
A Marinha dos EUA anunciou recentemente que um dos seus navios será batizado em homenagem a Harvey Milk, o primeiro político abertamente gay a ocupar um cargo eletivo na Califórnia.
É o primeiro navio da Marinha dos EUA a homenagear um defensor dos direitos de lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros e intersexuais (LGBTI). Também representa um tipo de homecoming, homenagem a um homem cujo serviço na Marinha foi em grande parte desconhecido pelo público.
Milk serviu de 1951 a 1955 como mergulhador de águas profundas, a bordo do USS Kittiwake, navio de resgate submarino. Ele alcançou a patente de tenente, categoria júnior, antes de receber uma dispensa honrosa.

Mas seu ativismo moldou seu legado.
Por defender um tratamento justo à comunidade LGBTI e a outros grupos minoritários, Milk foi eleito para o Conselho de Supervisores de São Francisco em 1978. Ele foi assassinado no ano seguinte por um político rival, mas continua a ser um símbolo de coragem.
O secretário da Marinha, Ray Mabus, disse que o USNS Harvey Milk fará parte de uma classe de navios que levam o nome de personalidades famosas dos direitos civis.
Outros navios nessa categoria vão homenagear a abolicionista e ativista dos direitos da mulher Sojourner Truth, o ex-procurador-geral Robert F. Kennedy, o ex-juiz da Suprema Corte Earl Warren (que chefiou da Corte quando ela pôs fim à segregação racial nas escolas públicas dos EUA) e a ativista dos direitos da mulher Lucy Stone
Quem é homenageado, e por quê
Homenagear pessoas ilustres batizando navios com seus nomes segue determinadas regras nos EUA.
A Marinha, por exemplo, dá nome a navios por categorias*. Porta-aviões nucleares podem ser dedicados a presidentes, almirantes ou políticos, enquanto um cruzador de mísseis teleguiados pode receber o nome de um americano ilustre ou uma batalha famosa.
Monumentos em Washington são reservados para presidentes reverenciados (Washington, Jefferson, Lincoln) ou figuras imponentes, como Martin Luther King.

Aeroportos dos EUA, centros culturais e edifícios universitários normalmente recebem o nome de locais famosos, alunos ou doadores. O aeroporto John Wayne — em Orange County, na Califórnia — homenageia um ator que será eternamente associado com filmes de cowboy. O aeroporto Charles M. Schulz-Sonoma County, também na Califórnia, comemora o criador das tirinhas do “Peanuts”, que vivia nas proximidades.

Embora edifícios e aeroportos muitas vezes recebam o nome de heróis falecidos, as universidades, ocasionalmente, batizam edifícios com o nome de pessoas vivas que fazem grandes doações.
Hoje, muitos americanos debatem se monumentos dedicados aos generais da Guerra Civil dos EUA que lutaram pela Confederação devem ser desmantelados ou renomeados.
Mas homenagear pessoas famosas nem sempre é algo tão grave ou sensível.
O canal de tevê a cabo HLN relata* que o comediante americano Stephen Colbert uma vez pediu que seus fãs fraudassem uma votação da Nasa para batizar um cômodo na Estação Espacial Internacional escrevendo na lacuna o nome de Colbert em vez das quatro opções oferecidas pela Nasa (Serenity, Legacy, Earthrise e Venture) .
Embora a votação final tenha colocado Colbert no topo, a Nasa não levaria o resultado a sério. A agência espacial demonstrou seu próprio senso de humor apelidando uma das máquinas de exercício da estação espacial como Esteira de Resistência Externa com Suporte para Carga Operacional Combinada (Colbert, na sigla em inglês).
* site em inglês