O manual da Rússia a fim de ganhar influência

Tropas em uniformes sem identificação e comboio de veículos militares em uma rua (© Andrew Lubimov/AP Images)
Soldados usando uniformes sem identificação ao lado de um comboio que inclui um veículo contendo um emblema e placas identificando-o como pertencente às Forças Armadas da Rússia, em Balaclava, nos arredores de Sevastopol, Ucrânia, em 1º de março de 2014 (© Andrew Lubimov/AP Images )

As tentativas do presidente russo, Vladimir Putin, de anexar territórios ucranianos sob o pretexto de proteger os falantes de russo que vivem nessas regiões são surpreendentemente familiares.

Moscou tem implementado o mesmo manual que usou em 2014, quando a Rússia invadiu a Crimeia e tomou à força partes do leste da Ucrânia.

Como fez em 2014 na Crimeia, a Rússia instalou autoridades pró-Putin em funções municipais e regionais importantes nas quatro regiões da Ucrânia onde as forças russas assumiram controle parcial: as províncias de Donetsk e Luhansk, conhecidas coletivamente como a região de Donbass, e no províncias orientais de Kherson e Zaporizhzhia.

E assim como na Crimeia em 2014, a Rússia orquestrou referendos fraudulentos nessas províncias perguntando a eleitores em setembro se eles queriam se juntar à Rússia. O Kremlin usou os resultados fraudulentos para alegar que eleitores no território controlado pela Rússia queriam se juntar ao país e tentou anexar essas quatro regiões ucranianas.

Mas os referendos eram tudo exceto livres e justos. A Rússia instalou autoridades leais a Putin para supervisionar as eleições, e civis ucranianos foram forçados a votar sob a vigilância de guardas armados. O mundo condenou amplamente as ações de Moscou.

O manual de Moscou remonta a tempos anteriores à Crimeia, em 2014.

Moldávia: 1992

Mulher coloca flores em um caixão aberto de um homem enquanto pessoas se aglomeram em volta dele (© Nikolae Pojoga/AFP/Getty Images)
Nesta fotografia de 26 de junho de 1992, parentes e amigos lamentam a morte de um moldavo ocorrida durante combates entre o governo moldavo e os separatistas apoiados pela Rússia na região separatista da Transnístria, na Moldávia (© Nikolae Pojoga/AFP/Getty Images)

O Kremlin tem usado táticas semelhantes a fim de restabelecer a influência em territórios vizinhos que faziam parte da União Soviética.

Observem o que aconteceu na Moldávia.

Embora a Moldávia tenha conquistado a independência da União Soviética em 1991, cerca de 1.500 forças russas continuam posicionadas em território moldavo na região separatista da Transnístria desde 1992. Esse foi o ano de um cessar-fogo entre o governo moldavo e os residentes da região que disseram que queriam se separar da Moldávia e manter laços mais estreitos com Moscou.

As pessoas de língua russa na Transnístria se opuseram a muitas das ações do governo da Moldávia, incluindo tornar o romeno a língua oficial do país. Militares da Rússia intervieram em nome do lado da Transnístria e estão no local desde então.

“A independência de fato da Transnístria impede a Moldávia de se juntar às estruturas da aliança ocidental e a mantém na esfera de influência da Rússia*”, escreveu em setembro Will Baumgardner, do think tank Instituto de Empresas Americanas, em Washington.

Geórgia: 2008

Mulher chorando com os braços abertos ao lado do corpo de um homem no chão. A seu lado, uma mulher em pé (© George Abdaladze/AP Images)
Nesta fotografia de 9 de agosto de 2008, uma mulher georgiana chora por uma vítima após um ataque aéreo russo na cidade de Gori, no norte da Geórgia (© George Abdaladze/AP Images)

In this August 9, 2008, photograph, a Georgian woman cries over a victim after a Russian airstrike on the northern Georgian town of Gori. (© George Abdaladze/AP Images)As forças da Rússia invadiram a Geórgia em agosto de 2008. Antes da invasão, Moscou lançou um ataque cibernético e uma campanha de desinformação, táticas também usadas na Ucrânia.

A Rússia acusou falsamente o governo da Geórgia de cometer crimes graves contra cidadãos que Moscou disse serem russos vivendo na região da Ossétia do Sul na Geórgia. Moscou declarou que estava intervindo a fim de prevenir um genocídio. A Rússia usou a mesma linha de raciocínio na Ucrânia.

A Rússia e a Geórgia assinaram um acordo de cessar-fogo no final de agosto de 2008, quando Moscou disse que retiraria suas tropas da maior parte do território georgiano ocupado. Isso nunca aconteceu.

Em vez disso, a Rússia reconheceu a chamada independência da Abecásia e da Ossétia do Sul. As forças militares da Rússia permanecem nessas regiões georgianas hoje.

Gráfico da bandeira russa com arame farpado dividindo três cores, contendo texto (Gráfico: Depto. de Estado/M. Gregory. Imagem: © Natykach Nataliia/Shutterstock.com)
(Depto. de Estado/M. Gregory)

“A invasão da Geórgia em agosto de 2008 foi um teste beta para futuras agressões* contra os vizinhos da Rússia e um ensaio para táticas e estratégias que mais tarde seriam implantadas na invasão da Ucrânia em 2014”, escreveu Brian Whitmore, do Conselho do Atlântico, em agosto de 2021.

Os militares da Rússia têm um histórico de atrocidades, matando e ferindo civis na Geórgia em 2008, na Crimeia e no leste da Ucrânia em 2014, e em toda a Ucrânia desde a invasão de 24 de fevereiro.

As Nações Unidas não reconhecem a Transnístria, a Abecásia ou a Ossétia do Sul como países independentes; nem a maioria dos países, incluindo os Estados Unidos. Da mesma forma, os governos em todo o mundo não reconhecem a tentativa de anexação do território ucraniano pela Rússia.

* site em inglês