Quinhentos dias de resiliência ucraniana

Homem ergue marreta para quebrar pedras em uma estrada (© Pierre Crom/Getty Images)
Um morador local quebra pedras na linha de frente a fim de consertar uma estrada em um bairro em 6 de janeiro em Kherson, Ucrânia (© Pierre Crom/Getty Images)

Há 500 dias, o povo ucraniano suporta ameaças de ferimentos e morte pela agressão ousada da Rússia.

A Rússia tem atacado impiedosamente residências, escolas, hospitais e shoppings enquanto tenta destruir importante infraestrutura de cidades grandes e pequenas.

“Enquanto Moscou tenta tirar a Ucrânia do mapa e privá-la de sua identidade e cultura singulares, o espírito do povo da Ucrânia permanece intacto”, declarou o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, em 8 de julho, marcando os 500 dias da invasão da Rússia de 24 de fevereiro de 2022.

Inspirando unidade

Com apoio mundial, o povo da Ucrânia continua defendendo e reconstruindo seu país. Eles estão tocando a vida normalmente desafiando o Kremlin, mostrando determinação e graça para viver livremente.

“Todos os dias, o povo da Ucrânia demonstra sua resiliência e unidade em ajudar uns aos outros a suportar os ataques implacáveis de Moscou”, disse Blinken.

Eis aqui uma amostra das histórias extraordinárias da resistência do povo ucraniano à agressão da Rússia.

Consertando a rede elétrica

Homem na caçamba de um elevador articulado remove galho de árvore de cabos de energia (© Andrew Kravchenko/AP)
Um trabalhador da empresa de fornecimento de eletricidade DTEK faz a manutenção em cabos de energia em Kiev, na Ucrânia, em dezembro de 2022 (© Andrew Kravchenko/AP)

A guerra tem transformado cidadãos comuns em heróis na Ucrânia, incluindo trabalhadores do setor de energia. Graças a seus esforços, o sistema energético da Ucrânia, após a invasão em grande escala, surgiu do primeiro inverno danificado, mas intacto*, apesar dos constantes ataques das forças russas.

“[Trabalhadores do setor de energia] sentem que o que temos enfrentado até agora somente nos fortalece e nos torna mais fortes”, afirmou Tetiana Balybiuk, diretora-geral adjunta de Investimentos da empresa de calefação central da cidade de Vinítsia, no início deste ano.

A comunidade internacional já prometeu bilhões de dólares para a recuperação da Ucrânia, inclusive esforços para reformular a rede de energia e modernizar sua infraestrutura crucial.

Realizando reparos em estradas e infraestrutura

Em muitos casos, trabalhadores da Ucrânia já reconstruíram pontes, estradas e prédios governamentais que os mísseis e drones da Rússia haviam atingido.

“Será que estamos cientes de que o que temos reconstruído poderá ser destruído novamente? Sim, mas é um risco que somos forçados a tomar”, disse a ministra adjunta da Infraestrutura, Oleksandra Azarkhina, ao The Guardian.

“E falando francamente, a reconstrução também é parte de nossa resistência*”, disse ela. 

Cuidando dos feridos

Uma mulher observa dois homens praticando caminhada com próteses e muletas (© Matthew Hatcher/Getty Images)
Funcionários da clínica Sem Limites tratam soldados e civis que perderam membros por causa da invasão da Rússia, conforme visto acima em 20 de junho em Kiev (© Matthew Hatcher/Getty Images)

A Rússia bombardeou centenas de hospitais na Ucrânia. Em muitos casos, a equipe médica continuou a tratar os pacientes, mesmo depois de os ataques militares da Rússia danificarem gravemente suas instalações.

Yuriy Kuznetsov, cirurgião especialista em trauma em Izyum, morava e realizava cirurgias no porão do hospital.

“Ficamos todos terrivelmente deprimidos ocasionalmente”, disse ele à Rádio Europa Livre/Rádio Liberdade. “Com cada pessoa salva, com cada vida salva, a confiança [de estar certo] por ter ficado aqui. (…) Estávamos convencidos de que não foi tudo em vão*.”

Arando os campos

Homem dirige semeadeira em um campo (© Andalou Agency/Getty Images)
Um homem dirige uma semeadeira de sementes de girassol em um campo na região de Kharkiv em 7 de maio (© Anadolu Agency/Getty Images)

Ihor Khabatiuk está entre os 12.700 agricultores em toda a Ucrânia que recebem assistência emergencial do governo dos EUA visando ajudar a manter suas propriedades rurais e se recuperar da destruição decorrente do bombardeio da Rússia.

Enquanto isso, uma iniciativa mediada pela Turquia e a ONU ajuda agricultores na Ucrânia a atravessar, por meio de navios, o bloqueio do Mar Negro pela Rússia para que seus produtos sejam entregues em todo o mundo. A Iniciativa Grãos do Mar Negro, criada pela ONU já movimentou com segurança mais de 32 milhões de toneladas de produtos agrícolas ucranianos desde julho passado.

Lecionando em salas de aula improvisadas

Alunos reunidos em bancos em uma sala estreita (© Gian Marco Benedetto/Agência Anadolu/Getty Images)
Estudantes em Kiev estudam em um abrigo em setembro de 2022 (© Gian Marco Benedetto/Agência Anadolu/Getty Images)

Oleksandr Pogoryelov está entre muitos professores que costumavam ensinar em salas de aula. Naquela época, as forças da Rússia destruíram sua escola, como milhares de outras que a Rússia reduziu a escombros. Uma dezena de estudantes foi à sua casa na região leste de Donetsk. “Um médico tem de tratar pacientes e um professor tem de lecionar para crianças*”, disse ele à Euronews.

A guerra na Rússia forçou muitos estudantes ucranianos a estudar em abrigos ou outras salas de aula improvisadas, como a casa de Pogoryelov. Mas muitos voltaram às salas de aula. Uma doação do Unicef ajudou uma escola de ensino médio em Velyki Mosty a se conectar à internet e manter as luzes acesas, “para que possamos continuar trabalhando**”, diz Iryna Pahutiak, diretora da escola.

Entregando a correspondência

Duas mulheres em pé e uma mulher sentada à mesa separando correspondências (© Sasha Maslov/The Washington Post/Getty Images)
Três funcionárias classificam a correspondência em uma agência temporária de serviços postais localizada em um hospital local depois que militares da Rússia bombardearam o prédio dos correios em Hulyaipole, Ucrânia, em 21 de junho (© Sasha Maslov/The Washington Post/Getty Images)

Desde o início da guerra, o serviço postal da Ucrânia e empresas privadas que prestam serviço postal continuaram a fazer entregas*, informou o Washington Post.

Além de entregar cartas, esses carteiros entregam pagamentos de aposentadoria, mantimentos e até remédios para os moradores. “Ainda há pessoas morando aqui, então devemos continuar trabalhando*”, disse Lyudmila Panchenko, 53.

Voluntariando para prestar auxílio

Homem empurra carrinho de mão cheio de entulho © Evgeniy Maloletka/AP)
Um voluntário empurra um carrinho de mão cheio de entulho enquanto retira os destroços de uma casa destruída pelo bombardeio da Rússia na vila de Novoselivka, perto de Chernihiv, Ucrânia, em agosto de 2022 (© Evgeniy Maloletka/AP)

Desde o início da guerra, jovens e idosos procuram maneiras de fazer sua parte a fim de proteger seu país e ajudar os soldados que os defendem na linha de frente.

Olena Grekova, que desenhava moda sofisticada antes da guerra, interveio com outros voluntários em Zaporijia com o objetivo de fazer coletes à prova de balas para soldados ucranianos. “Sinto que sou necessária aqui”, disse Olena à Associated Press.

E Tetiana Burianova, que organizava festas e viagens para jovens antes da guerra, hoje ajuda a organizar viagens para o Repair Together (Consertar juntos, em tradução livre), grupo de voluntários que vai a pequenas cidades para ajudar a limpar e reparar danos causados pelo bombardeio da Rússia.

“Estamos construindo uma nova Ucrânia”, disse ela ao The Guardian.

* site em inglês
** site em inglês e ucraniano