Uma imprensa livre:

  • Dissemina informações e ideias entre os cidadãos, contribuindo para o repertório comum de conhecimento de um povo.
  • Melhora o funcionamento de governos representativos, ajudando os cidadãos a se comunicar com o governo.
  • Proporciona aos cidadãos um meio de chamar a atenção para violações de seus direitos.
  • Mantém o governo mais perto das pessoas, ajudando os formuladores de políticas a entender melhor como suas ações são percebidas.

Se, como concluiu um estudo recente, o mundo tem testemunhado um “profundo e preocupante” declínio na liberdade de imprensa* recentemente, todos nós temos interesse em encontrar soluções. Essas soluções incluem melhor financiamento, uso criativo das novas tecnologias de informação e aplicação judicial dos direitos legais dos jornalistas.

Como manter uma imprensa livre

A imprensa só pode ser realmente independente quando seu financiamento está assegurado e não há interferência editorial dos patrocinadores. E como se obtém esse tipo de patrocínio?

Organizações como a Rede Global de Jornalismo Investigativo* e o Fundo para o Jornalismo Investigativo* oferecem verbas significativas para bolsas de estudo. A atual bolsista do programa Knight de Jornalismo Internacional Rahma Muhammad Mian*, por exemplo, criou um laboratório de participação do cidadão no Paquistão com o objetivo de reunir dados para projetos de mídia e desenvolveu redes para melhorar a colaboração entre a mídia e o governo.

Jornais locais e suas versões on-line são fontes importantes de notícias (© Tupungato/Shutterstock.com)

Alguns jornalistas têm recorrido ao crowdfunding*, ou arrecadação de pequenas quantias de dinheiro na internet de um grande número de pessoas, para ajudar a financiar suas reportagens. Por exemplo, em 2013, jornalistas da Holanda arrecadaram US$ 1,7 milhão via crowdfunding para fundar o De Correspondent**, plataforma on-line que oferece informações de referência, análise e reportagens investigativas em holandês e inglês. E o Krautreporter***, lançado em 2013, utilizou crowdfunding para criar sua revista on-line.

Nos EUA, o Texas Tribune*, site de notícias sem fins lucrativos financiado com dinheiro arrecadado de todo o espectro de doadores — políticos, empresas, fundações e governos — publica reportagens apartidárias sobre a política do estado do Texas. Seu sucesso resultou em novas parcerias com o New York Times e, mais recentemente, com o Washington Post. A editora do Tribune, Emily Ramshaw, disse ao NiemanLab*: “Se os nossos leitores não conseguirem encontrar uma reportagem em nenhum outro lugar, essa é uma reportagem para o The Texas Tribune.”

Grupo de pessoas com cartazes
A equipe do Malaysiakini, capitaneada pelos editores-fundadores Steven Gan e Premesh Chanran, manifesta seu apoio aos jornalistas da Al Jazeera presos no Egito e à campanha #freeAJstaff (Malaysiakini/Lim Huey Teng)

Para o Malaysiakini**, veículo on-line independente e multimídia da Malásia, o financiamento criativo anda de mãos dadas com a independência editorial. “Somos como crianças traquinas que ferem o valentão no olho e se recusam a fugir”, disse Steven Gan (vídeo em inglês), cofundador e editor, aos convidados da comemoração dos 15 anos do Malaysiakini. Para se manter independente no ambiente restritivo à mídia da Malásia, o Malaysiakini conta com assinaturas, publicidade on-line e doações de fundações, evitando patrocínio de partidos políticos e empresas. Seu principal incentivo: “Sem uma mídia vigilante, os que estão no poder ficam tentados a usar seus poderes financeiros para subornar os influentes e sua autoridade policial para restringir a dissidência. Atuando no interesse de uns poucos, essas ações resultam em desunião da nação e decadência da sociedade.” Entre os fundadores do Malaysiakini estão o Centro Internacional de Jornalistas* e o Fundo Nacional para a Democracia*.

Mídia eletrônica reúne jornalistas profissionais e repórteres-cidadãos

As plataformas de mídia eletrônica da internet abrem novos recursos para jornalistas profissionais e fornecem uma plataforma para jornalistas-cidadãos relatarem eventos de interesse em mídias sociais e blogs. Os sites digitais são ágeis e baratos para serem mantidos.

Plataformas inovadoras como o Ushahidipodem publicar notícias que salvam vidas durante crises. Ideia de alguns jornalistas com conhecimento em tecnologia que criaram um site — e depois um aplicativo —, o Ushahidi permite aos cidadãos relatar e mapear incidentes em tempo real via e-mail e mensagens de texto. O Ushahidi ajuda os jornalistas a mapear o conflito sírio* e acompanhar­ o surto de ebola na África*.

duas mãos e um telefone celular
Os dispositivos portáteis e a mídia on-line mudaram o jornalismo. Essa jornalista tira foto de evento de imprensa na Cidade do México (© AP Images)

Desde 2005, o Global Voices publica notícias e reportagens importantes enviadas por mais de 1.200 colaboradores, a maioria redatores, analistas, especialistas em mídia e tradutores, todos voluntários, em 167 países. O Global Voices publica notícias que podem receber pouca atenção da grande imprensa, por exemplo, “Cartunista malaio promete continuar combatendo abusos do governo apesar de acusações de sedição”* ou “Novas regras da internet na China classificam nomes de usuário e avatares como ferramentas subversivas”*. A equipe do Global Voices confere e traduz as reportagens antes de publicá-las em 43 idiomas. O Global Voices também defende direitos e liberdade de imprensa on-line e capacita e fornece ferramentas para jornalistas-cidadãos em comunidades sub-representadas.

A possibilidade de transmitir informações por meio de vídeos atraentes é uma vantagem real das novas mídias eletrônicas. Organizações como a WITNESS ajudam a disseminar as habilidades necessárias, com cineastas com experiência internacional e jornalistas de direitos humanos com experiência em tecnologia informando os cidadãos sobre vídeo reportagens seguras e éticas. Jornalistas podem encontrar dicas on-line na “Caixa de Ferramentas do Jornalista” da Sociedade de Jornalistas Profissionais*. E a Fundação Knight financia vários parceiros* para aperfeiçoarem suas habilidades no jornalismo digital.

Como manter os jornalistas seguros

Recursos financeiros e conhecimento de internet funcionam até certo ponto. Nenhuma imprensa é verdadeiramente livre se jornalistas profissionais e jornalistas-cidadãos temem por sua segurança física.

O Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) estima terem sido mais de 72 os jornalistas mortos** em decorrência de seu trabalho em 2015. Países de praticamente todos os continentes estão representados no Índice de Impunidade anual do CPJ, “Crimes sem Castigo”.

Depois de 11 pessoas terem sido mortas na revista satírica Charlie Hebdo em Paris, jornalistas do mundo todo, como essa mulher no Líbano, usaram o slogan "Je suis Charlie" em apoio à liberdade de imprensa (© AP Images)
Depois de 11 pessoas terem sido mortas na revista satírica Charlie Hebdo em Paris, jornalistas do mundo todo, como essa mulher no Líbano, usaram o slogan “Je suis Charlie” em apoio à liberdade de imprensa (© AP Images)

Uma proteção fundamental de uma imprensa livre é um Judiciário livre e forte. Agnes Callamard, diretora da iniciativa Global Freedom of Expression & Information, da Universidade de Colúmbia*, observa que a Justiça manteve os direitos de liberdade de expressão mesmo em nações cujos governos em geral não protegem a liberdade de expressão nem os jornalistas. Sua organização homenageou tribunais e grupos jurídicos* da Noruega, da Turquia, do Zimbábue e de Burkina Fasso por protegerem uma imprensa livre por meio da justiça.

A liberdade de imprensa é um esforço de grupo, e quando cidadãos, organizações e governos se unem para preservá-la, todos se beneficiam.

* site em inglês
** site em inglês e um ou mais idiomas
*** site em alemão