Em 1957, nove estudantes afro-americanos chegaram às aulas na Escola Central de Ensino Médio de Little Rock, em Little Rock, no Arkansas. A Suprema Corte havia há pouco decidido que a segregação em escolas públicas era inconstitucional, mas o governador de Arkansas alegou que a matrícula de Minnijean Brown, de 15 anos de idade, e de seus oito colegas de classe negros representava uma ameaça à segurança pública. Ele ordenou que a Guarda Nacional do Arkansas impedisse os alunos de entrar na escola.

O impasse somente terminou quando o presidente Eisenhower, em um momento de definição do movimento pelos direitos civis, enviou tropas federais para escoltar os alunos — conhecidos como os ” Nove de Little Rock ” —  até a escola.

Spirit Trickey pode nos contar tudo sobre esse episódio. Ela aprendeu tudo o que há para aprender sobre a crise durante os 10 anos em que trabalha no Sítio Histórico Nacional da Escola Central de Ensino Médio de Little Rock. E ela possui uma outra conexão, mais pessoal: Minnijean Brown é sua mãe.

Quando criança, Spirit não sabia que sua mãe havia desempenhado um papel na história. Embora Minnijean Brown Trickey tenha ativamente trabalhado em defesa da justiça social e das causas ambientais em toda a sua idade adulta, ela não gostava de falar sobre o que havia acontecido na escola.

Minnijean Brown Trickey (ao centro) em 1957 no tribunal em Little Rock, no Arkansas, e (no detalhe) com sua filha Spirit Trickey (© AP Images/No detalhe: Spirit Trickey)

 Anos mais tarde, quando Spirit Trickey começou a pesquisar essa parte da vida da sua mãe, “às vezes, minha mãe ficava animada, e às vezes ela caía em prantos porque isso era muito doloroso para ela”.

“Usei a mim mesma como uma ponte entre gerações”, Spirit Trickey disse sobre trabalhar como guia de turismo. “Estava em meus 20 anos e as crianças na escola de ensino médio pensavam que eu era relativamente jovem comparada às fotos em branco e preto em um livro de história. Elas arregalavam os olhos quando eu mostrava a elas uma foto da minha mãe e diziam que percebiam a semelhança entre nós.”

Seu trabalho também afetou a sua mãe. “O fato de eu trabalhar lá fez com que ela enfrentasse algo que ela havia suprimido por mais de 25 anos”, afirmou Spirit Trickey. “Teve um enorme impacto em minha família.”

Hoje, Spirit Trickey está ajudando sua mãe a escrever um livro de memórias. Ela também está escrevendo um roteiro sobre como acabou entendendo a sua própria história através do seu trabalho no sítio histórico. “Foi a experiência mais arrasadora e transformadora que já tive. Passei 10 anos da minha vida voltando no tempo.”

Minnijean Brown Trickey agora trabalha com a organização Sojourn to the Past (Viagem ao Passado, em tradução livre), que leva alunos de diversas origens a viagens através de locais relacionados ao movimento pelos direitos civis no Sul dos Estados Unidos. Atualmente, ela conta a sua própria história para adolescentes nascidos gerações após ter enfrentado os corredores da Escola Central de Ensino Médio de Little Rock.

Ao ser perguntada sobre o que ela enxerga nas fotos da sua mãe, quando esta tinha 15 anos de idade, naqueles livros de história, Spirit Trickey diz que ela vê “apenas a mais vivaz das pessoas. Cheia de vida e alegre. Ele é a pessoa que admiro mais neste planeta, e disso eu tenho certeza”.