A Plataforma de Ação de Pequim, desenvolvida durante uma conferência das Nações Unidas de 1995, estabeleceu uma agenda para o empoderamento das mulheres. Esta série do ShareAmerica explora cada uma das 12 áreas críticas de preocupação identificadas na Quarta Conferência Mundial sobre Mulheres. O artigo de hoje destaca as mulheres e a pobreza. 

“A pobreza é uma experiência condicionada pelo gênero” afirma Geeta Rao Gupta, diretora-executiva adjunta da Unicef. Mais mulheres do que homens são pobres. Elas são as pessoas mais pobres entre os pobres. As mulheres podem ser mais vulneráveis e menos capazes de superar a pobreza devido ao seu status social em algumas culturas. Ajudar as mulheres a superar a pobreza requer fazer um exame sério dos valores culturais e das dinâmicas de poder entre homens e mulheres.

Em muitos países, as normas sociais ditam que o lugar de uma mulher é no lar, cuidando de sua família. Os homens provêm o sustento da família trabalhando fora de casa. Tais normas influenciam as leis, as políticas e o acesso à educação, o emprego e a propriedade de bens imóveis em muitas sociedades. Em relação aos homens, as meninas e as mulheres têm menos acesso à educação, ao emprego e a outros recursos que trazem estabilidade econômica e progresso. Isto é especialmente verdade entre as famílias pobres.

Uma mulher sem-teto prepara comida debaixo de uma ponte em Jammu, na Índia (© AP Images)

As mulheres e sua experiência com a pobreza

Meninas e mulheres fazem a maior parte do trabalho nas famílias pobres para cuidar dos membros da família, alimentá-los e para realizar outras tarefas essenciais. Elas coletam lenha, água e forragem para os animais, cuidam dos animais e das culturas. Esse trabalho que consome tempo e não remunerado limita a capacidade das mulheres pobres de aprendar habilidades e ganhar renda fora de casa. Meninas mais velhas, cuja expectativa é de que cuidem das crianças mais novas e ajudem suas mães com as tarefas domésticas, têm pouca probabilidade de frequentar a escola, o que perpetua o ciclo de desvantagem e pobreza das mulheres.

Women’s work often includes tending crops. These Rwandan women weed a rice paddy. (© AP Images)

Por que o foco na mulher pobre?

O trabalho remunerado e não remunerado das mulheres é crucial para a sobrevivência das famílias pobres. Entretanto, as mulheres são proprietárias de apenas 15% da terra no mundo todo, trabalham mais horas que os homens e recebem menores salários. Estudos demonstram que a renda auferida pelas mulheres é mais provável que seja gasta na educação e no bem-estar das crianças, enquanto os homens gastam a maior parte da sua renda com necessidades pessoais. As mulheres necessitam de acesso igual a oportunidades. Investir em mulheres como agentes econômicos com poder de controlar recursos é uma estratégia eficaz para reduzir a pobreza para todos.

Modos de reduzir a pobreza das mulheres

Os microfinanciamentos — pequenos empréstimos e outros serviços financeiros destinados às mulheres pobres que não têm acesso ao sistema bancário formal — aumentaram de maneira bem-sucedida as rendas de milhões de famílias pobres no mundo todo ao colocar dinheiro nas mãos das mulheres.

Roshaneh Zafar criou a Fundação Kashf para ajudar as mulheres no Paquistão a superar a pobreza através de microfinanciamentos (Cortesia: Kashf Foundation)

Roshaneh Zafar, empreendedora social paquistanesa, criou a Fundação Kashf (site em inglês) para ajudar as mulheres paquistanesas pobres a melhorar de vida. “O que me move é transformar a vida dessas famílias e tirá-las da pobreza”, diz ela.

Roshaneh emprestou US$ 279 milhões para ajudar um milhão e meio de famílias até hoje. O empréstimo médio é de US$ 300. “Os microfinanciamentos não se tratam somente de conceder empréstimos às pessoas, mas significam mudar a mentalidade de comunidades para aumentar sua habilidade de ganhar seu sustento e viver de forma digna”, diz Roshaneh. A hondurenha Dulce Marlen Contreras aprendeu isso logo cedo depois de fundar a La Coordinadora de Mujeras Campesina de La Paz (Comucap – site em inglês) para educar mulheres sobre os seus direitos. A pobreza é um fator preponderante na violência doméstica e em outros problemas que as mulheres enfrentam. A Comucap logo cresceu e se transformou em uma cooperativa agrícola que cultiva e vende café e babosa, dando estabilidade econômica e melhor qualidade de vida a seus integrantes.

Estratégias que colocam as mulheres em contato com recursos — dinheiro, educação, propriedade — são o melhor meio de ajudar as mulheres a alcançar a igualdade de gênero e reduzir a pobreza.

A Plataforma de Ação de Pequim (site em inglês) possui maiores informações sobre as 12 áreas críticas de preocupação relacionadas aos direitos das mulheres. Informe-se sobre o progresso para as mulheres na pobreza (site em inglês, espanhol e francês) durante os 20 anos desde que a Plataforma de Ação foi declarada.

Saiba mais sobre o Dia Internacional das Mulheres (site em inglês, espanhol e outros quatro idiomas).