
Há séculos, a música tem sido parte integrante da vida militar — seja durante treinamentos ou movimentos de tropas. Tambores, pífanos, clarins, violinos, banjos e a voz humana são ouvidos por tropas desde o início das guerras.
A chamada de cadência militar, uma ferramenta rítmica projetada para manter os membros do serviço militar em sintonia durante as marchas, é uma característica comum da vida militar dos Estados Unidos e apenas uma forma de os militares se expressarem musicalmente.
Você provavelmente já viu a cadência de chamadas em filmes americanos. Um instrutor de recrutas lidera tropas que marcham ou correm ao som de canções de chamada e resposta que expressam os valores culturais da vida militar ou consistem em brincadeiras descontraídas. Uma chamada de cadência de marcha popular inclui estes versos: “Tirei meus jeans desbotados/agora estou usando uniformes verdes do Exército.”

“Chamada de cadência é uma das ações militares mais exclusivas que as pessoas fazem do ponto de vista cultural”, disse William McLaughlin, que serviu no Exército dos EUA e trabalha como curador de referência para o Museu Nacional da Força Aérea dos Estados Unidos. As chamadas, “de uma forma rápida, lhe apresentam como será a vida militar ao longo da jornada”.
As cadências incluem elementos da cultura musical afro-americana e canções de guerra europeias-americanas.
Historicamente, o canto se alinha com as canções de escravos e prisioneiros afro-americanos, e reflete um “estilo de vida laborioso e fisicamente extenuante”, escreve Travis G. Salley, que estudou Música Militar na Universidade de Massachusetts, em Amherst.
As tropas americanas, já no período da Guerra da Independência, marchavam ao som da música fornecida por pífaros e tambores, uma tradição europeia que remonta à Suíça do século 15. E já na década de 1850, líderes ensinavam a execução de marchas precisas por meio de um canto vocal, “pé de feno, pé de palha”, depois de os integrantes do serviço militar colocarem feno em seus calçados esquerdos e palha nos calçados direitos.
Hoje, os líderes das tropas normalmente selecionam uma cadência — o chamado e a resposta refletem a personalidade de um líder ou a missão de uma unidade. Por exemplo, McLaughlin disse: “Hail O’ Hail O ’Infantry” (Salve oh salve oh infantaria, em tradução livre) é uma chamada de cadência popular entre as tropas de infantaria do Exército e da Marinha.
Além de garantir que as tropas em formação mantenham o compasso, a chamada de cadência sincroniza a respiração, estimulando a preparação física. Cantar ou entoar cânticos também aumenta o moral e a camaradagem, e pode aliviar o trabalho enfadonho de tarefas difíceis.

De acordo com o Comando de História e Patrimônio Naval, marinheiros dos EUA cantavam canções de marinheiros enquanto lançavam as cordas ou viravam o cabrestante. Todos empurravam ou puxavam simultaneamente ao ritmo das músicas, produzindo um esforço concentrado e melhores resultados.
Um “marinheiro cantor” ficava em um plano superior em relação à equipe de trabalho e cantava os versos principais de uma música, enquanto a equipe mostrava estar de acordo nos versos subsequentes. Na última palavra de cada verso, um puxão conjunto nas cordas os ajudava a “voltar para casa”.
“Grande parte da antiga Marinha representava trabalho manual e de ‘equipe’, e as canções mantinham todos no compasso enquanto cumpriam a função”, disse Loras Schissel, especialista em Música da Biblioteca do Congresso e veterano da Marinha.
Existem casos famosos de soldados cantando no campo de batalha. Durante a Primeira Guerra Mundial, a breve trégua de Natal começou quando os soldados de ambos os lados da Frente Ocidental baixaram brevemente as armas e começaram a entoar cantigas de Natal. A cantoria os encorajou a deixar suas trincheiras e compartilhar comida, jogos e camaradagem.
De acordo com Jane Cross, arquivista musical da Biblioteca do Congresso que serviu no Corpo de Fuzileiros Navais, a Segunda Guerra Mundial acarretou uma mudança no canto das trincheiras. Foram os sons da música swing das grandes bandas americanas durante a Segunda Guerra Mundial que ajudaram a introduzir a mudança, disse ela.
“As pessoas não cantavam tanto quanto dançavam”, disse Jane.
Cerca de 6.500 músicos tocam em 130 bandas representando cinco ramos das Forças Armadas dos EUA (Força Aérea, Exército, Guarda Costeira, Corpo de Fuzileiros Navais e Marinha). Eles se apresentam em todo o mundo, inspirando tropas e civis. (A Banda da Marinha*, fundada pelo Congresso em 1798, tem a distinção de ser a organização musical profissional continuamente ativa mais antiga dos Estados Unidos.)
Às vezes, atualmente, membros do serviço militar ainda simplesmente cantam para afastar o tédio ou entreter uns aos outros. Eles preferem melodias pop ou canções folclóricas clássicas, como a canção “The Wayfaring Stranger”, cantada à capela por este membro da Guarda Nacional durante um período de descanso para sua unidade.
* site em inglês