Pessoas caminham pela Praça Vermelha após o pôr do sol em Moscou (© Alexander Zemlianichenko/AP)
Russos estão deixando seu país a índices não vistos em décadas. Acima, pessoas caminham pela Praça Vermelha em Moscou em 2019 (© Alexander Zemlianichenko/AP)

Alexandra Prokopenko, natural de Moscou, trabalhou para o Banco Central da Rússia em 2022. Ela gostava do trabalho e de correr no Parque Meshchersky, que a fazia lembrar de uma floresta gigante.

Após a invasão em grande escala da Ucrânia em 2022 pela Rússia, ela se mudou para a Alemanha.* Ela sente falta de Moscou, mas acredita que a cidade oferece poucas oportunidades para ela.

“Acho que as autoridades russas não vão admitir, mas temos visto uma enorme fuga de cérebros”, disse Alexandra à Rádio Pública Nacional.

Levando suas habilidades para outro lugar

Levas de jovens russos estão deixando sua terra natal. O Washington Post chamou o atual êxodo de “um maremoto em escala com a emigração após a Revolução Bolchevique de 1917 e o colapso da União Soviética em 1991”.

Cerca de 1 milhão de russos já partiram desde 2022, incluindo cerca de 100 mil especialistas em TI que representam 10% do setor de tecnologia.

Figuras de pessoas com uma pasta na mão correndo no mesmo sentido ao lado de informações sobre quantas pessoas deixaram a Rússia desde 24 de fevereiro de 2022 (Gráfico: Depto. de Estado/M. Gregory. Imagem: © Kapreski/Shutterstock.com)
(Depto. de Estado/M. Gregory)

‘Sem futuro’

Muitos jovens russos altamente qualificados que falam línguas estrangeiras e viajam para o exterior, decidiram que têm um futuro melhor fora da Rússia.

Uma semana depois que a Rússia iniciou sua guerra contra a Ucrânia, Vladimir Belugin deixou seu emprego na Yandex, empresa de mecanismo de pesquisa com sede em Moscou. Ele se mudou para o Chipre. “Acho que não há futuro”, diz Belugin sobre sua permanência na Rússia.

“A guerra e a emigração são uma evidência para toda uma geração de russos que sentem que seu futuro lhes foi roubado”, disse Timothy Frye, professor de Ciência Política da Universidade de Colúmbia e especialista em Rússia, ao ShareAmerica. “[Os alunos] desta turma esperavam ser cidadãos do mundo. Agora essa opção não está mais disponível para eles.”

Pessoas, algumas carregando sacolas e bolsas de mão, caminham por uma estrada movimentada (© Davit Kachkachishvili/Agência Anadolu/Getty Images)
Russos são vistos tentando deixar seu país a fim de evitar uma convocação militar para a guerra da Rússia contra a Ucrânia. Filas são formadas na fronteira de Kazbegi com a Geórgia em 28 de setembro de 2022 (© Davit Kachkachishvili/Agência Anadolu/Getty Images)

Muitas razões para sair

Cidadãos russos que migraram rumo a Armênia e Geórgia citaram três motivos para partir, em ordem de importância, durante entrevistas* (PDF, 1 MB) da Universidade de Harvard realizadas em novembro de 2022 e janeiro de 2023:

Nas duas nações, a idade média dos migrantes que foram entrevistados era de 30 anos.

Cidadãos russos estavam deixando o país, no entanto, mesmo antes da invasão da Ucrânia pela Rússia em fevereiro de 2022.

Um êxodo começou em 2020. Muitos russos partiram em busca de maiores oportunidades econômicas ou porque estavam desiludidos com a corrupção e a repressão política, disse John Herbst, ex-embaixador dos Estados Unidos na Ucrânia. Ele foi coautor de um estudo de 2019 sobre a fuga de cérebros* da Rússia (PDF, 4 MB), pesquisando 400 imigrantes russos que vivem na Europa e nos Estados Unidos.

“Foi e é uma séria fuga de cérebros”, disse Herbst. “Aqueles que saíram são em geral mais instruídos

Talentos partem para outros países

Essa perda para a Rússia representa uma bênção para outras partes do mundo.

Russos que fugiram para países como Armênia, Azerbaijão e Geórgia estão comprando ou abrindo pequenos negócios como cafés, lojas de pneus e pequenas propriedades rurais e imóveis, disse Cynthia Buckley, professora de Sociologia da Universidade de Illinois, ao ShareAmerica. Esse investimento poderia ter permanecido na Rússia.

Vladimir Putin posa para foto com Alla Pugacheva enquanto ela segura um buquê de flores (© Alexei Druzhinin/Sputnik/Kremlin/AP)
A cantora pop russa Alla Pugacheva, à direita, posa para foto com o presidente russo, Vladimir Putin, durante uma cerimônia de premiação em 2014. Ela deixou a Rússia em oposição à guerra de Putin contra a Ucrânia (© Alexei Druzhinin/Sputnik/Kremlin/AP)

Um relatório de julho de 2023 do Instituto Francês de Relações Internacionais informa que os russos que estavam saindo eram “autossuficientes e independentes**”. O relatório observou que a “fuga de capital” dos russos totalizou mais de US$ 30 bilhões.

Pessoas talentosas com carreiras nas áreas de arte, entretenimento ou ciência não relacionadas à política também estão saindo. Muitas figuras de destaque que emigraram enfrentam acusações criminais na Rússia por criticar a guerra com base na Lei de “Agentes Estrangeiros” do Kremlin.

“Há apenas uma razão para tantos artistas terem partido: é inseguro e perigoso expressar uma opinião negativa sobre o que as autoridades russas chamam de ‘operação especial’ e o que o mundo chama de invasão”, escreveu Alexander Molochnikov, um proeminente diretor*. Ele saiu depois de criticar a guerra da Rússia na Ucrânia.

Molochnikov está em Nova York, estudando na Universidade de Colúmbia. Ele diz que está “tentando encontrar uma maneira de produzir peças de teatro novamente (…) tentando encontrar algumas passagens seguras para colegas da cena artística de Moscou que foram deixados para trás”.

* site em inglês
** site em inglês e três outros idiomas