A cerâmica de grés de David Drake representou um ato de resistência, gravada com poesia por seu criador escravizado em uma época em que seu conhecimento da palavra escrita era ilegal.
Drake nasceu escravizado nos Estados Unidos no início do século 19, e registros mostram que ele morou a maior parte de sua vida em Edgefield, Carolina do Sul. Estudiosos estimam que ele produziu mais de 40 mil peças de cerâmica.

Drake é reconhecido como o primeiro oleiro escravizado a assinar seu trabalho. Fazer isso à época significava que, com cada jarro, Drake arriscava sua segurança física — e possivelmente sua vida — ao criar utensílios de cerâmica traçados com poesia original, considerando que os escravizados nos Estados Unidos eram geralmente proibidos de aprender a ler e escrever.
As cerâmicas de Drake estão atingindo preços recordes em leilões nos Estados Unidos, um sinal de atenção crescente ao trabalho de artistas e artesãos escravizados que antes eram negligenciados. Estudiosos concordam que obras funcionais como a de Drake — tradicionalmente excluídas dos acervos de museus de arte ou consideradas artes artesanais — precisam ser reconsideradas como belas-artes por causa da habilidade necessária para construir tais objetos. Sua importância e lugar no cânone da arte americana, dizem os estudiosos, devem ser reconsiderados.

“Se você não prestar atenção a esses objetos, nunca vai compreender adequadamente a história de mulheres artistas, artistas de cor ou artistas escravizados, porque você tem de olhar para o que eles foram ‘autorizados’ a fazer”, Timothy Burgard, curador dos Museus de Belas Artes de São Francisco, disse ao jornal The New York Times*. Burgard disse que exibiria o trabalho de Drake com destaque ao lado de outras artes do período da Guerra Civil, “centrando simbolicamente a questão do sistema escravagista, que historicamente foi minimizado e marginalizado por museus”.
“Quantos edifícios, móveis e jarros de cerâmica foram feitos por escravizados?” perguntou Burgard. “Provavelmente milhões, mas ninguém registrou seus nomes.”
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