Em 2012, na cerimônia de despedida do gerente-geral da Sorwathe SARL em Kinihira, Ruanda, muitos moradores dos vilarejos compareceram. Levaram presentes para o chefe da joint venture produtora de chá entre a Tea Importers Inc., com sede em Connecticut, e o governo de Ruanda.

O gerente era muito querido e respeitado, mas “para mim isso também foi prova” da lealdade da comunidade para com a empresa, disse Andrew Wertheim, responsável pela Tea Importers. Segundo ele, essa lealdade foi conquistada graças ao tratamento dado pela empresa aos seus funcionários e comunidades.

No início da década de 1970, o pai de Wertheim, Joe, que havia importado chá de Ruanda, foi convidado pelo governo do país a montar uma operação de processamento de chá em uma área remota. Para fazer isso acontecer, a Sorwathe construiu estradas e levou eletricidade para a área. Depois a empresa construiu escolas e uma clínica médica para melhorar a vida da população local empobrecida e garantir uma força de trabalho qualificada e saudável.

Africanas trançam cestas
Mulheres locais ganham dinheiro fornecendo cestas trançadas à mão para embalagens de chá (Cortesia: Sorwathe)

Os moradores dos vilarejos viram as iniciativas da Sorwathe como uma extensão da boa vontade da empresa para com eles. Rohith Peiris, que substituiu o gerente que estava indo embora, lembra-se de quando a empresa levou água doce para os vilarejos locais como “um grande momento” na vida dos moradores.

Mais tarde, a empresa conduziu campanhas para erradicar o analfabetismo e o trabalho infantil.

Andrew Wertheim acredita que a fábrica sobreviveu ao genocídio e à turbulência de 1994 (embora tenha sido prejudicada) devido ao apoio e à lealdade da comunidade local.

Benéfico para os dois lados

A Sorwathe faz parte de um número cada vez maior de empresas conhecidas por sua ativa responsabilidade social empresarial (RSE) ou gestão empresarial. Essas empresas conquistam a lealdade do funcionário por meio de trabalho amigável, políticas ambientais e sociais que variam de reciclagem à segurança do local de trabalho à preservação do meio ambiente.

No início dos anos 2000, a RSE muitas vezes era rejeitada nos EUA como uma invenção de gênios de relações públicas. Era um esforço para reparar reputações às vezes denegridas e diferenciar uma empresa de seus concorrentes, diziam os críticos.

Hoje muitas empresas adotam a gestão empresarial responsável como uma prática de negócios inteligente.

Conservação de água e de energia, reparos de estradas e assistência médica para os trabalhadores ajudam as comunidades locais e ao mesmo tempo reduzem os custos das empresas e aumentam o envolvimento dos funcionários. Empresas socialmente responsáveis atraem e retêm trabalhadores motivados. No longo prazo, essas empresas também tendem a ser mais inovadoras, diz Susan McPherson, da consultoria Fenton Communications. A Coca Cola*, a Intel, a Procter & Gamble e a Microsoft, entre outras, têm sido reconhecidas por sua gestão.

A Fundação Gates, criada pelo fundador da Microsoft, Bill Gates, e sua mulher, Melinda, segunda a partir da esquerda, patrocinam a vacinação de crianças e outras causas nobres (Cortesia: Fundação Gates/Flickr)
A Fundação Gates, criada pelo fundador da Microsoft, Bill Gates, e sua mulher, Melinda, segunda a partir da esquerda, patrocinam a vacinação de crianças e outras causas nobres (Cortesia: Fundação Gates/Flickr)

A geração do milênio está chegando

Para os estudantes universitários de hoje, contribuir para maior consciência ambiental e conscientização da pobreza mundial é mais importante do que ter uma carreira de prestígio ou adquirir bens, diz Cliff Zukin, professor de Ciência Política da Universidade Rutgers.

Como a geração do milênio — pessoas nascidas entre o início da década de 1980 e o início dos anos 2000 — representará praticamente metade da força de trabalho até 2020, a RSE será ainda mais importante* no futuro próximo.

A geração do milênio difere das gerações anteriores, segundo pesquisadores e os próprios millennials, como são conhecidos.

  • Como trabalhadores, os jovens da geração do milênio convencem seus empregadores a se responsabilizar por seus funcionários, pela sociedade e pelo mundo em geral.
  • Como consumidores, tendem a comprar produtos de empresas que valorizam por suas “credenciais de gestão”.
  • Como empreendedores, buscam oportunidades de fazer o bem fazendo as coisas bem.

Tripé da sustentabilidade

Pesquisas demonstram* que iniciativas de gestão produzem benefícios mensuráveis para grandes empresas, seus acionistas e comunidades locais. Mais empresas do que nunca publicam seus relatórios anuais para comunicar os avanços que fazem com a RSE.

Desenho de folhas com números

Mas pequenas e médias empresas também devem se importar com a gestão responsável, porque normalmente são mais dependentes de seus trabalhadores, das comunidades e das terras locais, diz Molly Brogan, da Associação Nacional de Pequenas Empresas.

E a RSE pode ser uma vantagem competitiva para empresas menores, acrescenta Christine Arena, autora de The High-Purpose Company [A Empresa com Altos Propósitos]. Por serem mais ágeis elas podem buscar sinergia entre as metas financeiras, sociais e ambientais.

Chamada de tripé da sustentabilidade, essa abordagem incentiva as empresas a se esforçar pelos ganhos financeiros assim como pelos ganhos ambientais e sociais. Muitos empreendedores idealistas se esforçam para alcançar esse tripé.

Ryan Black abriu a Sambazon na Califórnia para comercializar bebidas, petiscos e suplementos à base do açaí da Amazônia, que, segundo a empresa, traz benefícios para a saúde.

Nos últimos anos, a Sambazon registrou um crescimento de receita entre 19% e 30%, administrando de maneira sustentável mais de 800 mil hectares da Floresta Amazônica no Brasil. A empresa de Black também investiu em escolas, clínicas médicas e centros comunitários locais próximos de sua fábrica de processamento brasileira.

Troy Wiseman fundou a EcoPlanet Bamboo para fornecer uma fibra sustentável derivada do bambu para indústrias que usam madeira e fibra de florestas tropicais. Para ele, os negócios estão intrinsicamente interligados com sua missão pessoal: reduzir o desmatamento e a pobreza. A EcoPlanet estabeleceu suas plantações de bambu na Nicarágua em terras degradadas pelo desmatamento e abriu uma escola para ensinar seus trabalhadores e seus familiares as habilidades necessárias para fazer móveis e artesanato de bambu.

Perguntando sobre seu credo, Tyler Gage, cofundador da Runa, disse: “Siga o seu coração e confie na sua intuição.”

A Runa, que comercializa produtos feitos da planta amazônica cafeinada guayusa, paga a seus fornecedores, agricultores da tribo kichwa no Equador, um preço de comércio justo. A empresa também doa uma parte de suas vendas a um fundo social para que as comunidades kichwa possam investir em uma vida melhor.

Pequenos passos

Empresas menores às vezes acham que não podem arcar com investimentos sociais ou ambientais. Mas não precisa muito para ajudar a comunidade local, disse Susan.

Pequenas empresas com recursos limitados podem encontrar maneiras de recompensar funcionários que fazem trabalho voluntário para melhorar suas comunidades. Ou “enviar, digamos, uma escavadeira para ajudar a escola ou construir uma estrada”, disse Marty Williams, executivo-chefe da Sahlman Seafoods Inc., com sede em Tampa, na Flórida.

A Sahlman opera uma fazenda e uma fábrica de processamento de camarões em uma ilha remota na Nicarágua. Forneceu eletricidade a um centro de saúde local, ajudou a modernizar prédios escolares e ofereceu bolsas de estudo para os melhores alunos.

Taylor Guitars introduziu o manejo florestal sustentável e o fornecimento de ébano em Camarões (Cortesia: Taylor Guitars)

A falta de experiência em questões sociais e ambientais não é obstáculo: uma empresa pode ser parceira de uma organização não governamental (ONG) ou de um órgão governamental, declarou Susan.

Pressão dos pares

Empresas de países desenvolvidos estão bem posicionadas para introduzir práticas sociais e ambientais em países anfitriões.

“Fomos pioneiros na introdução de muitos benefícios para os funcionários” na Mongólia, como almoços internos e serviços médicos no local de trabalho, diz Robert Barrows, ex-vice-presidente da Wagner Asia Equipment, LLC.

E o que uma empresa faz às vezes define padrões para todo um setor do país anfitrião. Os concorrentes seguiram o exemplo quando a Sambazon lançou iniciativas florestais sustentáveis no Brasil e quando a Sorwathe fechou um acordo de negociação coletiva com seus trabalhadores em Ruanda.

Taylor Guitars introduziu o manejo florestal sustentável e o fornecimento de ébano em Camarões (Cortesia: Taylor Guitars)

O investimento em projetos socialmente responsáveis também pode resultar em tratamento favorável a uma empresa estrangeira por parte do governo local. Por exemplo, as relações do Transnational Group, de Nevada, com autoridades do governo de Camarões se tornaram mais fáceis desde que a empresa começou a operar um sistema de ônibus subsidiado na capital Yaoundé.

Mas ganhar a confiança da comunidade local é fundamental para empreendimentos estrangeiros bem-sucedidos.

“Tendo a confiança dos habitantes locais”, disse Rohith Peiris, gerente-geral da Sorwathe, “todas as outras questões ficam em segundo plano”.

A TOMS Shoes, com sede na Califórnia, iniciou seu serviço social doando um par de sapatos para uma criança carente para cada par vendido nas lojas. Hoje também patrocina serviços de saúde e melhor acesso à água em comunidades pobres (Cortesia: TOMS Shoes/Flickr)

Todas as empresas mencionadas neste artigo, exceto a Runa, receberam o Prêmio de Excelência Corporativa concedido pelo secretário de Estado dos EUA.

*site em inglês