para uma aceitação mais ampla da LAS como uma língua de instrução e fortaleceu o movimento do orgulho de pessoas surdas durante a década de 1980, de acordo com o New York Times.
Suas conquistas não pararam por aí. Em 1981, ela começou a pesquisar a Síndrome de Williams*, uma doença genética que produz déficits cognitivos e também aumenta a sociabilidade. Hoje, ela é amplamente considerada como pioneira no estudo da Síndrome de Williams, usando tecnologias avançadas de imagem para visualizar como as deleções de genes alteram a atividade cerebral.
“Ela deixa um legado indelével de esclarecer como os humanos se comunicam e socializam”, disse o presidente do Instituto Salk, Rusty Gage. “A humanidade e a compaixão que ela trouxe a seu trabalho foram verdadeiramente especiais.”
* site em inglês