Percy Julian: inventor revolucionário e neto de escravos

Percy Julian de jaleco branco em um laboratório (© Francis Miller/Acervo de fotos The LIFE/Getty Images)
O químico Percy Julian trabalha em seu laboratório (© Francis Miller/Acervo de fotos The LIFE/Getty Images)

Onde muitas pessoas viam um feijão, Percy Julian via um laboratório inteiro.

Químico sintético, Julian desenvolvia compostos médicos a partir de substâncias contidas em plantas. Por exemplo, do feijão-de-Calabar ele extraiu um tratamento para o glaucoma, uma das principais causas de cegueira entre os idosos. Seu trabalho com a soja apoiou tudo, desde injeções de hidrocortisona para tratar artrite até retardantes de fogo usados em porta-aviões na Segunda Guerra Mundial.

“Era um lindo feijão roxo quando o comprei”, disse Julian certa vez sobre o Calabar, uma leguminosa venenosa. “Mas não é apenas bonito na aparência, mas também no ‘laboratório’ [contido] em seu interior.”

Julian se tornou um dos maiores inventores dos Estados Unidos em meados do século 20*, obtendo cerca de 130 patentes químicas. Ele superou a discriminação educacional e profissional e, de acordo com o Escritório de Marcas e Patentes dos EUA, ajudou a pavimentar o caminho para futuros cientistas de minorias étnicas.

O prolífico inventor, que morreu em 1975, está entre os muitos afro-americanos celebrados durante o Mês da História do Negro Americano todo mês de fevereiro por suas principais contribuições à história dos Estados Unidos. O Serviço Postal dos EUA também emitiu um selo em homenagem a Julian.

Superando a discriminação

Percy Julian sentado na cadeira de um escritório (© AP Images)
O químico Percy Julian sentado em seu escritório na empresa Glidden em Chicago em 1947 (© AP Images)

Julian, neto de ex-escravos, nasceu em Montgomery, Alabama, em 1899. Frequentou escolas segregadas, onde a educação para alunos negros terminava após a oitava série.

Mas os pais de Julian eram professores que construíram uma biblioteca para seus seis filhos, e Julian mais tarde frequentou a Universidade DePauw em Indiana.

Na faculdade, Julian trabalhou como garçom e acendia a fornalha de uma fraternidade (república de estudantes do sexo masculino) em troca de um quarto no campus. Em sua formatura em 1920, ele foi o orador da turma.

Embora algumas empresas privadas se recusassem a contratá-lo, a Glidden Company o fez. Julian mais do que retribuiu o voto de confiança da Glidden; sua pesquisa com soja ajudou a empresa a desenvolver suas populares tintas látex.

Em 1935, Julian selou sua reputação com um feito marcante da química sintética. Embora os pesquisadores soubessem que a fisostigmina, encontrada no feijão-de-Calabar, ajudava os pacientes de glaucoma, eles lutaram para obter quantidades suficientes visando apoiar o tratamento.

Embora a fisostigmina estivesse disponível apenas em sua fonte natural, Julian reuniu a substância* por meio de um processo de 11 etapas que começou com um medicamento existente e permitiu a criação de quantidades suficientes de fisostigmina para tratar o glaucoma.

Em 1999, a Sociedade Americana de Química considerou a realização de Julian um Marco Histórico Químico Nacional e a descreveu como “a primeira de uma série de realizações que Julian fez em vida na síntese química de produtos naturais comercialmente importantes”.

Julian foi incluído no Hall da Fama dos Inventores Nacionais em 1990.

* site em inglês