
Algumas vezes chamado de “Prêmio Nobel da alimentação e da agricultura”, o Prêmio Mundial da Alimentação* homenageia pessoas que fizeram contribuições inovadoras para melhorar o suprimento de comida no mundo. O vencedor deste ano é um ex-contador de Bangladesh.
Sir Fazle Hasan Abed*, condecorado pela coroa britânica por seu trabalho, fundou o Brac (antes conhecido como Comissão para o Progresso Rural de Bangladesh) em 1972, logo após Bangladesh ter enfrentado um ciclone devastador e a guerra da independência. Mais de 40 anos depois, o Brac ajudou quase 150 milhões de pessoas a sair da pobreza.
Foco em mulheres e crianças

Além de apoiar diversos empreendimentos, como piscicultura, plantações de chá e centros de processamento de leite, Abed assumiu a missão de ajudar mulheres em áreas rurais. Elas aprenderam técnicas agrícolas modernas, como a aplicação eficiente de fertilizantes nas plantações. Abed criou programas que permitiram que milhões de pessoas conseguissem mais de US$ 1 bilhão através de organizações de microfinanças. Os empréstimos deram oportunidades para que muitas mulheres criassem empresas pequenas e sustentáveis produzindo sal iodado ou laticínios, criando vacas ou aves.
As inovações do Brac ajudaram a baixar a taxa de mortalidade infantil de Bangladesh de 25% para 7%. Como? Abed treinou mulheres para ensinar outras a preparar uma solução de água, sal e açúcar — uma combinação que previne a desidratação. Os salários das instrutoras variavam de acordo com a eficácia de suas lições, fazendo desse esforço um dos primeiros programas de empreendedorismo social do mundo baseado em incentivos.
“Apenas colocando os mais pobres — e especialmente as mulheres — no comando de seus próprios destinos, a pobreza e a privação absolutas desaparecerão da face da Terra”, disse Abed após saber de sua nomeação para o prêmio.
Veja como exemplo Christina John, agricultora do distrito de Dodoma, na Tanzânia. Sua renda quadruplicou graças às aulas sobre manejo e sementes de hortaliças que ela recebeu do Brac, cuja atuação naquele grande país da África Oriental começou em 2006. Ela agora ganha dinheiro suficiente para mandar seus filhos para a escola.
Alimentando milhões
Hoje, o Brac atua em Bangladesh e 10 outros países na Ásia, África e Caribe, atingindo um número estimado de 135 milhões de pessoas.
“No momento em que o mundo enfrenta o enorme desafio de alimentar mais de 9 bilhões de pessoas”, disse o presidente do Prêmio Mundial da Alimentação, Kenneth Quinn, Abed e o Brac “criaram um modelo excelente, que é seguido em todo o planeta, de como educar as meninas, empoderar as mulheres e tirar gerações inteiras da pobreza”.
O secretário de Agricultura dos EUA, Tom Vilsack*, disse que “a valorização de Sir Fazle e de sua organização no engajamento de mulheres nas áreas de CTEAM — Ciência, Tecnologia, Engenharia, Agricultura e Matemática — beneficia nossas comunidades locais e globais”.

As raízes do Prêmio Mundial da Alimentação
O Prêmio Mundial da Alimentação foi concebido em 1986 pelo vencedor do Prêmio Nobel da Paz Norman Borlaug, agrônomo que cresceu em uma fazenda no estado de Iowa, nos EUA. Pai da Revolução Verde* dos anos 60 e 70, ele cruzou milhares de variedades de trigo, criou o “trigo-anão” e desenvolveu uma nova técnica agrícola que salvou centenas de milhões de pessoas da morte e da fome.
Vencedores do prêmio enviaram saudações de todos os cantos do mundo, incluindo Índia, China, Cuba, Dinamarca, Serra Leoa, Brasil e Etiópia, onde Gebisa Ejeta* desenvolveu um sorgo resistente à seca para a África. Entre os vencedores americanos, estão o cientista de alimentos Philip Nelson*, que revolucionou a armazenagem e o transporte de alimentos a granel.
Abed receberá o Prêmio Mundial da Alimentação em 15 de outubro, em Des Moines, Iowa, durante o Diálogo Borlaug, um simpósio internacional de três dias que reúne especialistas em agricultura e desenvolvimento de mais de 65 países.
* site em inglês