Há um século, combatentes lançaram gás mostarda e outros gases venenosos que mataram dezenas de milhares de pessoas em campos de batalha europeus durante a Primeira Guerra Mundial. O uso desses agentes causou tanta repulsa no mundo que a Convenção de Genebra de 1925 foi adotada, proibindo o uso de armas químicas. Embora a Segunda Guerra Mundial tenha sido o conflito mais mortal na história, nenhum dos lados recorreu ao uso de armas químicas.
Mas a prática reapareceu, primeiro na década de 1980, quando o Iraque usou armas químicas em sua guerra contra o Irã e posteriormente contra sua minoria curda. Atualmente, o conflito na Síria forçou o mundo civilizado a enfrentar esse flagelo novamente.

O regime de Bashar al-Assad foi considerado amplamente culpado pelo ataque com gás sarin que matou centenas de civis em agosto de 2013, em Ghouta Oriental, área de subúrbios em Damasco dominada pela oposição. Os EUA e a Rússia negociaram um acordo sob o qual a Síria concordava em destruir suas armas químicas.
Mas isso não pôs fim à questão.
Depois de um ataque com gás sarin ter matado um grande número de pessoas em abril de 2017, os Estados Unidos atacaram uma base aérea síria com mísseis. No mês passado, houve a suspeita de ter havido vários ataques com gás de cloro contra as cidades de Saraqeb na província de Idlib e Douma, localizada em Ghouta Oriental.

A Rússia, aliada do regime, utilizou reiteradamente seu direito a veto no Conselho de Segurança das Nações Unidas a fim de bloquear a renovação do mandato de inspetores internacionais visando identificar as partes responsáveis pelo uso de armas químicas na Síria.
Em janeiro, após um ataque com gás de cloro em Ghouta Oriental, o secretário de Estado, Rex Tillerson, disse: “Seja quem for que tenha realizado os ataques, a Rússia, em última instância, é responsável pelas vítimas em Ghouta Oriental e inúmeros outros sírios atingidos por armas químicas desde que a Rússia se envolveu na Síria.”
Como fizeram em Genebra décadas atrás e novamente em 1993 com a Convenção sobre a Proibição de Armas Químicas, as nações civilizadas se juntam para evitar o uso dessas armas de destruição em massa e responsabilizar aqueles que violam esses acordos internacionais.
Mais de 20 países e organizações internacionais se juntaram à Parceria Internacional contra a Impunidade pelo Uso de Armas Químicas**, liderada pela França.
“Essa iniciativa coloca aqueles que ordenaram e realizaram ataques de armas químicas em alerta. Vocês enfrentarão um dia de julgamento por seus crimes contra a humanidade e suas vítimas verão a justiça ser feita”, disse Tillerson no lançamento da parceria em Paris em 23 de janeiro.

Os países da parceria assinaram uma declaração** reiterando que “todos os usos de armas químicas em qualquer lugar, a qualquer momento, por qualquer pessoa, em qualquer circunstância, são inaceitáveis” e que tal uso “viola os padrões e as normas internacionais”.
Eles concordaram em coletar e compartilhar informações para que os responsáveis por ataques químicos possam ser levados à justiça. E também concordaram em aplicar sanções contra pessoas físicas, grupos e governos que praticam essas ações.
Tillerson, em um discurso recente na Universidade de Stanford, na Califórnia, disse que o povo sírio suportou quase 50 anos de sofrimento sob as ditaduras de Assad e seu pai, Hafez al-Assad. Aproximadamente meio milhão de sírios morreram, mais de 5,4 milhões são refugiados e 6,1 milhões foram deslocados internamente desde que os combates começaram em 2011, disse ele.
Após uma semana de bombardeios intensos que teriam causado a morte de centenas de civis presos em Ghouta Oriental, o Conselho de Segurança das Nações Unidas, em 24 de fevereiro, exigiu unanimemente um cessar-fogo imediato de 30 dias na Síria a fim de permitir o envio de ajuda humanitária para evacuar os feridos. A trégua em âmbito nacional não se aplicaria a grupos terroristas, incluindo o Estado islâmico, a Frente Nusra ou a Al Qaida.
* site em inglês
** site em inglês e francês