O Ártico está mais perto do que você pensa

As condições de aquecimento do Ártico estão abrindo novos canais para navios de transporte e turismo (Nasa/K. Hansen)

O inverno de 2015 da América do Norte desafiou as normas. Áreas normalmente gélidas dos Estados Unidos registraram calor recorde, mas nevascas históricas cobriram outras partes do país.

A Ásia Central, o Reino Unido e outros países europeus também experimentaram invernos estranhos nos últimos anos.

Embora os cientistas não possam fazer ligações diretas entre eventos climáticos individuais e mudanças climáticas globais, eles acham que o aquecimento do Ártico amplamente documentado está causando atividades climáticas incomuns nas zonas temperadas ao norte dos trópicos, ao sul do Ártico.

“O que acontece no Ártico* não vai ficar no Ártico”, disse o cientista perito em satélites Jeff Key do Centro para Aplicações e Pesquisa de Satélite da Noaa.

Ele estuda imagens de satélite e dados sobre ventos, química, temperatura e umidade. Eles estão todos se desviando de padrões históricos, e demonstram que a atmosfera do Ártico está mudando, diz ele.

A corrente de jato transporta o ar do Ártico até regiões temperadas mais ao sul. As mudanças nas condições do Ártico podem causar movimentos amplamente variáveis na corrente de jato e influenciar o clima em regiões bem distantes do Ártico (Nasa/GSFC)

“O importante é que isso afeta latitudes médias do clima”, disse Key. Mudanças árticas influenciam a corrente de jato, rios gigantes de ar que fluem de oeste para leste a 6 km ou mais acima da Terra.

“À medida que a corrente de jato enfraquece, tende a serpentear mais e adquirimos um clima mais extremo nas latitudes médias”, disse Key.

Outras observações científicas revelam menos gelo no Oceano Ártico, o que significa que as águas vão absorver o calor, em vez de refleti-lo.

“Creio que a diminuição de gelo marinho certamente vai alterar os padrões climáticos, abrir [canais] para o transporte [e] a exploração de petróleo e gás”, diz Key. A Marinha dos EUA prevê mudanças semelhantes*.

“Vai ser um mundo diferente lá fora.”

A tundra também está se aquecendo, e sua vegetação está mudando. A extensão da superfície da matéria verde pode alterar a quantidade de luz solar que é refletida; portanto, “uma mudança na vegetação pode levar a ainda mais aquecimento, o que acarreta uma mudança maior na vegetação e assim por diante”, afirmou Key.

O descongelamento da tundra também significa que a infraestrutura que se desenvolveu sobre o que se imaginava ser um solo perpetuamente congelado pode se tornar instável.

À medida que Key e seus colegas cientistas no mundo todo continuam seu trabalho a fim de compreender as complexidades das regiões mais setentrionais, a mais recente pesquisa sugere que um Ártico em transformação terá consequências de longo alcance.

“Vai ser um mundo diferente lá fora, creio eu, em 20, 30, 40 anos”, afirma Keys.

O Boletim do Ártico* dos EUA emitido no final de 2014 concluiu que a região está se aquecendo em um ritmo duas vezes maior do que qualquer outro lugar na Terra. E documenta uma ampla gama de mudanças na região.

No momento em que os Estados Unidos assumiram a presidência do Conselho do Ártico, composto de oito nações, o secretário de Estado, John Kerry, lembrou ao mundo que este deve proteger, respeitar e promover a região.

*site em inglês