A luta contra o tráfico humano continua na Mauritânia

Mauritanos pobres atrás de uma cerca (© AP Images)
O governo da Mauritânia recentemente adotou medidas contra a escravidão, mas a perseguição a ativistas da abolição continua (© AP Images)

Apenas algumas semanas depois de os fundadores do maior grupo antiescravidão da Mauritânia terem sido homenageados como heróis no lançamento do Relatório sobre Tráfico de Pessoas 2016*, autoridades do país prenderam e acusaram nove membros do grupo durante tumulto provocado pelo despejo forçado de moradores de uma favela da capital mauritana, Nuakchott.

Os ativistas fazem parte da Iniciativa pela Ressurgência do Movimento Abolicionista (IRA), uma das várias organizações que chamaram a atenção para a persistência da escravidão na Mauritânia. Outras incluem o grupo antiescravidão mais antigo da Mauritânia, El Hor, fundado em 1974, e o SOS Esclaves, que começou a atuar na década de 1990.

Os membros da IRA foram acusados de agressividade contra a polícia. Doze policiais teriam ficado feridos, um deles gravemente, tendo sido transferido para o Marrocos.

Um porta-voz da Anistia Internacional na África Ocidental disse que os ativistas antiescravidão estão sendo considerados desordeiros pelas forças de segurança, embora estejam apenas exercendo seus direitos de liberdade de expressão e associação previstos constitucionalmente. A repressão de longa data dessas pessoas “começou a ficar realmente violenta (…) e estamos pedindo ao governo mauritano para pôr fim a isso”.

Homenageados nos EUA

O presidente e o vice-presidente da IRA, Biram Dah Abeid e Brahim Bilal Ramdane, que não estavam entre os detidos, foram recentemente convidados a visitar Washington pelo Departamento de Estado dos EUA. Eles receberam o Prêmio Heróis do Relatório sobre Tráfico de Pessoas em 30 de junho.

Embora a IRA seja reconhecida e apoiada no mundo todo, ela não é reconhecida na Mauritânia. O grupo foi acusado de incentivar a animosidade contra a comunidade beydane de mouros brancos — a casta dominante na Mauritânia — e de ignorar a escravidão em comunidades não árabes.

Siikam Sy, membro do conselho de administração da IRA-EUA, disse estar preocupado com a segurança dos ativistas presos. Segundo ele, a abordagem linha-dura do governo é contraproducente para enfrentar a questão da escravidão moderna.

“O governo está cometendo um grande erro ao visar ou basicamente buscar decapitar a IRA-Mauritânia, quando na verdade o que deveria ter feito é considerar a IRA-Mauritânia parceira para acabar com a escravidão”, disse. “Continuamos a nos manifestar, e cada manifestação é respondida com violência inacreditável da polícia. Vamos continuar porque acreditamos se tratar de uma questão de direitos humanos.”

Este artigo se baseia em reportagens da Voz da América.

* site em inglês