Com medo de montanhas-russas, Ngozi Onwumere não sabia o que esperar quando entrou em um bobsled e, pela primeira vez, desceu em alta velocidade por entre a trilha gelada em Park City, Utah. Porém, ela e a piloto Seun Adigun, ao deslizarem até atingir uma parada após a linha de chegada naquele dia em janeiro de 2017, a dupla completou a primeira corrida oficial da equipe feminina nigeriana de bobsled.
Em breve elas estarão competindo nas Olimpíadas de Inverno.

Seun é a piloto da equipe, algo que se aplica a todos os sentidos da palavra. Em 2012, a atleta olímpica fundou a Federação Bobsled e Skeleton da Nigéria*, com o objetivo de expandir as oportunidades para atletas que estão na mesma situação em que ela se encontra a representar a Nigéria no cenário mundial. Akuoma Omeoga, segunda breakman (responsável por acionar o sistema de frenagem do trenó de bobsled) da equipe, também integra a primeira equipe olímpica de bobsled do país. Todas as três são nigerianas-americanas da primeira geração que competiram por universidades dos EUA nas modalidades de corrida de velocidade e corrida com obstáculo.
Nas Olimpíadas de Verão de Londres de 2012, Seun representou a Nigéria em atletismo. Durante os jogos, ela competiu em corrida contra antigos concorrentes atletas universitários da equipe dos EUA, como Lolo Jones, que mais tarde se juntou à equipe feminina de bobsled. Alguns anos após os Jogos de Londres, Seun se juntou a outros ex-atletas de atletismo e começou a treinar com a equipe de bobsled. Ela gostou tanto que decidiu ir além.
“Eu sabia que isso era algo que eu tinha de fazer”, disse Seun ao site nigeriano She Leads Africa*. “O esporte de bobsled buscava crescer e o continente africano nunca esteve representado no esporte.”
Ao pedir orientação ao técnico-chefe americano Brian Shimer sobre como criar uma equipe nigeriana para competir nas Olimpíadas, ele deu seu apoio e lhe disse*: “Se há alguém capaz de fazê-lo, essa pessoa é você.”
Seun mora em Houston, onde cair neve é tão raro como na Nigéria. Ela construiu um trenó de bobsled com rodas, seguindo as dimensões regulamentares, a fim de usar no treino em uma pista de atletismo. O trenó, denominado Maeflower em homenagem a Mae, irmã mais nova de Adigun, ajudou a equipe a treinar e deu um impulso para as atletas seguirem em frente.

As mulheres publicaram vídeos na página de um site de captação de recursos* em que construíam e posteriormente treinavam no Maeflower. Isso acabou se tornando inestimável para sua jornada olímpica. Elas superaram seu objetivo inicial de arrecadar US$ 75 mil e conquistaram fãs em todo o mundo.
Os fundos e o apoio externo ajudaram a equipe a viajar para a Nigéria em abril para um “tour de regresso à casa”. Elas visitaram escolas e fizeram entrevistas para se apresentarem, promoverem o bobsled, e explicarem que falavam sério em relação a levar a Nigéria para as Olimpíadas de Inverno. Elas até exibiram o treinamento sem neve que fizeram com uma réplica do Maeflower.
Embora a história não convencional da equipe as tenha tornado figuras populares, as mulheres trabalharam arduamente para mostrar seu valor na pista de corrida.
Quando a Federação Internacional Bobsleigh e Skeleton* anunciou as equipes de qualificação para Pyeongchang, a Nigéria ficou em 45º lugar. Esta é uma conquista impressionante para a primeira temporada da equipe, com pouco mais de um ano de treinamento. Em comparação, a piloto da equipe dos EUA, Jamie Poser, se classificou em 49ª em sua primeira temporada como piloto em 2009, e acabou vencendo a medalha de bronze nas Olimpíadas de Sochi cinco anos depois.
Independente da classificação final da Equipe da Nigéria nas Olimpíadas, suas integrantes sentem que já ganharam.
“Este é o meu presente para o meu país”, disse Seun em entrevista à NBC. “O sucesso seria um legado que permitiria que outros reproduzissem o meu caminho.”
* site em inglês