
Quando criança, todas as manhãs, Bhagwati Agrawal acompanhava a mãe para coletar água de um poço perto de casa. Um dia, ela o repreendeu por não ter enchido os baldes de uma senhora idosa. A lição ficou gravada na cabeça dele.
Décadas depois, após se mudar para os EUA e trabalhar no setor tecnológico, Agrawal sabia que queria ajudar outras pessoas a coletar e compartilhar água em Rajasthan, estado mais seco da Índia.
“Este era o poder das palavras da minha mãe”, disse ele.
Aakash Ganga: “rio do céu”

Em boa parte de Rajasthan, a escassez de água se tornou algo comum, e as mudanças climáticas provavelmente vão prolongar e aprofundar as secas na região. Os poços que ainda não secaram muitas vezes já estão salgados e insalubres. “A situação vem se agravando”, afirmou Agrawal, desde quando era criança.
Aakash Ganga*, ou “Rio do Céu” em sânscrito, é sua resposta. Trata-se de uma rede de coletores de chuva de terraço tradicionais que desvia metade da água captada para um grande reservatório comunitário. Ao armazenar as águas das chuvas de monções de julho a setembro, o sistema pode fornecer água às residências e comunidades o ano inteiro. Até agora, esta combinação de práticas indianas antigas e estratégias de gestão hídrica mais novas coleta 15 milhões de litros de água potável por ano para 10 mil residentes de seis vilarejos de Rajasthan.
Mas conforme Agrawal adquiria conhecimento trabalhando no setor tecnológico, uma importante pergunta ficou no ar: a situação vai piorar?
De 6 para 600 mil vilarejos?
Para o rio do céu ter êxito para mais indianos, Agrawal sabia que ele tinha de seguir os preceitos de qualquer negócio. Para crescer, sua criação necessitaria pagar as despesas do próprio bolso e atender às necessidades dos clientes. Muitas vezes no setor tecnológico, disse ele, “eu vi tantas tecnologias nascerem no laboratório, serem desenvolvidas no laboratório e finalmente morrerem no laboratório”.
Ele criou um meio de Aakash Ganga se sustentar. Agrawal “aluga” os direitos do terraço de coleta dos habitantes e vende as verduras e legumes plantados com água de coleta de chuva para sustentar a manutenção do sistema.
Ele também aprendeu com seus clientes. Um dia durante a fase de projeto, ele percebeu a presença de um senhor idoso apoiado em uma cerca, abanando a cabeça em sinal de reprovação.

“Eu fui até ele e perguntei: ‘Baba, você diz repetidamente que não vai funcionar. Você me diria por quê?’”
Nos planos iniciais de Agrawal, o reservatório de casa tinha o formato de uma abóbada e estava localizado no pátio — exatamente onde os residentes dormiam durante os verões quentes, quando suas casas estavam quentes demais para conseguir ter uma boa noite de sono. Ninguém conseguia dormir sobre uma abóboda. A solução? Reservatórios planos, como o da direita.
Cada modificação levou tempo. “Levei oito anos para entender como trabalhar com o povo dos vilarejos”, disse ele. Mas agora, ele está pronto para expandir.
Nomeado “Herói CNN 2015” e com subvenções do governo indiano, do MIT e do Banco Mundial, Agrawal espera demonstrar o Aakash Ganga em 50 a 100 mais vilarejos para se preparar para uma maior expansão. A Índia tem 600 mil vilarejos e um clima quente, então existe espaço para crescimento. Para Agrawal, não é um número assustador, mas um dever.
“O que minha mãe me disse, essa foi a diferença.”