
Organizações de notícias sem fins lucrativos são uma parte crescente do cenário da mídia americana, fornecendo ao público consumidor de notícias reportagens investigativas e informações hiperlocais que os veículos comerciais geralmente carecem.
O que é jornalismo sem fins lucrativos?
Enquanto as fontes de notícias tradicionais dependem de receita advinda de assinantes e anunciantes, as organizações sem fins lucrativos se concentram mais exclusivamente em fornecer um serviço público específico para suas comunidades. Como não vão em busca de publicidade, elas podem deixar de lado histórias sobre celebridades ou tópicos que são assuntos do momento e, em vez disso, agir como organismos de fiscalização contra a corrupção local ou quem fornece notícias sobre a comunidade com cobertura menos frequente por seus concorrentes com fins lucrativos.
Mesmo assim, jornalistas sem fins lucrativos e suas plataformas precisam de receita para sobreviver. Eles normalmente arrecadam dinheiro de pessoas físicas, instituições beneficentes ou fundações para grande parte de sua receita operacional. Mas mesmo com essas doações, eles também têm de desenvolver outras fontes de receita. “Ser sem fins lucrativos não é um modelo de negócio”, disse Jim Brady, vice-presidente de Jornalismo da Fundação Knight. “É um estatuto fiscal.”
Ajudando a esclarecer questões locais
Depois de uma carreira como advogado, Geoffrey King começou a passar mais tempo em sua cidade natal, Vallejo, Califórnia — fazendo perguntas e submetendo pedidos de registros públicos. Em pouco tempo, King criou um site de notícias investigativas chamado Open Vallejo, para esclarecer qualquer tipo de corrupção na cidade operária perto de São Francisco.
A Rede de Notícias Sem Fins Lucrativos de Arkansas, um site de notícias independente e apartidário, produz artigos investigativos e de destaque sobre o estado. Publica em plataforma própria e distribui gratuitamente na mídia estadual, garantindo um grande público interessado.
Este ano, a rede colaborou com o jornal Daily Memphian do Tennessee em uma reportagem sobre uma rachadura em uma ponte movimentada sobre o rio Mississippi que conecta o Tennessee ao Arkansas. Depois que as autoridades descobriram que a ponte não era segura, despediram um inspetor e fizeram os reparos necessários, repórteres investigaram o programa de inspeção da ponte do Arkansas. Suas reportagens encontraram áreas nas quais o programa foi insuficiente, informações que eles divulgaram ao público. Posteriormente, a Administração de Rodovias Federais revisou o programa e algumas de suas descobertas refletiam o que os repórteres haviam descoberto. Por fim, a Administração emitiu várias recomendações para melhorias, bem como endossos de algumas práticas.

Outros exemplos de veículos de mídia sem fins lucrativos prósperos incluem estes:
- Em Illinois, repórteres do Block Club Chicago cobrem notícias hiperlocais em 13 bairros da cidade.
- O Sahan Journal em Minneapolis cobre comunidades de imigrantes, utilizando escritores imigrantes.
- MLK50: Justice Through Journalism (Justiça através do jornalismo, em tradução livre), uma sala de redação em Memphis, Tennessee, relata questões que eram caras a Martin Luther King: pobreza, poder e política.
Por que as notícias de organizações sem fins lucrativos estão prosperando?
A cultura americana de start-ups impulsiona o crescimento das notícias sem fins lucrativos*, de acordo com Damon Kiesow, professor da Escola de Jornalismo de Missouri.
“Há muitas salas de redação sem fins lucrativos surgindo”, diz ele, “como em Detroit, atendendo a uma necessidade específica da comunidade”. As organizações sem fins lucrativos, acrescenta ele, contratam repórteres e editores que podem “redefinir o que são as notícias”.
Sue Cross, diretora do Instituto para Notícias Sem Fins Lucrativos, diz que as 352 salas de redação de sua organização empregam 4 mil pessoas que produzem mil reportagens por dia.
A pressão financeira sobre os jornais comerciais também está por trás desse aumento. À medida que os dólares dos anúncios encolhem — caíram de 10% a 15% ao ano nos últimos anos, de acordo com Rick Edmonds do Instituto Poynter para Estudos de Mídia — os leitores estão migrando para publicações on-line sem fins lucrativos.
Além disso, os proprietários de alguns jornais comerciais conhecidos, incluindo o Philadelphia Inquirer e o Salt Lake Tribune, transformaram essas empresas em organizações sem fins lucrativos para atrair dinheiro que não teria sido angariado de outra forma, diz Brady, da Fundação Knight.
Ele também cita canais com fins lucrativos que se fundiram com estações de rádio públicas não comerciais locais para se tornarem organizações sem fins lucrativos:
- Gothamist se fundiu com a estação WNYC em Nova York.
- NJ Spotlight foi comprado pela Rádio Pública de Nova Jersey.
- LAist foi comprado por uma estação de rádio pública nacional de Los Angeles.
Essas agências sem fins lucrativos “estão de olho nas coisas”, diz Brady. Elas descobriram que seu nicho responsabiliza as Câmaras Municipais, os conselhos escolares e outras autoridades locais.
As notícias das organizações sem fins lucrativos estão “crescendo, tendo sucesso e representarão uma parcela realmente significativa das notícias que os americanos consumirão no futuro”, diz Sue.
* site em inglês