Preservando o idioma e a cultura de uma tribo indígena americana

Os Estados Unidos congregam muitas identidades, idiomas e religiões. Essa diversidade é uma parte essencial da identidade dos americanos, e muitas pessoas têm dedicado suas vidas a preservar suas próprias culturas.

Quirina Geary* é ameríndia. Mesmo que nunca esperasse que o trabalho ao qual dedicasse sua vida acabasse sendo a preservação do mutsun, o idioma de seus ancestrais, ela diz que fazer isso foi como retornar para casa.

Quirina é uma das muitas mulheres ameríndias nos Estados Unidos que trabalham para manter os idiomas de suas tribos vivas, estudando, ensinando e defendendo a continuidade de sua existência.

Embora tenha sido criada como ameríndia e mantido práticas culturais tradicionais, “uma coisa que não tínhamos era o idioma”, diz Quirina. “E o idioma está intimamente ligado à identidade.”

Duas pessoas sentadas e olhando cartões sobre uma mesa (© Quirina Luna Geary)
Os filhos de Quirina Geary, Johnathan Costillas e Lillian Camarena, aprenderam a sintaxe mutsun riica (linguagem) em 2016 usando um sistema codificado por cores que Quirina desenvolveu no Instituto Breath of Life para aprender a gramática mutsun (© Quirina Luna Geary)

Em 1996, Quirina e sua irmã participaram de um workshop patrocinado pelos Defensores da Sobrevivência das Línguas Indígenas da Califórnia na Universidade da Califórnia, em Berkeley.

Durante a pesquisa que realizaram na conferência, eles descobriram que sua tataravó, antes de sua morte na década de 1920, trabalhou com acadêmicos do início do século 20 com o intuito de preservar o idioma mutsun.

Quirina diz que parecia um sinal de que ela estava no caminho certo para continuar a aprender mais sobre o idioma e a cultura. “Simplesmente não conseguíamos acreditar”, diz ela. “Esse trabalho representou algo precioso para nós.”

Ela começou a trabalhar com um acadêmico da Universidade do Arizona a fim de aprender a falar e documentar mutsun. A parceria já dura mais de duas décadas e resultou em um dicionário Mutsun-Inglês*, o primeiro do gênero. Quirina também publicou livros infantis em mutsun.

Duas crianças em galhos de árvores colhendo frutas (© Quirina Luna Geary)
Os filhos de Quirina, Niyatsitha e Ki’il Geary, coletam pequenos frutos de manzanita para fazer cidra em Clearlake, Califórnia, em 2018 (© Quirina Luna Geary)

Quirina tem ensinado mutsun há anos para descendentes dos mutsuns. Ela diz que 60 alunos estão matriculados, mas há 15 que frequentam regularmente — em sua maioria, mulheres — que são as mais comprometidas em aprender o idioma. “Me certifiquei de que, conforme estava aprendendo mutsun, compartilharia o conhecimento que tinha”, diz ela.

Idiomas perdidos

As Nações Unidas* (PDF, 1,4 MB) afirmam que até 90% dos idiomas indígenas globais desaparecerão até o final do século 21 e 600 idiomas já desapareceram desde 1900.

Os Estados Unidos abrigam inúmeros outros idiomas indígenas — bem como tradições culturais e religiões de suas muitas populações de imigrantes — e apoiam os direitos de todas as pessoas de preservar seu idioma e cultura.

Duas pessoas fazendo cestos (© Linda Yamane)
Quirina Geary ensina sua filha, Lillian Camarena, a tecer cestos de rizomas de plantas e brotos de árvores (© Linda Yamane)

O Conselho Nacional do Índio sobre o Envelhecimento* afirma que qualquer idioma falado por menos de 10 mil pessoas está em perigo. Atualmente, existem 600 membros da tribo amah mutsun*.

Quirina cita estudos que demonstram que o aprendizado de idiomas indígenas, como o mutsun, conecta as pessoas por meio da cultura, da experiência compartilhada e da celebração da herança.

“Não se trata apenas de falar um idioma”, diz ela. “É realmente tão profundamente enraizado na identidade onde e quando um idioma prospera, que as pessoas prosperam e coisas boas começam a acontecer.”

* site em inglês