Embaixadora dos EUA Michèle Taylor, descendente de sobreviventes do Holocausto

Três crianças em fotografia antiga (Cortesia: embaixadora Michèle Taylor)
A mãe da embaixadora Michèle, na extrema direita, Hanne Susi Trnka, escapou do Holocausto. O mesmo aconteceu com a prima de sua mãe Luise Lise Grün (à esquerda), que foi enviada para Londres sozinha como parte do “Kindertransport” (do alemão, “transporte de crianças”) aos 5 anos de idade. Já o primo de sua mãe Herbert Grün (ao centro), não. Os nazistas o assassinaram em Riga em 1942, quando ele tinha 12 anos (Cortesia: embaixadora Michèle Taylor)

O Dia Internacional em Memória do Holocausto, comemorado em 17 e 18 de abril, homenageia 6 milhões de judeus e milhões de outras vítimas mortas por nazistas e seus colaboradores durante o Holocausto. E também presta tributo aos sobreviventes e seus descendentes que mantêm seus legados vivos através do serviço público.

A embaixadora Michèle Taylor, filha e neta de sobreviventes do Holocausto, começou seu mandato como representante permanente dos EUA no Conselho de Direitos Humanos da ONU, em Genebra, em fevereiro de 2022. Nesse papel, ela lança luz sobre violações dos direitos humanos ao redor do mundo e luta contra a intolerância.

A família de Michèle conhece a intolerância de perto. Ela contou que na Kristallnacht, que traduzida literalmente do alemão quer dizer “Noite dos Cristais”, em novembro de 1938 em Viena, os nazistas apareceram procurando por seu avô. “Felizmente, minha família havia sido alertada e ele estava escondido e escapou da morte certa, embora minha avó tenha sido ameaçada por eles, que afirmaram que retornariam procurando por ele até ele ser encontrado”, disse ela.

Roupa de criança manchada (Cortesia: embaixadora Michèle Taylor)
A mãe da embaixadora Michèle, na extrema direita, Hanne Susi Trnka, escapou do Holocausto. O mesmo aconteceu com a prima de sua mãe Luise Lise Grün (à esquerda), que foi enviada para Londres sozinha como parte do “Kindertransport” (do alemão, “transporte de crianças”) aos 5 anos de idade. Já o primo de sua mãe Herbert Grün (ao centro), não. Os nazistas o assassinaram em Riga em 1942, quando ele tinha 12 anos (Cortesia: embaixadora Michèle Taylor)

Mas houve violência e, daquela noite em diante, afirmou Michèle, sua mãe, então com 3 anos, ficou aterrorizada com as lembranças de um membro da família sendo baleado na frente dela. O entendimento de Michèle é que sua avó acabou se juntando ao avô na clandestinidade e sua mãe foi levada para outro lugar por segurança. “Mas, como muitas outras famílias, provavelmente nunca conhecerei as pessoas corajosas que os esconderam ou como eles conseguiram obter vistos e emigrar para os Estados Unidos”, disse ela. Os avós paternos da mãe de Michèle foram assassinados pelos nazistas em Riga.

Compreensivelmente afetados pelo trauma, nem seus avós nem sua mãe falaram sobre suas próprias experiências além de alguns detalhes dispersos. Michèle disse que só ouviu histórias deles sobre o que aconteceu com seus parentes.

Roupa de criança manchada (Cortesia: embaixadora Michèle Taylor)
Roupa da mãe da embaixadora Michèle com manchas parecendo respingos de sangue. Michèle presume que sua mãe estava usando o traje quando um membro da família foi baleado e que seus pais o guardaram como prova. Ela pretende enviá-lo ao Museu Memorial do Holocausto dos EUA para análise (Cortesia: embaixadora Michèle Taylor)

“Meus avós eram pessoas boas e gentis que fizeram muito por suas comunidades, mas também eram visivelmente tristes e profundamente cautelosos (eu chamava meu avô de ‘vovô-tenha-cuidado’). Posso ver pelas fotos antigas que eles já foram pessoas felizes e aventureiras. Devastadoramente, minha mãe estava fundamentalmente fragilizada e nunca foi capaz de cuidar adequadamente de mim ou de si mesma.”

Quando Michèle tinha 12 anos e morava na área da Baía de São Francisco, um político abertamente gay de São Francisco chamado Harvey Milk foi morto. A agitação resultante destacou a discriminação contra a comunidade gay em San Francisco. “Eu entendi que estereotipar qualquer grupo de pessoas não era diferente do que aconteceu com minha família, e eu sabia aonde isso poderia levar”, afirmou.

Naquela época, Michèle fez uma promessa pessoal de fazer o que pudesse para lutar contra o ódio e a intolerância. Seu trabalho assumiu muitas formas, incluindo apoiar mulheres a se formar em Ciência, Tecnologia, Engenharia, Matemática (CTEM), combater a violência contra as mulheres e abordar a prevenção moderna de genocídio e atrocidade, antissemitismo e negação do Holocausto por meio do Museu Memorial do Holocausto dos EUA.

“A capacidade de combinar meu amor pelas pessoas, minha atração pelo serviço público e meu compromisso implacável com Tikkun Olam [mandato judaico para reparar o mundo] como embaixadora dos EUA no Conselho de Direitos Humanos dá a sensação de estar administrando de verdade o legado da minha família.”

Criança em pé no convés de um navio com os pais sentados ao lado dela (Cortesia: embaixadora Michèle Taylor)
A mãe da embaixadora Michèle, Hanne Susi Trnka (posteriormente, Susi Hanne Nichols), ao centro, e os pais de sua mãe, Edith e Leo, no navio rumo aos Estados Unidos em 1939. Sua mãe tinha 4 anos (Cortesia: embaixadora Michèle Taylor)

Outros funcionários do Departamento de Estado também escolheram o serviço público como uma homenagem adequada aos parentes que foram sobreviventes ou vítimas do Holocausto e também compartilharam suas experiências.

O secretário de Estado, Antony Blinken, enteado de um sobrevivente do Holocausto, disse que a “história de seu padrasto me impressionou profundamente. Isso me ensinou que o mal em grande escala pode acontecer e acontece em nosso mundo — e que temos a responsabilidade de fazer tudo o que pudermos para impedi-lo”.

Ellen Germain atua como enviada especial dos EUA para Questões do Holocausto, com a missão de devolver os bens perdidos durante o período aos seus legítimos proprietários, garantir a compensação pelos crimes nazistas e garantir que o Holocausto seja lembrado*.

“É muito importante contar a história exata e contá-la para as gerações mais jovens que não têm conexão pessoal com a Segunda Guerra Mundial, o Holocausto, e muitas vezes não têm chance de encontrar um sobrevivente”, declarou Ellen.

Este artigo foi publicado originalmente em 27 de abril de 2022.

* site em inglês