
Cidades, vilarejos e fazendas no Irã estão sofrendo escassez de água em grande parte devido a políticas de recursos hídricos mal administrados e à corrupção, resultando na saída de milhares de pessoas de suas casas e provocando protestos.
“Os protestos dos últimos meses demonstram que o povo iraniano está profundamente frustrado com os fracassos de seu próprio governo”, afirmou o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, no início deste ano quando delineou uma nova estratégia para o Irã*. “A má gestão dos recursos naturais do Irã por parte do governo resultou em secas severas e outras crises ambientais também”, declarou o secretário.
E quando os maiores especialistas em meio ambiente e recursos hídricos do Irã tentam identificar os problemas severos de escassez de água de seu país e oferecer soluções, as forças de segurança do governo, conhecidas como a Guarda Revolucionária Iraniana, responde com detenções, tortura e intimidação.
Alguns exemplos:
- Kavous Seyed-Emami, cidadão canadense-iraniano com dupla nacionalidade e diretor-gerente da Fundação para o Patrimônio da Vida Selvagem Persa, morreu na prisão em fevereiro em circunstâncias suspeitas.
- Kaveh Madani**, iraniano formado nos EUA e proeminente especialista em recursos hídricos, deixou seu posto acadêmico em Londres e viajou ao Irã no final de 2017 para ajudar a resolver a crise hídrica. Dentro de poucos meses, forças iranianas o prenderam e o interrogaram, forçando-o a sair do país em abril de 2018.
- Pelo menos mais 40 ambientalistas foram presos em maio, divulga o Centro para Direitos Humanos no Irã**.

Protestos recentes ligados à escassez de água
Cada vez mais protestos estão sendo realizados em áreas onde a seca e a falta d’água estão em um nível crítico, especialmente na cidade e nos arredores de Isfahã e em várias cidades na província ocidental de Cuzistão.
Em abril, a Voz da América* fez uma cobertura sobre os consecutivos protestos de rua em Isfahã, onde os residentes reclamavam que o governo estava desviando água para a província vizinha de Yazd, causando escassez de água e danificando terras agrícolas.
Protestos de rua em julho irromperam em Khorramshahr, a cerca de 650 quilômetros ao sudoeste de Teerã. A Associated Press* relatou que os residentes no local reclamavam de “água salgada e lamacenta que saía das torneiras” de suas casas.
O problema decorre da represa de Govand* no Rio Karun na província de Cuzistão que o Irã construiu em 2004 apesar dos alertas sobre os impactos ambientais acerca das salinas circunvizinhas. Hoje, a elevada salinidade do rio danificou a outrora terra fértil e abundante da região de Cuzistão.
Nas últimas três décadas, o Irã construiu centenas de represas, “alterando a direção natural do fluxo de água e favorecendo as elites em detrimento dos cidadãos comuns”, escreveu* Ahmad Khalid Majidyar, diretor do projeto IranObserved do Instituto do Oriente Médio.
Majidyar afirma que líderes iranianos atribuem a culpa às políticas de gestão da água adotadas pelos países vizinhos e a outros fatores responsáveis pela seca e pelos problemas ambientais do país. “Porém, eles também fazem vista grossa a casos de corrupção* e à má administração no país, como políticas governamentais impróprias responsáveis por deteriorar a crise em todo o país”, acrescentou.
* site em inglês
** site em inglês e farsi