Empresas dos EUA usam a criatividade para atrair consumidores 

Como os efeitos do novo coronavírus têm prejudicado os gastos no varejo, economistas estão observando atentamente o comportamento do consumidor americano.

Afinal, o consumidor tem ajudado a tirar a economia dos EUA de crises anteriores e também impulsionado economias em outras partes do mundo. “O restante do mundo está certamente torcendo pelo consumidor dos EUA e pelo fim da crise, porque somos uma economia interdependente”, diz Mark Mathews, analista da Federação Nacional do Varejo*, a maior associação de comércio varejista do mundo.

Pessoa andando de moto e pessoas passando por supermercado, com seus reflexos em poça d’água na rua (© John Minchillo/AP Images)
Pedestres e motociclista usam máscaras perto de um pequeno empório de alimentos no Brooklyn em abril, quando era o único comércio aberto na rua (© John Minchillo/AP Images)

Nos EUA, os gastos do consumidor normalmente representam cerca de 70% da atividade econômica. A maneira como os varejistas se adaptam a eventos recentes pode oferecer dicas para o retorno dos números saudáveis ​​de vendas.

As diretrizes do confinamento em casa têm ajudado mercearias, drogarias, lojas de grande porte, lojas de 1,99 e varejistas que vendem mercadorias em grande quantidade para assinantes como Costco e Sam’s Club, diz Mathews. Essas lojas vendem produtos que os americanos estocam para evitar sair de casa.

Hoje, porém, mesmo essas lojas estão usufruindo de maior sucesso ao oferecer novos serviços. “As pessoas não querem ir à loja (…) então, o que estamos vendo é uma mudança para [compras] on-line, mas também uma mudança para encomendas com uma quantidade maior de produtos”, diz Mathews. As lojas estão encontrando novas cadeias de suprimentos e estocando mais itens a granel, quando podem.

Redes de lojas que oferecem grandes descontos em artigos domésticos, como Lowe’s e Home Depot, estão vendo um aumento nas vendas. As pessoas que trabalham de casa estão dedicando o tempo que normalmente despenderiam se deslocando do local onde moram para o trabalho e vice-versa em projetos de melhoria de suas casas. Em resposta, as duas redes estão oferecendo a retirada de compras diretamente na loja ou do lado de fora da loja sem ter de sair de seus carros.

Melhor do que continuar fazendo as coisas como de costume

Muitas compras feitas por consumidores americanos afetam diretamente as cadeias de suprimentos no exterior, e economistas esperam que haja um retorno robusto às compras quando for seguro. Varejistas estão trabalhando para permanecerem ágeis e prontos para esse retorno.

Homem do lado de fora de restaurante (© Carolyn Kaster/AP Images)
Como a Covid-19 fechou muitos restaurantes para refeições no interior de suas instalações, alguns, como o Founding Farmers de Dan Simons, em Maryland, estão oferecendo entrega e coleta de refeições e mantimentos do lado de fora do restaurante (© Carolyn Kaster/AP Images)

Embora algumas empresas americanas tenham se beneficiado das mudanças repentinas no comportamento do consumidor, muitas estão desenvolvendo novas maneiras de auferir lucro agora e no futuro.

Várias companhias aéreas passaram a transportar cargas ou realizar outras operações. Um exemplo é a pequena companhia aérea Sun Country Airlines, que está acelerando a implementação de um acordo assinado no ano passado com a Amazon a fim de transportar cargas para a empresa varejista que vende on-line. A companhia aérea está fazendo uso de sua frota de maneiras que, por enquanto, substituem algumas receitas perdidas com o cancelamento de viagens turísticas e de negócios.

A Keany Produce & Gourmet, empresa de 42 anos com sede em Maryland, sempre forneceu alimentos para chefs, restaurantes, convenções e similares. Mas mudou de direção quando os negócios associados ao restaurante e aos serviços de bufê se tornaram escassos. Hoje, a empresa administra um serviço de entrega de produtos do lado de fora da loja onde os clientes encomendam caixas de hortifrútis on-line e depois organizam a retirada sem ter contato com outras pessoas em um dos 16 locais onde há lojas da Keany na região da grande Washington.

“Estamos apelando às pessoas comuns que buscam apenas produtos hortifrutícolas frescos sem precisar ir ao supermercado”, diz Cassidy Williams, gerente de marketing da Keany. A receita gerada a partir dessa mudança tem ajudado a empresa a se manter solvente e a recontratar cerca de 20 funcionários que haviam sido demitidos recentemente. Assim que os restaurantes reabrirem, Keany planeja manter ativas as vendas diretas ao consumidor e as institucionais.

Mãos passam um vaso de plantas para outras mãos (© Mignon Hemsley/Grounded)
A Grounded, loja virtual de plantas com sede em Washington, vende plantas domésticas como este pothos (© Mignon Hemsley/Grounded)

Mesmo vendedores on-line de pequeno porte que aumentaram sua participação de mercado devido à preferência que os consumidores têm de fazer compras de casa esperam ver aumentos nas vendas depois que a vida voltar ao normal.

Uma hora após a inauguração que foi feita no Dia da Terra, a Grounded, empresa que vende plantas domésticas on-line, estava sem estoque. Pessoas de todo o país acessavam o seu site para encomendar plantas, o que deixou os cofundadores da empresa, com sede em Washington, surpresos.

As proprietárias Danuelle Doswell e Mignon Hemsley esperam manter o ímpeto adicionando plantas diferentes à lista de produtos que a empresa disponibiliza, vendendo acessórios de marca para plantas, ajudando os assinantes a replantar mudas on-line e enviando um boletim informativo digital duas vezes por mês para novos clientes.

“Nada muito pesado”, diz Danuelle. “Não queremos enviar spam às pessoas.”

Um mundo forte pós-Covid-19

Neste momento, é difícil dizer quando o consumidor americano se recuperará, diz Mathews. Mas os projetos de assistência financeira aprovados pelo Congresso e sancionados pelo presidente Trump em março e abril estão ajudando igualmente consumidores e empresas.

Muitas empresas dos EUA acreditam que sua criatividade e resiliência atrairão mais consumidores nos próximos meses. Isso pode oferecer perspectivas mais favoráveis para a força de trabalho de 52 milhões de pessoas que trabalham no varejo e impulsionar parceiros da cadeia de suprimentos em todo o mundo.

* site em inglês