O ‘tratamento bárbaro’ da Rússia a locais culturais ucranianos

Vigas de madeira encostadas em parede rachada (© Alexei Konovalov/TASS/Getty Images)
Trabalho de renovação no Palácio do Khan em fevereiro de 2022 na cidade de Bakhchisaray, Crimeia. A Unesco declarou que a Rússia está danificando, não restaurando, o palácio (© Alexei Konovalov/TASS/Getty Images)

A Rússia continua uma campanha agressiva que visa apagar o patrimônio cultural da Ucrânia.

Remover artefatos, demolir túmulos e fechar igrejas estão entre as táticas que a Rússia vem usando desde 2014, quando invadiu a Ucrânia, ocupou a Crimeia e instigou conflitos em áreas da região de Donbass.

O objetivo é estabelecer o controle sobre a Ucrânia e reescrever a história.

Desde 2014, a Rússia apreendeu 4.095 monumentos nacionais e locais na Crimeia, violando a legislação internacional ucraniana, de acordo com um relatório de 2021* da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

“Locais do patrimônio mundial da Unesco e outros locais culturais na Crimeia temporariamente ocupada estão sujeitos a tratamento bárbaro e roubo por parte das autoridades de ocupação”, afirmou a agência. “Elas [autoridades russas] continuam a expropriação dos bens culturais pertencentes à Ucrânia.” 

‘Perdas irreparáveis’

Desde 2014, as ações russas na Crimeia incluem:

  • Exportação ilegal de artefatos da Crimeia para exibição na Rússia.
  • Realização de expedições arqueológicas não autorizadas.
  • Demolição de cemitérios muçulmanos.
  • Danos a patrimônios culturais dos tártaros da Crimeia durante uma “restauração”.

“Um grande número de objetos valiosos de importância nacional e mundial vem sofrendo perdas irreparáveis”, disse a Unesco.

Palácio Bakhchisarai dos khans (cãs) da Crimeia

A Rússia não pediu permissão à Ucrânia quando iniciou o que a Unesco descreveu como a “restauração distorcida” do Palácio Bakhchisarai dos khans da Crimeia.

Vista de inverno do pátio do palácio com minarete (© Alexei Pavlishak/TASS/Getty Images)
O Palácio do Khan faz parte da Reserva do Museu Bakhchisarai na Crimeia. A Unesco afirmou que esse monumento histórico está sendo “intencionalmente destruído e danificado por obras ilegais em grande escala” (© Alexei Pavlishak/TASS/Getty Images)

O Palácio do Khan faz parte da Reserva do Museu Bakhchisarai, que exibe a cultura tártara da Crimeia. É composto por vários edifícios palacianos, mesquitas, cemitério, torre e sítios arqueológicos.

A Unesco descreve o palácio do século 16 como “o único conjunto arquitetônico remanescente do povo indígena tártaro da Crimeia desse tipo”.

Uma empresa que não tem experiência com preservação histórica completou a restauração em segredo, disse a Unesco. Vigas de carvalho foram removidas e o palácio foi danificado no processo.

“É um sinal de ações criminosas, que ameaçam destruir os elementos autênticos preservados do edifício único”, afirmou o relatório.

Reserva Nacional Quersonesos Tavriya

As escavações com equipamento pesado começaram em junho de 2021 na Reserva Nacional Chersonesos Tavriya, em Sebastopol, no sudoeste da Península da Crimeia. O Ministério da Defesa da Rússia assumiu o controle do local, uma cidade antiga listada pela primeira vez como Patrimônio Mundial da Unesco em 2013.

Dançarinos em silhueta com prédio histórico ao fundo (© Sergei Malgavko/TASS/Getty Images)
A Rússia apreendeu locais históricos na Península da Crimeia, incluindo a Reserva do Museu Estadual Tauric Chersonese (acima). Os locais são frequentemente usados ​​para fins de entretenimento, aos quais a Unesco se opõe (© Sergei Malgavko/TASS/Getty Images)

O ministério enviou os resultados da pesquisa a museus russos e começou a usar o local para fins de entretenimento e publicidade. A Unesco encerrou a cooperação com autoridades culturais russas em protesto contra a ação.

A Unesco disse que organizações não qualificadas estão envolvidas nas escavações e na restauração. Achados arqueológicos são exportados ilegalmente para a Rússia ou aparecem no mercado negro.

“A Federação Russa não cumpre suas obrigações de preservar patrimônios culturais no território temporariamente ocupado”, afirmou o relatório.

Sepulturas e igrejas destruídas

Estabelecimentos religiosos também são alvos.

Caminhões e escavadeiras em canteiro de obras (© Alexei Pavlishak/TASS/Getty Images)
Trabalhadores em 2017 iniciam a construção da Rodovia Tavrida. A Unesco afirmou que cemitérios muçulmanos foram demolidos no processo (© Alexei Pavlishak/TASS/Getty Images)

A Rússia destruiu cemitérios muçulmanos a fim de construir a Rodovia Tavrida, disse a Unesco. A rodovia leva à Ponte Kerch, que a Rússia construiu em 2016 para conectar a Crimeia à Rússia.

Um cemitério muçulmano foi destruído durante a construção de um gasoduto “deixando ossos humanos espalhados no processo”, afirmou a Unesco.

Igrejas também estão sendo fechadas ou danificadas. O Ministério da Justiça russo negou o registro às duas maiores afiliadas da Igreja Ortodoxa da Ucrânia na Crimeia, uma em Simferopol e outra em Yevpatoria, e ordenou que a propriedade fosse devolvida ao Estado. Um tribunal russo em 2020 confirmou o despejo da paróquia de Simferopol e a demolição da igreja de Yevpatoria.

Instituições de agências internacionais são impedidas de visitar a Crimeia para investigar danos ou alterações a instituições culturais.

“A Federação Russa impossibilita o acesso de missões internacionais de monitoramento à península”, afirmou a Unesco.

Veja alguns dos importantes locais culturais da Ucrânia que os Estados Unidos ajudam a preservar.

* site em inglês e outros cinco idiomas