Nobel homenageia jornalistas com prêmio da paz

Dois jornalistas ganharam o Prêmio Nobel da Paz 2021 por suas reportagens sobre regimes cada vez mais autoritários, destacando o papel vital da liberdade de expressão na proteção da paz e da democracia.

Maria Ressa, executiva-chefe do site Rappler, venceu por expor abuso de poder, violência e crescente autoritarismo nas Filipinas, afirmou o Comitê do Prêmio Nobel em 8 de outubro. Dmitry Muratov, editor-chefe do jornal russo Novaya Gazeta, tem liderado há décadas a cobertura do veículo independente sobre corrupção no governo russo, violência policial e prisões ilegais.

“A sra. Ressa e o sr. Muratov estão recebendo o Prêmio da Paz por sua corajosa luta pela liberdade de expressão nas Filipinas e na Rússia”, declarou o Comitê do Prêmio Nobel, observando que muitos outros jornalistas também defendem a democracia em uma era de crescente autoritarismo.

Mulher sorrindo na frente de microfones (© Eloisa Lopez/Reuters)
Maria Ressa, executiva-chefe da plataforma de notícias on-line Rappler, fala à mídia em Manila, Filipinas, 14 de fevereiro de 2019 (© Eloisa Lopez/Reuters)

Michael Abramowitz, presidente da Freedom House, organização sem fins lucrativos que apoia a liberdade e a democracia, disse que o prêmio dos jornalistas foi concedido em meio a crescentes ataques à liberdade de imprensa. “O jornalismo independente e baseado em fatos que responsabiliza os poderosos é um dos grandes baluartes da democracia”, disse ele.

Os Estados Unidos apoiam a liberdade de expressão e a mídia independente em todo o mundo. O Rappler, por exemplo, recebeu apoio da Fundação Nacional para a Democracia, financiada pelo Congresso dos EUA.

O governo dos EUA pediu às autoridades russas que parassem com a repressão à liberdade de imprensa, que inclui uma pretensa Lei de Agentes Estrangeiros. A lei permite que o Ministério da Justiça da Rússia rotule grupos ou indivíduos de “agentes estrangeiros”, estigmatizando suas reportagens e expondo-os a multas e assédio que inviabilizam seu trabalho.

No mesmo dia em que Muratov recebeu o prêmio da paz, autoridades russas adicionaram uma dezena de jornalistas e organizações de mídia* ao seu registro de agentes estrangeiros, incluindo cinco associados à Rádio Europa Livre/Rádio Liberdade.

Homem parado na frente de pessoas segurando cartazes de jornalistas mortos (© Sean Gallup/Getty Images)
Dmitry Muratov, do jornal independente russo Novaya Gazeta, em uma manifestação em 2009 em meio a cartazes homenageando jornalistas e defensores russos assassinados (© Sean Gallup/Getty Images)

“O povo russo, como todas as pessoas, tem o direito de buscar, receber e transmitir informações e ideias livremente”, disse o porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price, em 18 de março.

O presidente Biden enalteceu Maria, Muratov e outros repórteres que perseguem os fatos “de maneira incansável e destemida”. “Eu aplaudo o Comitê do Prêmio Nobel por homenagear o trabalho incrível de Maria e Muratov, e por dispensar mais atenção à crescente pressão sobre os jornalistas, à liberdade de imprensa e à liberdade de expressão em todo o mundo”, disse ele. 

Tuíte:
Programa Fulbright
Parabéns à ex-aluna do Programa Fulbright Maria Ressa por ter sido nomeada vencedora do Prêmio Nobel da Paz 2021 “por [seus] esforços para salvaguardar a liberdade de expressão”. Maria se junta a outros 60 bolsistas do Fulbright que ganharam um Prêmio Nobel.
#Fulbright  @mariaressa  #NobelPeacePrize  @NobelPrize.  https://bit.ly/2ZVGT2R
@FulbrightPrgrm  #Fulbright  @mariaressa  #NobelPeacePrize  

Concedidos pela primeira vez em 1901, os prêmios Nobel reconhecem realizações notáveis em Fisiologia ou Medicina, Física, Química, Literatura e Paz. O prêmio em Ciências Econômicas foi criado em 1968 pelo Banco Central da Suécia, em memória de Alfred Nobel.

Este ano, oito dos 13 vencedores do Prêmio Nobel são cidadãos americanos, incluindo Maria Ressa, que é filipino-americana.

Aqui estão os vencedores deste ano nas seis categorias:

Fisiologia ou Medicina

“Por suas descobertas de receptores para temperatura e toque”

  • David Julius, Universidade da Califórnia, São Francisco, Califórnia, EUA.
  • Ardem Patapoutian, Pesquisa Scripps, La Jolla, Califórnia, EUA.

Física

“Pela modelagem física do clima da Terra, quantificando a variabilidade e prevendo o aquecimento global de forma confiável”

  • Syukuro Manabe, Universidade de Princeton, Princeton, Nova Jersey, EUA.
  • Klaus Hasselmann, Instituto Max Planck de Meteorologia, Hamburgo, Alemanha.

“Pela descoberta da interação de desordem e flutuações nos sistemas físicos desde escalas atômicas a planetárias”

  • Giorgio Parisi, Universidade Sapienza de Roma, Roma, Itália.

Química

“Pelo desenvolvimento de organocatálise assimétrica”

  • Benjamin List, Instituto Max Planck para Pesquisa de Carvão, Mülheim an der Ruhr, Alemanha.
  • David MacMillan, Universidade de Princeton, Princeton, Nova Jersey, EUA.

Literatura

“Por sua penetração intransigente e compassiva nos efeitos do colonialismo e no destino dos refugiados no abismo entre culturas e continentes”

  • Abdulrazak Gurnah, professor emérito de Literaturas Inglesas e Pós-Coloniais na Universidade de Kent, Reino Unido.

Paz

“Por seus esforços para salvaguardar a liberdade de expressão, que é uma condição prévia para a democracia e a paz duradouras”

  • Maria Ressa, cofundadora da Rappler, Filipinas.
  • Dmitry Andreyevich Muratov, cofundador da Novaya Gazeta, Rússia.

Ciências Econômicas 

“Por suas contribuições empíricas à economia do trabalho”

  • David Card, Universidade da Califórnia, Berkeley, Califórnia, EUA

“Por suas contribuições metodológicas à análise das relações causais”

  • Joshua Angrist, Instituto de Tecnologia de Massachusetts, Cambridge, Massachusetts, EUA.
  • Guido Imbens, Universidade de Stanford, Stanford, Califórnia, EUA.

* site em inglês