Dos restaurantes fast-food à entrega de pizza, a história da comida para viagem pode nos dizer muito, porque como e o que os americanos comem muitas vezes reflete as mudanças que se dão na sociedade em qualquer dado momento.
“Você pode aprender muito com a comida”, diz Emelyn Rude, historiadora de alimentos e autora do livro Tastes Like Chicken*. “Todo mundo come, e é uma daquelas maneiras únicas em que agricultura, ciência, saúde, nutrição e cultura se juntam em um único prato.”
Considere a pizza, por exemplo. Os americanos inicialmente desconfiaram dos pratos mais apreciados pelos imigrantes italianos, em parte porque alguns dos ingredientes eram desconhecidos para eles.
Mas depois da Segunda Guerra Mundial, os soldados americanos retornaram da Europa entusiasmados com a comida italiana que haviam comido por lá. Na década de 1940, quando foi inventada uma embalagem para manter a pizza quente; a massa fina, redonda e coberta de queijo estava no caminho para se tornar uma comida básica da alimentação americana. Hoje, 1 em cada 8 americanos come pizza** em qualquer dado dia.
A comida para viagem também pode ensinar sobre os períodos mais sombrios da história americana.
As leis Jim Crow, promulgadas pelos estados sulistas dos anos 1880 a meados dos anos 1960, legalizaram a segregação de negros e brancos. Se os afro-americanos quisessem comer em determinado restaurante que não tivesse uma área reservada para os negros, eles iam até os fundos ver se o restaurante daria comida para levar.
Em 1849, durante a Corrida do Ouro da Califórnia, empreendedores de comida chinesa se estabeleceram perto de onde os garimpeiros estavam procurando ouro. Como diz Emelyn Rude, os caçadores de fortunas não fizeram dinheiro, mas sim aqueles que os alimentaram. Acredita-se que um dos primeiros restaurantes americanos a entregar comida foi um estabelecimento chinês em São Francisco que começou a oferecer o serviço na década de 1920.
TV e carros têm impacto

Tudo mudou para os restaurantes quando a televisão foi inventada e, na década de 1950, estava presente em milhões de lares americanos.
Praticamente da noite para o dia, as pessoas se tornaram mais interessadas em ficar em casa e assistir à TV, em vez de sair para comer. Quando os restaurantes registraram uma queda expressiva nas vendas, eles sabiam que era hora de se adaptar ou morrer.
“Eles começaram a desenvolver cardápios para viagem e entregas”, diz Emelyn, “de modo que as pessoas não teriam de sair de casa. Elas poderiam fazer as duas coisas: comer comida de restaurante e assistir à televisão”.
Depois, quando todo mundo passou a ter carro, o fast-food se tornou a próxima grande coisa. “O carro realmente revolucionou a maneira como as pessoas comem porque podíamos pegar a comida de modo conveniente e superbarato”, diz Emelyn. “E então, sim, devemos o fast-food aos carros.”
Atualmente, cerca de 6% dos americanos comem comida para viagem em qualquer dado dia. Pela primeira vez na história, o gasto com restaurante é mais alto do que o gasto com supermercado para o americano médio.
A internet deu a restaurantes mais desconhecidos maior exposição e acesso a potenciais clientes que talvez não os encontrariam de outra maneira, mas a comida consumida não mudou muito. A comida mais popular* pedida por aplicativos ou pela internet é — você adivinhou — pizza.
* site em inglês
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